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AÇÕES DE
PROPRIETÁRIOS ESTÃO IMPEDINDO
CRIAÇÃO DE RESERVAS FLORESTAIS
NO SUL, DIZ PROCURADORA
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Setembro de 2005
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19/09/2005 – Ações
que tramitam na Justiça Federal do Paraná,
solicitadas por sindicatos e cooperativas rurais
em nome de proprietários de terra, têm
impossibilitado a criação de unidades
de conservação das florestas de araucárias
no Paraná e em Santa Catarina. Essa foi a
explicação dada, à Agência
Brasil, pela procuradora federal Lara Calafell Araújo.
A polêmica, segundo ela, gira em torno do
pagamento das indenizações aos proprietários
de terra.
Segundo a procuradora,
os produtores rurais alegam que poderão ser
prejudicados com a medida e reclamam da ausência
de informações – e debates – sobre
os impactos da criação dessas reservas.
O Tribunal Regional
Federal da 4ª Região em Porto Alegre
acatou as denúncias e suspendeu a criação
das unidades. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)
recorreu, mas desde o início de julho todos
os processos estão parados, e, de acordo
com a procuradora, o processo "leva anos tramitando
na justiça".
O Ibama justifica
que as propostas de criação dos parques
e reservas foram feitas com base em um amplo estudo
elaborado por uma força-tarefa do Grupo de
Trabalho Araucárias Sul, que reúne
técnicos do Ministério do Meio Ambiente
(MMA), do próprio instituto, de universidades
e de outros setores da sociedade.
A Rede de ONGs da
Mata Atlântica (RMA) – formada por cerca de
300 entidades em 17 estados brasileiros – tem feito
campanhas de mobilização pedindo o
apoio da população na criação
das unidades.
A coordenadora da
rede, Miriam Prochnow, conta que, em maio deste
ano, a ministra Marina Silva assumiu o compromisso
de agilizar a criação das unidades.
"Já estamos no mês de setembro
e isso ainda não foi concretizado. A floresta
de araucárias é o ecossistema mais
ameaçado da mata atlântica. Várias
denúncias e laudos, inclusive, estão
sendo emitidos por causa dos desmatamentos neste
ano, em junho e julho, no entorno e dentro das áreas
que deverão ser criadas", afirmou a
coordenadora. "Se nada for feito neste momento
corremos o risco de termos essas florestas extintas."
Para o secretário
de Biodiversidade e Florestas do Ministério
do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco,
a criação das unidades de conservação
vai gerar um impacto positivo em relação
à conservação das matas araucárias.
"Nós temos uma área muito pequena
remanescente protegida como reservas ambientais.
Temos cerca de 0,2% protegidas e com a criação
das novas unidades poderemos chegar perto de 1%.
É muito pouco, mas é um passo importante
para proteger pelo menos as áreas mais representativas",
disse. Capobianco afirmou que, assim que houver
um entendimento no campo judicial, as unidades serão
criadas.
De acordo com dados
da Secretaria do Meio Ambiente do Paraná,
o bioma mata atlântica é considerado
patrimônio nacional pela Constituição.
Originalmente cobria mais de 1,3 milhão de
quilômetros quadrados do território.
Hoje a mata está reduzida a 7,84% de sua
cobertura florestal original.
Segundo o chefe de
fiscalização do Ibama no Paraná
Hélio Sydol, restam no estado apenas 0,8%
da floresta de araucárias, que já
teve uma extensão de 73 mil quilômetros
quadrados. "O Ibama está monitorando
constantemente essas áreas, para evitar que
alguns produtores façam queimadas, derrubadas
de árvores ou plantio de outras espécies",
informou Sydol.
De acordo com o secretário
do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Luiz
Eduardo Cheida, o impacto sobre a produção
no estado é mínimo. Dos 96 mil hectares,
apenas 6 mil hectares são formados por áreas
produtivas e 48 mil hectares são áreas
públicas. Segundo Cheida, a criação
das cinco unidades de conservação
"não só é importante para
meio ambiente como é um fator de estímulo
à produção". O secretário
afirma que os agricultores não serão
prejudicados com a criação dessas
novas áreas e poderão continuar suas
atividades agrícola, pecuária ou madeireira
no entorno das unidades.
A partir de audiências
públicas, com dez reuniões em sete
municípios, definiu-se a criação
de cinco unidades no Paraná: Parque Nacional
dos Campos Gerais (23.000 hectares), Reserva Biológica
das Araucárias (16.078 hectares), Refúgio
da Vida Silvestre do Rio Tibagi (31.698 hectares),
Reserva Biológica das Perobas (11.000 hectares)
e Refúgio de Vida Silvestre dos Campos de
Palmas (16.445 hectares).
Em Santa Catarina,
foram planejadas mais três unidades: Estação
Ecológica da Mata Preta (9.006 hectares),
Parque Nacional das Araucárias (16.824 hectares),
Área de Proteção Ambiental
das Araucárias (419.218 hectares).
Fonte: Agência Brasil –
Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Bianca Paiva e Lúcia Nórcio