15/09/2005 - Medidas
resultam do pacote ambiental lançado pelo
governo federal, em fevereiro, em resposta aos assassinatos
de várias lideranças sindicais e trabalhadores
rurais no Pará, sobretudo à morte
da freira missionária Doroty Stang. A maior
parte das UCs anunciadas agora são consequência
da “limitação administrativa provisória”
de mais de 8 milhões de hectares na área
de influência da BR-163. Mosaico da Terra
do Meio permanece incompleto.
A maior parte
das UCs anunciadas agora são resultado desta
última medida. Nesta sexta-feira, dia 16
de setembro, às 16h, em Belém, começa
uma série de consultas públicas no
Estado sobre a criação das áreas.
As outras consultas ocorrem no dia 20, em Novo Progresso,
às 9 h, na Igreja Matriz Santa Luzia; no
dia 22, em Itaituba, às 9 h, na Área
de Lazer dos Cabos e Soldados; e no dia 23, ás
14 h, no auditório da prefeitura de Jacareacanga.
O governo resolveu deixar de fora deste novo
pacote de medidas a criação da Área
de Proteção Ambiental (APA) da BR-163,
que se estenderia numa faixa ao longo da rodovia,
desde a Reserva Biológica da Serra do Cachimbo,
ao sul, na divisa com o Mato Grosso, até
o Parque Nacional (ou Estadual) do Jamanxim, ao
norte. “Segundo o acordo feito entre o Ministério
do Meio Ambiente (MMA) e o governo paraense, esta
discussão será encaminhada futuramente”,
conta Maurício Mercadante, diretor do Programa
Nacional de Áreas Protegidas do MMA. Ele
explica que a insistência em criar a APA,
neste momento, poderia dificultar as negociações
que resultaram na criação das UCs.
A região comporta uma intensa atividade
econômica, centralizada no município
de Novo Progresso, local onde ocorreram, no início
deste ano, uma série de protestos de produtores
rurais e madeireiros motivados por medidas de
regularização fundiária do
governo federal e que interromperam o tráfego
de veículos na BR-163 por vários
dias (saiba mais).
Mercadante explica também que as únicas
áreas de proteção integral
que deverão ser criadas nas próximas
semanas pelo governo federal – os parques do Jamanxim
e do Rio Novo – terão a função
de corredores ecológicos. O primeiro, ao
norte, vai estabelecer uma ligação
do conjunto de áreas protegidas da Terra
do Meio com as UCs propostas agora e o segundo,
ao sul, fecha o polígono destas UCs, criando
um mosaico próprio de áreas protegidas
na margem oeste da rodovia BR-163. Todas as outras
UCs anunciadas, a APA do Tapajós e as Florestas
Nacionais (ou Estaduais), são de uso sustentável,
ou seja, nelas são permitidas o manejo
florestal e o extrativismo, por exemplo. Mercadante
avisa que a proposta do governo federal, prevendo,
inclusive, a existência de uma Reserva Garimpeira,
respeita as atividades econômicas legalizadas
já em curso na região.
Segundo estimativas do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe), pelo menos no ano
passado, a criação de áreas
protegidas e a interdição da região
da BR-163 teriam contribuído para a diminuição
do desmatamento na Amazônia. De acordo com
os dados do Sistema de Detecção
em Tempo Real (Deter) do Inpe divulgados no final
de agosto, nas áreas abrangidas por UCs
federais, os índices de desmates teriam
caído 84%, para o período que vai
do final de agosto de 2004 ao final de julho de
2005. O corte indiscriminado de árvores
teria diminuído 90% na região da
Estação Ecológica (Esec)
da Terra do Meio e 91% na área interditada
ao longo da rodovia Cuiabá-Santarém,
para aquele mesmo período (para saber mais,
clique aqui).
O governo Lula criou até agora mais de
8,913 milhões de hectares em UCs federais
em todo o País, o equivalente a 21,6% do
total. Em oito anos, segundo informações
do MMA, a administração Fernando
Henrique Cardoso teria criado mais de 9,455 milhões
de hectares (24,1%). O ministério e o governo
paraense ainda estão discutindo sob qual
jurisdição, se federal ou estadual,
ficará cada uma das novas áreas,
fora a Floresta Estadual do Iriri. Após
esta definição, o governo Lula pode
chegar ao fim ostentando o título de campeão
da criação de hectares protegidos
por UCs.
Mosaico da Terra do Meio continua incompleto
A criação de novas UCs na Terra do
Meio, localizada bem no centro do Pará, vem
sendo aguardada com ansiedade pelo movimento socioambientalista.
A região abriga áreas ainda bem conservadas
e de grande biodiversidade. Apesar disso, lá
também está localizada uma das frentes
mais dinâmicas de desmatamento e de grilagem
de terras da Amazônia. A região é
palco de um intenso conflito fundiário que
opõe grandes fazendeiros, grileiros e madeireiras
irregulares, de um lado, e famílias de ribeirinhos
e extrativistas, de outro (leia mais). Recentemente,
a Justiça Federal interditou na região
aquela que pode ser a maior área grilada
do País, segundo denúncia do Ministério
Público Federal(veja também). A intenção
do governo ao criar UCs é justamente tentar
impedir a ação dos comerciantes ilegais
de terras e regularizar a situação
das comunidades tradicionais locais.
Divulgação
 |
No
pacote de fevereiro, foram criados a Esec
da Terra do Meio, a maior do planeta, com
3,3 milhões de hectares, e, contígua
a ela, ao sul, o Parque Nacional da Serra
do Pardo, com 445 mil hectares. Em novembro
de 2004, já havia sido criada a Reserva
Extrativista (Resex) Riozinho do Anfrísio,
com cerca de 736 mil hectares (confira).
As UCs formam um mosaico de áreas
protegidas que foi proposto em um estudo
realizado, em 2002, pelo ISA, sob encomenda
do MMA. O trabalho revelou que a região,
além de ser uma das menos conhecidas
do País, é também uma
das menos povoadas e apresenta cerca de
98% de seu território bem preservado.
No total, até agora, foram criados
na Terra do Meio cerca de 4,4 milhões
de hectares em UCs. O governo está
finalizando o processo de criação
de mais duas Resex no local: do Xingu, com
301 mil hectares, e do Iriri, com aproximadamente
396 mil hectares, ambas na altura do município
de Altamira. Em junho, o Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama), o MMA, o governo
paraense, o Ministério Público
Estadual, a prefeitura de Altamira, a Comissão
Pastoral da Terra (CPT) e a Fundação
Viver Produzir e Preservar (FVPP) realizaram
uma expedição ao longo do
rio Iriri para cadastrar as famílias
da região, emitir documentos civis
para os moradores e realizar atendimentos
de saúde. |
Em outubro, deve começar uma expedição
semelhante na região da futura Resex do Xingu.
Restaria ainda ser criada uma APA estadual, com
1,7 milhão de hectares, ao sul do Parque
Nacional da Serra do Pardo.
“O fato de o governo ter criado essas áreas
contribuiu imensamente para coibir ações
de grilagem de terras e a exploração
madeireira ilegal, mas ainda há muito a fazer
no que se refere à consolidação
das UCs já criadas e em fase de criação”,
avalia Cristina Velásquez, assessora do Programa
de Política e Direito Socioambiental (PPDS),
do ISA. Ela lembra que é fundamental, além
da instituição formal das UCs, um
conjunto de políticas locais e regionais
que possam garantir a sua efetiva implantação
e que incluam ações de esclarecimento
da população local e operações
de fiscalização. “Alguns fazendeiros
têm se valido da demora na efetivação
dessas ações para amedrontar e expulsar
famílias, causando um clima de tensão
e revolta”.
"O preço da terra já baixou
e a ação de grileiros e madeireiros
está diminuindo. Isto é cosequência
da criação das UCs", concorda
Tarcísio Feitosa, coordenador do projeto
Terra do Meio, da CPT. Ele adverte, no entanto,
que o governo precisa ouvir as comunidades locais
antes de propôr qualquer coisa. "Não
dá para criar novas áreas com base
apenas em imagens de satélites. No caso
da Floresta Estadual do Iriri, as famílias
que moram lá são de agricultores.
Eles queriam que fosse criado ali um tipo de UC
mais adequado a esta realidade, como as Reservas
de Desenvolvimento Sustentável (RDS)".
As Florestas Nacionais ou Estaduais formam uma
categoria de UC que autoriza o manejo florestal,
mas não a agricultura. Feitosa diz que
as famílias que moram na região
não têm nenhuma informação
sobre a criação da Floresta do Iriri
ou sobre as consultas públicas.
Cristina Velásquez lembra ainda que a
complementação do mosaico da Terra
do Meio com os trechos de território restantes
que ainda devem ser protegidos poderá significar
a constituição de um outro grande
mosaico contínuo de áreas protegidas,
estendendo-se por quase toda a Bacia do rio Xingu,
desde o Parque Indígena do Xingu, no norte
do Mato Grosso, passando pelas Terras Indígenas
(TIs) Capoto-Jarina, Menkragnoti e Kayapó,
no sul do Pará, até o arco de TIs
ao norte da Terra do Meio (Arara, Kararô,
Koatinerno, Trincheira/Bacajá etc). “Estamos
falando daquilo que pode vir a ser o maior mosaico
de áreas protegidas do Brasil e talvez
do mundo, com cerca de 26 milhões de hectares,
identificados como de altíssima prioridade
para conservação da biodiversidade”.
O que significa um grande desafio para o governo
em relação à gestão
integrada de TIs e UCs. “Será preciso conciliar
mecanismos de participação social
e estratégias de proteção
dessas áreas. Além disso, esse grande
mosaico fortalece a idéia de que as TIs
desempenham um papel fundamental na conservação
da biodiversidade amazônica”.
O governo diz que está investindo na implantação
das UCs. Em julho, o Ibama iniciou uma série
de operações de fiscalização
na Terra do Meio com o apoio da Polícia
Federal e do Exército que devem estender-se
até meados de outubro. Como resultado da
ofensiva, já teriam sido lavrados R$ 50
milhões em multas por desmatamentos ilegais.
Além disso, o fazendeiro José Dias
Pereira foi preso acusado de desmatar uma área
de mais de 6,8 mil hectares dentro da Esec e derrubar
e queimar cerca de 2 milhões de árvores.
Pereira, que continua detido em Santarém,
a 710 quilômetros de Belém, foi multado
em R$ 20 milhões. No ano passado, ele já
havia sido autuado em R$ 3 milhões por
desmatar e queimar 2 mil hectares de floresta.
No total, em um ano, o produtor rural foi responsável
pela destruição de uma área
equivalente a 10 mil campos de futebol.
No último dia 12 de julho, foi criado
na Assembléia Legislativa paraense um Grupo
de Trabalho (GT) para combater a grilagem de terras
com participação do governo estadual,
do Ministério Público Estadual,
da Seção do Pará da Ordem
dos Advogados do Brasil, da Polícia Federal,
da CPT, da Federação dos Trabalhadores
da Indústria da Construção
(Fetracompa) e de representantes das comunidades
do interior paraense. O grupo deverá elaborar
indicadores sobre a situação fundiária
no Estado.
Unidades
de Conservação (UCs) propostas
pelo governo federal
|
Nome_uc |
Alap |
Grupo |
Hectares |
PROTEÇÃO Integral |
|
|
1.577.231 |
Parque Nacional/Estadual Rio Novo |
s |
PI |
532.949 |
Parque Nacional/Estadual Jamanxim |
s |
PI |
870.949 |
Ampl.PARNA da Amazônia |
|
PI |
173.333 |
Uso Sustentável |
|
|
6.012.355 |
Floresta Nacional/Estadual Crepori |
s |
US |
746.193 |
Floresta Nacional/Estadual Jamanxim |
s |
US |
1.364.727 |
Floresta Nacional/Estadual Amaná |
s |
US |
548.095 |
Floresta Nacional/Estadual de Trairão |
s |
US |
490.010 |
APA Tapajós |
s |
US |
2.396.163 |
Floresta Estadual do Iriri |
|
US |
467.167 |