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O CAOS ANUNCIADO NO DISTRITO
SANITÁRIO YANOMAMI (DSY)
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) - Brasil
Setembro de 2005
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05/09/2005 - Após
12 meses das mudanças introduzidas para atender
à “Nova Política de Saúde Indígena”
do governo Lula, a FUNASA gasta mais que o dobro,
em relação aos anos anteriores, para
conduzir de forma cada vez mais caótica o
atendimento no Distrito Sanitário Yanomami
(DSY).
A desorganização do DSY culminou com
a recente ameaça de paralisação
da assistência na Terra Indígena Yanomami
pelos funcionários contratados pelo convênio
FUB (Fundação Universidade de Brasília)/FUNASA,
que, após, 2 meses sem receber salários,
pretendiam não voltar à área
indígena caso a situação não
fosse normalizada. Enquanto a coordenação
regional da FUNASA responsabilizava a recente mudança
da Presidência do órgão pela
interrupção do repasse das parcelas
do convênio, a FUNASA em Brasília informava
que o problema estava nas prestações
de contas da conveniada sobre os recursos que já
foram transferidos. A crise finalmente parece ter
sido superada com a liberação emergencial
de mais uma parcela do convênio.
Além da gestão caótica pela
FUNASA, a análise dos números do convênio
com a FUB levantam questionamentos sobre os critérios
na aplicação dos seus recursos. Assinado
em meados de 2004, esse convênio dispõe
de um orçamento de R$ 10.900.000,00 sendo
que, deste total, são destinados R$ 9.100.00,00
para o pagamento de recursos humanos, o que significa
um aumento de 84 % neste ítem em relação
às despesas realizadas nos anos anteriores
no DSY, para o mesmo objetivo. O quadro de recursos
humanos para o atendimento no campo, coordenação,
logística e administração pulou
de cerca de 130 profissionais para um total de 190
funcionários, sendo que 70 deles não
trabalham no campo. Vale lembrar que as demais organizações
conveniadas que atuam hoje no DSY dispõem,
proporcionalmente à população
por elas atendida, da metade do que está
sendo destinado ao convênio FUNASA/FUB (custo
per capita).
Para um aumento tão expressivo nos gastos
com pessoal, em especial os de nível superior
lotados na coordenação do DSY, era
de se esperar um aumento na mesma escala na qualidade
da assistência e nos resultados para a população
Yanomami atendida. No entanto, o que se observa
é, ao contrario, uma queda de eficiência
e um desempenho considerado medíocre, regularmente
denunciado pelas lideranças indígenas
da região. A malária, que havia sido
controlada na área Yanomami até pouco
tempo atrás, voltou a ser epidêmica
em algumas comunidades Yanomami e já causou
vários óbitos este ano. Além
disso, Conselheiros indígenas do DSY têm
se queixado reiteradamente sobre uma crônica
deficiência no fornecimento de medicamentos
e outros insumos para o trabalho dos profissionais
de campo.
Além dos gastos desproporcionais com recursos
humanos, o gasto com transporte em taxi aéreo,
da sede (Boa Vista-RR) até os postos de saúde
da Terra Indígena Yanomami, sofreu também
um inexplicável aumento em 2005: o preço
de R$ 690,00/hora de vôo praticado no começo
deste ano passou para R$ 1.300,00/hora de vôo
na última licitação. Este escandaloso
aumento de quase 90 % pode ser explicado pela forma
em que ocorreu a “concorrência” no sistema
de pregão adotado pela FUNASA em Roraima.
Apesar da suposta “desistência” das demais
empresas que disputaram o leilão quando o
lance atingiu o valor de R$ 1.300,00/hora de vôo,
a empresa vencedora da licitação está
hoje repassando para as derrotadas uma parte dos
seus vôos na área Yanomami, caracterizando
a formação de cartel que é
de conhecimento geral no DSY. Tal situação,
não somente onera indevidamente os cofres
públicos mas também coloca os profissionais
de saúde do DSY a mercê de uma situação
de segurança extremamente precária.
Em gestões anteriores do DSY a FUNASA evitava
a constituição deste tipo de cartel
pela empresas locais de táxi aéreo
através de ampla divulgação
das licitações fora de Roraima. Hoje,
sem esta precaução, a FUNASA - maior
cliente de Roraima com cerca de 400 horas de vôo
por mês - paga suas horas de vôo mais
caro do que qualquer outra instituição
local e até mesmo que pessoas físicas
fretando vôos avulsos.
Frente à situação cada vez
mais caótica do atendimento em saúde
na Terra Indígena Yanomami, apesar de gastos
cada vez mais exorbitantes, a URIHI acha ser sua
responsabilidade alertar a opinião pública
sobre a situação preocupante do DSY
antes que o quadro de saúde dos Yanomami
volta às manchetes dos jornais nacionais
e internacionais.
Com a “reforma” improvisada da saúde indígena
de 2003-2004 pelo governo federal, a gestão
dos recursos da saúde indígena de
Roraima passou a sofrer forte influência de
forças políticas locais notoriamente
anti-indígenas e rotineiramente envolvidas
com denúncias de irregularidades. Os recursos
do DSY viraram moeda de troca no jogo político
viciado praticado com desenvoltura pela atual administração
federal e seus aliados locais, com a complacência
da coordenação atual do DSY. Esta
situação já está trazendo
novamente grandes prejuízos tanto para a
população indígena quanto para
o erário público.
A URIHI acredita que, com a intensificação
da mobilização do movimento indígena
para a próxima Conferência Nacional
de Saúde Indígena, seja possível
forçar o governo Lula a cumprir as suas promessas
de campanha. A criação de uma Secretaria
Especial do Ministério da Saúde, com
um quadro técnico renovado por concurso público,
é um dos primeiros passos para livrar a gestão
da saúde indígena das influências
políticas encasteladas na FUNASA contrárias
aos interesses dos índios.
Fonte: Comissão Pro-Yanomami
(www.proyanomami.org.br)
Assessoria de imprensa (Urihi Saúde Yanomami)