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O PASSADO DO RODOANEL E
O FUTURO DOS MANANCIAIS EM SP
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Setembro de 2005
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06/09/2005 - ISA
e Secretaria do Verde e Meio Ambiente de São
Paulo divulgam estudo com recomendações
para melhorar a avaliação dos impactos
e medidas de compensação ambiental
previstas para o trecho sul do anel viário,
que atravessará áreas de mananciais
no município.
A pressão
urbana sobre o trecho sul do Rodoanel, atualmente
em fase de licenciamento ambiental, aliada a problemas
de implantação dos programas de compensação
ambiental - como os verificados na alça oeste
da rodovia, em operação desde 2002
-, pode resultar em custos adicionais e impactos
socioambientais além dos esperados para os
mananciais da parte sul da Região Metropolitana
de São Paulo (RMSP). Em outras palavras,
o passado (ou passivo) do Rodoanel permite um prognóstico
sombrio para o futuro dos mananciais de São
Paulo, caso não sejam realizados ajustes
e melhorias nos estudos e propostas em análise
pela Secretaria de Meio Ambiente do estado.
Essas são
algumas das conclusões do relatório
"Subsídios técnicos para a elaboração
do parecer sobre Impactos Ambientais e Medidas Mitigadoras
e Compensatórias do Trecho Sul do Rodoanel
Mário Covas" finalizado em julho pelo
Instituto Socioambiental em parceria com a Secretaria
Municipal do Verde e Meio Ambiente de São
Paulo (SVMA).
O trecho sul do anel
viário, principal obra do governo paulista,
cortará as áreas dos principais mananciais
da capital, já bastante comprometidas em
função da ocupação desordenada
ocorrida nas últimas décadas em torno
das represas Billings e Guarapiranga. Estes mananciais
são utilizados para o abastecimento de cerca
de 4 milhões de habitantes da RMSP. A presença
da estrada na região será enorme:
apenas no município de São Paulo,
a área de influência da obra - adotada
pela Dersa para avaliar os impactos ambientais na
região - equivale a 4% da área total
do município, e inclui parte das subprefeituras
da Capela do Socorro (distrito do Grajaú),
de Parelheiros e do M´Boi Mirim (distrito
do Jd. Ângela).
Pressão
sobre mananciais
O relatório
produzido pelos técnicos da prefeitura em
parceria com o ISA apresenta uma análise
das alterações promovidas pelo trecho
oeste da rodovia, e das ações de compensação
e mitigação ambientais feitas naquela
região pela Dersa, para dimensionar os efeitos
que a estrada pode trazer para a parte sul da RMSP.
O paralelo entre a presença do Rodoanel na
parte oeste da metrópole e sua construção
sobre os mananciais existentes ao sul foi feito
tendo como base um estudo preliminar desenvolvido
pelo Laboratório de Habitação
e Assentamentos Humanos da Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo da Universidade de São Paulo.
O estudo da FAU/USP afirma, em resumo, que a rodovia
em funcionamento há 3 anos catalisou novos
negócios em seu entorno - como empresas que
se instalaram próximas a seus entroncamentos,
alterando as dinâmicas de crescimento daquela
região.
Também aponta
que novos assentamentos humanos foram criados em
torno dos acessos à estrada, que as ocupações
informais ao longo da rodovia cresceram e se adensaram
e que favelas surgiram a partir de remoções
e reassentamentos promovidos pela obra. Destaca
a ocupação inclusive de trechos da
faixa de domínio da rodovia pela favela Jardim
Rodoanel, localizada no município de Osasco,
na altura do quilômetro 24 da pista externa.
Com os dados do estudo
da FAU/USP, o relatório do ISA e SVMA defende
que a similaridade entre o perfil das ocupações
e o contexto de expansão urbana das duas
áreas permitem supor que, caso medidas efetivas
de controle do uso do solo e de fiscalização
não sejam adotadas, os fenômenos urbanos
em andamento na região oeste – como, por
exemplo, adensamento dos núcleos pré-existentes
e pressão por novos acessos - poderão
se dar com maior intensidade no trecho sul.
O relatório
também manifesta a preocupação
com a capacidade de fiscalização do
poder público sobre acessos irregulares que
poderão ser criados próximos aos núcleos
habitacionais existentes - como o ocorrido no trecho
oeste, onde foram identificados cerca de 10 acessos
irregulares ao longo de seus 32 quilômetros.
Com a construção da alça sul,
a extensão a ser fiscalizada passará
de 32 para 89 quilômetros, e o número
de núcleos habitacionais já existentes
aumentará de 22 para mais de 90.
Medidas compensatórias
e mitigatórias
Para avaliar e propor
melhorias nas propostas de mitigação
e compensação a serem implantadas
no município com a construção
do trecho sul, foram analisadas as ações
realizadas no trecho oeste, com enfoque na ações
de recuperação, gestão, fiscalização
do uso e ocupação do solo e interferências
com a malha urbana cortada pela nova rodovi . Isto
porque alguns programas são bastante semelhantes,
e a experiência do trecho em funcionamento
deve servir de indicador para a melhoria das ações
a serem implantadas.
A avaliação,
baseada em documentos oficiais e vistorias in loco,
demonstra que ações de reflorestamento
não foram cumpridas à contento e depósitos
de resíduos sólidos permanecem expostos
às margens da rodovia. Também foram
encontrados na faixa de domínio da estrada
deslizamentos de terra, acúmulo de entulho,
ocupações irregulares, córregos
em processo de assoreamento, aterramento de nascentes
e acessos para pedestres e veículos irregulares.
"Estrada
Parque"
Entre as medidas
previstas para o trecho sul, e que encontram ações
semelhantes no oeste, está o programa de
recomposição florestal. No trecho
em funcionamento, previa-se a recomposição
de 100 hectares de mata, que é uma quantidade
superior à desmatada pela obra. (40 hectares).
Na prática, no entanto, esta medida não
aconteceu em sua plenitude e, em 2005, o reflorestamento
ao longo da rodovia não aconteceu, seja pela
inexistência de recursos suficientes para
desapropriação, seja pela inexistência
de áreas para o plantio.
O levantamento feito
pelo ISA e pela SVMA destaca que a área a
ser afetada por desmatamentos no trecho sul é
12 vezes maior que no oeste, e o plantio previsto,
10 vezes. "À luz das dificuldades encontradas
no trecho oeste, é importante ressaltar a
semelhança entre as medidas propostas no
programa de plantios do trecho sul, e apontar recomendações
para sua revisão, de forma a evitar que impactos
diretos sobre os mananciais", recomenda o texto.
O relatório
ainda apresenta um levantamento do uso do solo na
Área de Influência Direta do Rodoanel
nas bacias da Billings e Guarapiranga, dimensiona
o desmatamento total e parcial do município
de São Paulo provocado pela construção
da rodovia e avalia a criação de Unidades
de Conservação próximas ao
traçado da via, além de propor a transformação
da própria rodovia em "Estrada Parque",
com a definição de uma faixa de 300
metros ao longo das pistas, interligando as UCs
da região.
Fonte: Instituto Socioambiental
(www.isa.org.br)
Assessoria de imprensa