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PROJETO SERVE AOS INTERESSES
DA INDÚSTRIA MADEIREIRA, DIZ PESQUISADOR
DO INPA
Panorama
Ambiental
Manaus (AM) – Brasil
Setembro de 2005
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09/09/2005 – O engenheiro
florestal Niro Higuchi, pesquisador do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa),
afirma que o Ministério do Meio Ambiente
(MMA) criou o projeto de Lei (PL) 4.776, que trata
da gestão de florestas públicas, para
atender à pressão internacional da
indústria de madeira certificada.
"As reservas
de madeira tropical do oeste africano, do sudeste
da Ásia e da América Central estão
se esgotando, então os empresários
florestais europeus e chineses se voltam para a
Amazônia. Há 25 anos, quando cheguei,
era difícil concorrer com a produção
do sudeste asiático. A madeira amazônica
era considerada pesada, escura e difícil
de manejar, por causa da diversidade de espécies
na floresta. O que mudou?", questionou.
Para Higuchi, a concessão
de florestas públicas a particulares, prevista
no projeto, trouxe conseqüências desastrosas
nos países em que foi adotada. "Serra
Leoa, Nigéria, Uganda, Gama, Tailândia,
Filipinas, Malásia, Indonésia, Vietnã,
Laos. A lista é grande e não há
exemplo de qualidade de vida. Em todos, a população
local continua pobre e, o que é pior, agora
sem a floresta."
Historicamente, segundo
o professor do departamento de Física da
Universidade Federal do Amazonas Marcílio
Freitas, as políticas governamentais para
a região têm sido desastrosas. "Há
uma constante tensão entre a Nação
e a Amazônia", diz Freitas. "Para
as populações endógenas [locais],
a floresta não é só um conjunto
de madeira, as árvores falam. E esse aspecto
simbólico –cultural – não foi levado
em consideração."
Freitas informa ainda
que há cerca de 250 espécies vegetais
por hectare (10 mil metros quadrados) de floresta.
"É uma diversidade biológica
que o reflorestamento não conseguirá
recompor", argumenta. "Nossos estudos
mostram que as árvores retiradas na região
de Manaus têm entre 200 e 1.400 anos de idade.
Não é difícil imaginar que
a floresta tenha pelo menos 1.500 anos. Estamos
destruindo algo que ainda nem conhecemos",
completou Higuchi.
O MMA estima que
em dez anos a concessão de florestas públicas
atingirá uma área máxima de
13 milhões de hectares (cerca de 3% da Amazônia
Legal), com receita anual direta (pagamento pelo
uso do recurso florestal) de R$ 187 milhões
e arrecadação de impostos da cadeia
de produção da ordem de R$ 1,9 bilhões
anuais.
"Esses números
não levam em consideração os
gastos que os governos, federal, estadual e municipal
terão com infra-estrutura, com atendimento
das necessidades básicas das populações
que serão atraídas para a Amazônia",
apontou Freitas. "O projeto se diz sustentável
do ponto de vista ambiental e social. Mas o mercado
é sustentável? Como equacionar essa
contradição?"
"Os principais
argumentos dos defensores do projeto é que
ele vai inibir o desmatamento, a produção
ilegal de madeira e a grilagem de terras. Mas já
há leis específicas para combater
esses crimes. Se elas não funcionam, por
que uma nova lei funcionaria?", apontou Higuchi.
Fonte: Agência Brasil –
Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Thaís Brianezi