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QUILOMBO DE IVAPORUNDUVA
DRIBLA ATRAVESSADORES NA VENDA DE BANANA
ORGÂNICA
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Setembro de 2005
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06/09/2005 - Comunidade
tradicional do Vale do Ribeira fecha parceria para
abastecer banco de alimentos da prefeitura de Campinas
(SP) com produto de valor agregado. O negócio
evita que os bananicultores dependam de intermediários
para escoar mercadoria e possibilita o aumento da
renda das famílias quilombolas
No final de agosto
a comunidade do quilombo de Ivaporunduva, no Vale
do Ribeira, sul do estado de São Paulo, fechou
um bom negócio. Vendeu quatro toneladas de
banana orgânica para a Companhia Nacional
de Abastecimento (Conab). A mercadoria foi entregue
no dia 22 do mês passado para o Ceasa de Campinas,
que administra o banco de alimentos da prefeitura
do município, que tem parceria com a Conab.
A previsão é que, até o final
do ano, outras 44 toneladas de banana orgânica
sejam entregues ao banco. Mais do que a quantidade
de fruta vendida, o bom do negócio é
que ele foi feito diretamente pela Associação
Quilombo de Ivaporunduva, sem a participação
dos atravessadores.
Desde que a produção
da banana se tornou a principal atividade econômica
do quilombo – e uma das maiores de todo o Vale do
Ribeira, em meados do século passado -, os
intermediários se notabilizaram em realizar
negociações injustas e em dar prejuízo
aos produtores locais, ao monopolizar o escoamento
das produções para os centros consumidores,
principalmente São Paulo. Para se ter uma
idéia, a venda da banana orgânica para
o banco de alimentos deve aumentar em até
três vezes a margem de lucro dos produtores,
em comparação ao valor obtido com
a participação de atravessadores.
A produção
da banana envolve praticamente todas as setenta
famílias da comunidade de Ivaporunduva, formada
por remanescentes de escravos fugidos ou de ex-escravos.
Trinta e cinco delas estão investindo na
alternativa orgânica da fruta, agregando valor
ambiental ao produto. Foram estas famílias
que afastaram os intermediários por meio
de um programa do governo federal chamado Compra
Antecipada da Agricultura Familiar (CAEF). O programa
permite que a produção agrícola
de produtores familiares tenha a sua compra viabilizada,
de forma antecipada, pela Conab que, por sua vez,
repassa os alimentos para instituições
filantrópicas cadastradas. No caso das bananas
orgânicas de Ivaporunduva, o banco de alimentos
de Campinas encaminhou as bananas para 51 entidades
da região de Campinas que trabalham com crianças
carentes, creches e hospitais.
Produto com
valor agregado – e inserido no mercado
A comercialização
se deve à parceria entre a Associação
Quilombo de Ivaporunduva e o Instituto Socioambiental
(ISA), firmada em 2001. À época, a
parceria visava implementar ações
voltadas ao desenvolvimento socioeconômico,
conservação ambiental e melhoria da
qualidade de vida da comunidade. Os produtores de
banana do quiloimbo enfrentavam um grande desafio
para atingir a sustentabilidade econômica
de sua atividade: como inserir a banana em melhores
mercados, em especial o de produtos orgânicos,
valorizando os aspectos ambientais e culturais agregados
e propiciando-lhes melhores rendimentos?
Com o apoio financeiro
do Subprograma Projetos Demonstrativos (PDA-PPG7),
do Ministério do Meio Ambiente, a parceria
também possibilitou que, nos últimos
anos, diversos avanços ocorressem em Ivaporunduva
para a melhoria das condições de trabalho
dos quilombolas, como a aquisição
da infra-estrutura necessária para o transporte
da produção, organização
do grupo de agricultores para a comercialização
de forma conjunta e a certificação
orgânica da banana produzida pelos quilombolas,
realizada pelo Instituto Biodinâmico (IBD).
Benefício
nas duas pontas
A venda direta do
quilombo para o banco de alimentos beneficia os
dois lados da cadeia. Numa ponta, permite o escoamento
da produção de banana a preços
justos, possibilitando aumento de renda ao grupo
de produtores quilombolas - pequenos agricultores,
historicamente excluídos do mercado formal
brasileiro. Do outro lado, o projeto atende entidades
assistenciais e escolares, incluídas no programa
de abastecimento e segurança alimentar da
prefeitura de Campinas.
Dessa forma, os produtos
de Ivaporunduva têm como consumidores famílias
de baixa renda, em situação de vulnerabilidade
social e insegurança alimentar. A nutricionista
Sandra Maidel, do banco de alimentos de Campinas,
afirma que as entidades atendidas raramente recebem
frutas de qualidade. “As pessoas gostaram muito
da qualidade da banana, disseram que é melhor
do que a das vendidas nos supermercados”, diz.
A Fundação
Instituto de Terras de São Paulo (Itesp),
órgão que atua junto às comunidades
quilombolas do Vale do Ribeira, também teve
importante papel e parceria no projeto. Foi responsável
pela emissão da Declaração
de Aptidão ao Pronaf (Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar), o que permitiu
aos produtores quilombolas formalizar o projeto
junto à Conab. O objetivo agora é
envolver outros produtores quilombolas e entidades
incluídas no banco de alimentos de Campinas
que, nesta primeira etapa, não puderam ser
contempladas neste processo. Além disso,
espera-se que o projeto possa ter continuidade em
2006.
Fonte: Instituto Socioambiental
(www.isa.org.br)
Assessoria de imprensa