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BIODIESEL PODE CONTRIBUIR
PARA O EQUILÍBRIO INTERNACIONAL,
AVALIA CIENTISTA
Panorama
Ambiental
Fortaleza (CE) - Brasil
Setembro de 2005
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21/09/2005 – Na
terceira parte de sua entrevista exclusiva à
Agência Brasil, o engenheiro químico
cearense Expedito Parente, inventor do processo
de fabricação do biodiesel, conta
como e por que voltou a apostar na expansão
do biocombustível. Para ele, a produção
de biodiesel a partir da mamona no semi-árido
e de palmeiras na Amazônia pode transformar
o país em um parceiro da União Européia
no cenário de encarecimento progressivo do
petróleo e de comprometimento político
pela eliminação da poluição
atmosférica, assumido pelos países
ricos no Tratado de Quioto - assinado em 1997, no
Japão, trata-se de um compromisso mundial
pela redução da emissão dos
gases responsáveis pelo aquecimento da atmosfera,
o chamado "efeito estufa".
Agência Brasil
- Depois do período em que a idéia
ficou esquecida no país, como foi o retorno
do projeto do biodiesel?
Parente - Há
cinco anos, quando acabou a experiência de
produção de merenda escolar no Piauí,
eu voltei para Fortaleza para "ressuscitar"
o biodiesel a partir do sucesso que ele estava tendo
na Europa. Nós passamos a ver o biodiesel
dentro de uma feição diferente, considerando
suas externalidades e suas transversalidades. Nós
fizemos aprofundadas reflexões sobre o conceito
de biodiesel.
A primeira coisa
que mudou foi o nome, que era Prodiesel, por causa
do Proálcool. Passou a ser biodiesel, como
já estava sendo chamado na Europa. Mas a
grande mudança foi no foco. Nós começamos
por colocar no conceito o homem e a natureza. Então,
o biodiesel deixou de ser simplesmente um sucedâneo
do óleo diesel mineral e passou a ser algo
muito maior.
Passamos a ver o
biodiesel como instrumento de inclusão social
e de limpeza da natureza. Foi aí eu optei
pela mamona. É uma espécie vegetal
que dá em qualquer lugar, ela se presta para
o semi-árido e para a agricultura familiar.
Tem o poder de acabar com a miséria do Nordeste.
Essa é a proposta da Tecbio. Mas a idéia
não é só minha. Eu tive um
grande parceiro para isso, que foi o senador Alberto
Silva (PMDB-PI). Ele é um visionário.
ABr - Qual foi o
papel dele?
Parente - Ele me
provocou: é possível fazer biodiesel
de mamona? Aí nós começamos
a discutir. E dessa discussão acabou nascendo
a idéia da fábrica que nós
montamos lá em Floriano (PI), que o presidente
Lula inaugurou agora em agosto. É uma usina
que processa o óleo da mamona e transforma
em biodiesel. Claro que ainda não começou
a distribuição do biodiesel, mas,
a partir de 2008, será obrigatória
a adição de 2% de biodiesel ao óleo
diesel. Parece pouco percentualmente, mas, em quantidade,
é muita coisa. São pelo menos 800
milhões de litros por ano. Esse já
é um desafio inicial.
ABr - Nós
não corremos o risco de repetir o problema
do álcool, com a proliferação
de plantações imensas, latifúndios,
monocultura?
Parente - Em primeiro
lugar, o Programa Brasileiro de Biodiesel deve ser
alguma coisa dez vezes maior do que o Proalcool.
E eu vou lhe dar as razões, que eu já
mencionei: as externalidades e as transversalidades.
O biodiesel tem condições de empregar,
de gerar renda, de promover a limpeza ambiental,
porque não polui. Essas são as externalidades.
E as transversalidades são as seguintes:
em primeiro lugar, envolve o setor de alimentos,
porque toda oleaginosa, sem exceção,
é composta de duas porções:
a porção lipídica, que é
o óleo, e a porção protéica,
que resulta em alimentos. Produzir biodiesel implica
necessariamente em produzir alimentos.
Serve pra fazer ração,
que serve para criar frango, produzir ovos. Serve
para criar animais e produzir carne, leite. E também
se pode usar a torta (porção separada
do óleo, após o esmagamento) como
biofertilizante. Isso significa agricultura, frutas,
verduras. Ora, as duas maiores necessidades do mundo
são diesel e alimentos.
ABr - Por que o diesel?
Parente - Porque
o diesel é o combustível produtivo.
Os motores movidos a diesel produzem eletricidade,
movem tratores na agricultura, caminhões
no transporte de cargas, ônibus, trens, navios.
Não é como o álcool, que só
serve para veiculo de passeio. Esse é um
lado. Mas tem um outro, que é o lado internacional.
Das relações internacionais. De equilíbrio
internacional.
ABr - Como o biodiesel
se relaciona a esse equilíbrio internacional?
Parente - A Amazônia
tem cerca de 100 milhões de hectares de terras
em degradação, por causa do desmatamento.
São terrenos de solo raso, que se prestam
a culturas permanentes. Nós temos que fazer
ali um reflorestamento enérgico, com cultura
de palmáceas, evidentemente tendo o cuidado
de manter a floresta equilibrada ecologicamente.
Isso é feito mesclando as espécies
que são de lá mesmo. Nós já
testamos mais de cem oleaginosas da Amazônia
que podem produzir biodiesel.
ABr - É suficiente
para produzir muito mais do que o que o Brasil necessita,
não?
Parente - Esse reflorestamento
tem fôlego para abastecer toda a Europa em
combustível. Eu já disse a eles, este
ano, lá no parlamento alemão. Eles
estão muito interessados! O preço
do barril de petróleo vai continuar subindo.
E deve passar dos US$ 100 em 2006. Ora, isso danifica
a economia européia mais do que a americana.
Será que os europeus não sabem disso?
E não estão buscando alternativas?
O Brasil será o grande parceiro da União
Européia.
ABr - Eles então
consumiriam esse biodiesel produzido na Amazônia?
Parente - Sim. Recursos
para isso? Os fundos bilionários do Tratado
de Quioto! Uma vez produzido, o biodiesel pode ser
transportado pela calha do rio Amazonas até
a Europa. Isso é possível. É
viável.
ABr - Mas, esse seria
um megaprojeto, para grandes empresas. Como ficariam
os pequenos produtores?
Parente - O programa
tem que ter espaço para o grande e para o
pequeno. Se a gente não cuidar do pequeno,
o programa pode virar um programa de exclusão
social, como aconteceu com o Proalcool. Daí
a idéia do Biodiesel Municipal, que eu mencionei
antes. É um artifício político
e um arranjo produtivo para preservar as pequenas
unidades de produção de biodiesel.
É o conceito de um poço de petróleo
em cada município. É o petróleo
verde!
ABr - Algum município
já aderiu a esse programa?
Parente - Três
municípios em Goiás: Catalão,
Paraúna e Guaraíta vão começar
agora. Em Varginha (MG), já está funcionando
há dois anos. E aqui no Ceará já
existe um consórcio de municípios
que está se formando a partir de Maranguape.
ABr - O biocombustível
pode chegar a substituir o petróleo?
Parente - Plenamente.
Mas só até o dia em que a gente puder
colocar numa caixinha do tamanho desse gravador
toda a energia necessária para fazer funcionar
um carro ou uma casa. Mas isso ainda vai demorar
um pouco...
Fonte: Agência Brasil –
Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Olga Bardawil