|
“BRASIL ESTÁ CONDENADO
A SER A GRANDE POTÊNCIA ENERGÉTICA
DO MUNDO”, DIZ VIDAL
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) - Brasil
Setembro de 2005
|
 |
22/09/2005 – A matriz
energética brasileira vive ainda os efeitos
de um "desastre" produzido nos últimos
anos, avalia o físico José Walter
Bautista Vidal, criador do Programa Nacional do
Álcool. Ele cita como exemplos a internacionalização
das empresas elétricas, durante o governo
Fernando Henrique Cardoso, bem como os contratos
com a Bolívia para fornecimento de gás,
além do declínio do uso do álcool
como combustível de automóveis.
Na terceira parte
de sua entrevista exclusiva à Agência
Brasil, Bautista Vidal também profetiza:
o Brasil está destinado a se tornar a grande
potência energética do planeta, graças
à abundância de sol e água,
que propiciam a produção de combustíveis
a partir da biomassa.
ABr - Professor,
como o sr. avalia o quadro atual da matriz energética
brasileira?
Bautista Vidal -
A matriz energética brasileira está
um desastre. O que fizeram com o setor elétrico
até hoje não foi recomposto. Nós
temos o mais importante e mais limpo setor de produção
de eletricidade do mundo, a partir das hidrelétricas.
O governo Fernando Henrique Cardoso internacionalizou
80% das distribuidoras e 20% das geradoras. Aí,
deu o apagão e essas barbaridades todas,
e até agora o sistema elétrico não
se recompôs.
Chegamos a substituir
96% dos carros a gasolina por carros a álcool.
Recentemente, esse índice chegou a 1%. Esmagaram
o programa do álcool. Quase desapareceu a
produção do carro a álcool.
Se usa o álcool na mistura com a gasolina,
mas não no carro a álcool, que inclusive
é mais barato, é o álcool hidratado.
Depois, montaram
aquela barbaridade do gás na Bolívia,
em que o Brasil teve um prejuízo descomunal...
Agora, com as pressões internacionais e todo
mundo falando, o governo Lula começou a anunciar
um programa do biodiesel, absolutamente necessário,
porque senão você continua importando
petróleo.
ABr - Em quanto tempo
se calcula que vai haver o esgotamento do petróleo?
Bautista Vidal -
Olha, esse número não é fácil
de definir porque, se você pegar as reservas
existentes e a demanda mundial e dividir a reserva
pela demanda, daria pra vinte e poucos anos, quando
o mínimo seria 30 anos. Então, já
há um déficit mundial. Agora, o que
acontece é o seguinte: como as grandes potências,
Estados Unidos, Japão, Alemanha, todo mundo
depende do petróleo, as potências nucleares
querem reservar para si o petróleo que sobra,
que é pouco.
Por isso é
que estão invadindo o Iraque. Por isso é
que já anunciaram que vão invadir
o Irã. E aí, fica o petróleo
reservado pra eles, e os outros não vão
ter acesso. Claro, eles estão defendendo
o deles, não é? Eles têm poder
nuclear. Com essa condição, o Japão,
por exemplo, está desesperado. Se o exército
americano ocupa os poços de petróleo,
vão dar colher de chá ao japonês?
Vão dar colher de chá ao alemão?
Assim, essa estimativa
depende também da definição
de quem vai tomar conta do petróleo que sobra.
É claro que são as potências
nucleares. É claro que é o poder militar.
E aí não tem como dizer que vai durar
tantos anos. Vai durar como, se o americano está
tomando para ele? Então, pode faltar no próximo
ano.
E uma conseqüência
lógica: pouca oferta para muita demanda.
A demanda de petróleo no mundo aumentou com
a China, com a Índia, com o problema do clima,
que está mudando – está muito frio
no inverno, muito quente no verão. As pressões
pelo pouco petróleo que sobra aumentaram.
E o preço subiu. Já está em
mais de US$ 60 o preço do barril.
ABr - Esse alto preço
é um alerta?
Bautista Vidal -
É uma conseqüência natural. E
vai chegar a US$ 100 rapidamente. Isso vai criar
um problema mundial. Quer dizer, passamos em algumas
décadas de US$ 2 o barril, para US$ 61, e
agora vai a US$ 100, talvez ainda este ano. O embaixador
Rubens Ricupero, que estava dirigindo a Unctad (Conferência
das Nações Unidas para o Comércio
e o Desenvolvimento), tinha informações
de todo o mundo, previu que o barril do petróleo
ia chegar a US$ 100 rapidamente.
As economias vão
explodir. Como é que vão pagar US$
100 por um barril de petróleo? Um negócio
que custava US$ 20 há pouco tempo, chegou
a custar US$ 2... Por isso, essa sua pergunta é
muito difícil de responder.
Depende do posicionamento
das grandes potências ao pegar o petróleo
que sobra, e eles têm condições
de fazê-lo, com o poder militar. Então,
você pode querer comprar o petróleo,
e ninguém lhe vende, porque ele vai guardar
o petróleo para si, porque se trata de um
produto altamente estratégico. Um país
como o Brasil, que tem condições de
substituir o petróleo, como um todo, por
energia renovável e limpa, eterna – se é
renovável, é eterna –, pode correr
riscos muito grandes.
Nós temos
reservas razoáveis descobertas pela Petrobrás,
mas elas vão acabar rapidamente. Temos que
entrar na energia renovável, o mundo inteiro
está caminhando nessa direção.
O Fórum Mundial de Energia, que aconteceu
em Bonn, na Alemanha, no ano passado, decretou que
o futuro do mundo está nas energias renováveis
e limpas das regiões tropicais. Não
é mais petróleo, não é
mais carvão mineral, é renovável,
acabou. O Brasil está condenado a ser a grande
potência energética do mundo.
ABr - Por que o Brasil?
Bautista Vidal -
As energias renováveis só são
possíveis nas regiões tropicais. E
o Brasil é o único continente tropical.
Todas as formas energéticas vêm do
Sol. Todas: a hidrelétrica, a eólica,
a biomassa, o petróleo, o carvão.
No caso do petróleo, leva 400 milhões
de anos para a energia que vem do sol se transformar
em hidrocarboneto. No caso da biomassa, em que a
fotossíntese da planta capta a energia solar,
o girassol, por exemplo, leva dois meses para fazer
a mesma coisa. Quer dizer, o petróleo é
não-renovável. Você não
vai ficar esperando 400 milhões de anos.
Agora, dois meses é tranqüilo, né?
E essas formas energéticas
renováveis só são possíveis
a partir de regiões tropicais, porque aqui
tem muito sol. E tem água. A Alemanha está
fazendo um programa de energias novas, mas não
consegue fazer combustível líquido
porque não tem sol. Por isso, a Alemanha
caminhou na direção da energia eólica,
dos ventos, porque lá tem diferença
de pressão entre o mar e o continente. A
Alemanha se transformou na maior produtora de energia
elétrica a partir da energia eólica,
e na maior produtora de equipamentos. Bateu o Japão,
bateu os Estados Unidos. Mas a Alemanha não
consegue fazer energia líquida, porque não
tem sol.
Fonte: Agência Brasil –
Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Spensy Pimentel