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SIDERÚRGICAS USAM
CARVÃO ILEGAL E NÃO FAZEM
REFLORESTAMENTO
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Setembro de 2005
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(16/09/2005) - A
Diretoria de Florestas do Ibama concluiu o relatório
sobre o uso de carvão por 12 siderúrgicas
em funcionamento no Pará e no Maranhão,
que beneficiam o minério de ferro extraído
do Pólo Carajás (PA). De acordo com
relatório, oito siderúrgicas utilizam
carvão de procedência ilegal, fazem
consumo maior que a demanda declarada e não
repõem a floresta. O carvão é
utilizado para aquecimento de fornos que derretem
o minério de ferro e para a fixação
de carbono no ferro gusa (formação
de liga).
Levantamento feito
entre os anos de 2000 e 2004 mostra que as siderúrgicas
do Pará (Marabá) deixaram de declarar
a origem de 5,3 milhões de metros cúbicos
de carvão e no Maranhão (Açailândia
e São Luís), 2,4 milhões. Um
total de 7,7 milhões de metros cúbicos
de carvão, 15,4 milhões de metros
cúbicos de toras de madeira, equivalente
à 140 mil caminhões (tipo trucado).
A estimativa do Ibama é que a ilegalidade
movimentou em cinco anos R$ 385 milhões.
"Estamos chamando
atenção da sociedade para o quinto
motor do desmatamento na Amazônia. Já
era histórico o desmatamento por grilagem
de terra, exploração de madeira para
movelaria, pecuária e monocultura agrícola,
agora temos a eliminação da floresta
por causa do carvão para os fornos das siderúrgicas",
aponta o presidente do Ibama, Marcus Barros.
"Esse trabalho
é inédito", enfatizou Antônio
Carlos Hummel, diretor de Florestas do Ibama. Ele
acredita ser "o passo inicial para o completo
ordenamento do setor siderúrgico". O
responsável pelo relatório, José
Humberto Chaves, coordenador de Monitoramento e
Controle Florestal, explicou que "o objetivo
do Ibama é proteger o meio ambiente e fazer
que a indústria seja auto-sustentável
e tenha o reflorestamento como principal medida
para isso".
Expansão -
De acordo com o relatório, o parque siderúrgico
do Pará e do Maranhão está
em franca expansão. Só em Marabá
a produção cresceu 28,9% em cinco
anos (de 1,1 tonelada para 1,6 tonelada por ano).
O documento explica
a expansão da produção: "motivados
pela proximidade com o Pólo Carajás
e pela grande oferta de matéria prima florestal
para a produção de carvão,
as empresas investem em melhorias no processo com
conseqüente aumento da capacidade produtiva
de ferro gusa [primeira etapa do beneficiamento
do ferro]".
"A ferrovia
Carajás oferece facilidades de escoamento
da produção para o mercado externo,
reduzindo os custos de transporte, uma vez que o
trem abastece as siderúrgicas com o minério
e volta carregado de gusa até o porto de
São Luís", assinala o texto.
Para a produção
do relatório, "nos baseamos nas informações
prestadas pelas próprias siderúrgicas",
sublinha Hummel. Segundo as empresas, as fontes
de suprimento de carvão no Pará e
no Maranhão provêem do babaçu,
reflorestamento, desmatamento autorizado, resíduo
de serraria e manejo de outros resíduos.
A necessidade de carvão para a produção
declarada é, no entanto, muito maior do que
o total reconhecido pelas empresas.
Números subestimados
- Trecho do relatório, sobre a exploração
do carvão no Pará faz analise desses
números subestimados e aponta tipo de fraude
verificada. "A partir do volume de resíduo
estimamos o volume de toras que deveria ter sido
processado pelas serrarias. Para tanto consideramos
a geração de 20% de resíduo
passível de ser transformado em carvão.
No exemplo do ano de 2004 seriam então necessários
22.171.947,80 m3 de toras para produzir o carvão
de resíduos informado para aquele ano. Segundo
dados do IBGE a produção nacional
de toras para serraria girou no mesmo ano em torno
de 26 milhões, sendo que o Pará, o
maior produtor de toras, teria contribuído
com cerca de 11 milhões. Se considerarmos
as serrarias da região próxima ao
pólo siderúrgico o volume é
ainda menor. Somente com essa análise reforça
a tese de que as ATPFs do resíduo estão
sendo utilizadas para acobertar carvão de
desmatamento, haja vista que naquela região
não existe toras em quantidade suficiente
para gerar o volume de resíduo declarado".
Conforme o relatório,
a extensão do desmatamento também
foi subestimada. "Seriam necessários,
no mínimo, de 550 mil hectares sendo explorados
naquela região para gerar o volume de resíduos
declarado no ano de 2004. De acordo com dados oficiais,
naquele mesmo ano, o Ibama autorizou a exploração
de cerca de 290 mil hectares, 264 mil hectares a
menos do que o necessário para gerar o volume
de toras declarado".
Multa - O Ibama estuda
a aplicação de penalidades às
empresas que podem variar, no Pará, de um
total de R$ 26,8 milhões (Código Florestal,
Decreto nº 1.282/94) até R$ 537 milhões
(Lei de Crimes Ambientais, Decreto nº 3.179/99);
e no Maranhão entre R$ 11,9 milhões
à R$ 339 milhões. Além da multa
o Código Florestal ainda determina a reposição
de 41.380,51 hectares de árvores no Pará;
e 18.455,56 hectares no Maranhão.
O Ibama visitou as
siderúrgicas instaladas em Marabá,
no período de 15 e 25/05/05; em Açailândia
e em São Luís, entre 07/06 e 02/07
deste ano. Em vistorias aleatórias de 2 dias
por siderúrgica, a equipe de engenheiros
florestais do Ibama constatou falhas das empresas
na inspeção do fornecimento de carvão,
recebimento de carga de caminhões sem a ATPF
(Autorização de Transporte de Produto
Florestal), erro no preenchimento desse documento
e uso de carvão de desmatamento sem plano
de manejo e autorização do Ibama.
"Em uma siderúrgica
vimos afixado na parede uma tabela do preço
do carvão com valores para compra de produto
com ATPF e sem a autorização",
conta José Humberto. O flagrante dessas irregularidades
totalizam nos dois estados mais R$ 1,5 milhão
em multas.
O relatório
faz algumas sugestões para o fim do desmatamento
ilegal e regularização do setor siderúrgico
do Maranhão e do Pará. A primeira
é a proposição de Termo de
Ajustamento de Conduta envolvendo os Ministérios
Públicos Federal e Estadual, para que as
empresas se comprometam junto ao Ibama a facilitar
inspeções industriais, a estabelecer
cronograma de plantio visando o auto-abastecimento,
a consumir carvão nativo com cobertura de
ATPF e de carvoarias licenciadas pelo estado, entre
outras.
O documento também
recomenda ao Ibama padronizar os procedimentos quanto
à emissão de ATPF para resíduos
de serraria; incluir a fiscalização
quanto ao uso de carvão no Plano de Combate
ao Desmatamento da Amazônia, cruzar os dados
das empresas com as informações disponíveis
nos escritórios regionais e gerências
executivas e realizar o mesmo tipo de levantamento
em outros pólos siderúrgicos do país.
"Ao cruzarmos
os dados das empresas com as informações
disponíveis nos escritórios regionais
e gerências executivas, os resultados podem
até piorar e outras siderúrgicas serem
incluídas", admite o diretor do Ibama,
Antônio Carlos Hummel.
De acordo com José
Humberto Chaves, no próximo mês o Ibama
realizará o mesmo levantamento no pólo
siderúrgico de Minas Gerais, que recebe carvão
oriundo da Bahia, Goiás, Tocantins e Mato
Grosso do Sul. "Vamos aperfeiçoar a
metodologia e esse trabalho será uma rotina
do Ibama", informa o coordenador de Monitoramento
e Controle Florestal.
Fonte: Ibama (www.ibama.gov.br)
Ascom (Gilberto Costa)