desordenado crescimento, cujas conseqüências
vivemos até hoje. Isso, porque bastava ter
uma linha de ônibus para viabilizar um espaço
de moradia sem qualidade. Atualmente o grande problema
é a chegada da malha urbana na área
de mananciais, o que deixa claro que não
basta a existência de uma lei, instituída
em meados da década de 70, para conter as
demandas sociais resultantes da forma como a cidade
se organiza. "O processo de expansão
e transformação são determinantes
para as condições dos ecossistemas
que sustentam a vida metropolitana em todas as suas
dimensões", afirmou Grostein.
Em 1900, a cidade necessitava
de 0,30 m3/s de água para abastecer a sua
população, em 1950 eram necessários
5,60 m3/s e, em 1999, a demanda estava em 63,10
m3/s e, em breve, estaremos consumindo 68 m3/s.
"Os impactos causados pela falta de planejamento
afetam o clima, as condições morfológicas
e hidrológicas e os condicionantes biogeográficos,
resultando no desaparecimento da cobertura vegetal",
concluiu Grostein.
“Cidades Sustentáveis
e Cidades Insustentáveis” foi o tema apresentado
pelo engenheiro civil Francisco Comaru. "São
Paulo tem riquezas hídricas muito grandes,
são mais de mil rios que a cidade possui,
mas todas as vezes que canalizamos um rio, estamos
matando parte da vida na cidade. O Tamanduateí
é o exemplo máximo de tudo o que
não devemos fazer com um rio. Na Europa
muitos governos estão abrindo seus rios
novamente, numa tentativa de reavivá-los",
disse.
Para o pesquisador, as desigualdades
sociais muito acentuadas contribuem para a insustentabilidade
de uma cidade e a grande exclusão traz
conseqüências negativas para todos.
Tudo isso ocorre, segundo o palestrante, devido
à inexistência de conexão
entre planejamento e gestão. "Existe
um contraste acentuado entre uma parte qualificada
e uma parte que apresenta vários graus
de desqualificação, em geral maior
do que a primeira", garantiu Comaru.
Uma possibilidade de reverter
o processo está na formulação
das diretrizes gerais da Política Urbana,
que em seu artigo 2º prevê, entre outras
coisas, a garantia do direito a cidades sustentáveis;
gestão democrática; cooperação
entre os governos, iniciativa privada e demais
setores da sociedade; planejamento do desenvolvimento
das cidades; ordenação e controle
do uso do solo; e justa distribuição
dos benefícios e ônus decorrentes
do processo de urbanização.
Segundo o pesquisador, o investimento
público no Brasil segue três critérios
históricos: marketing e visibilidade, valorização
imobiliária e clientelismo. Mas existem
vários instrumentos que podem democratizar
a gestão das cidades como: mais conhecimento
sobre planejamento e gestão; democratizar
a tomada de decisão; formação
de conselho da cidade; realização
de conferência da cidade; realização
de audiências públicas; estudo de
impacto de vizinhança; orçamento
participativo; e iniciativa popular para elaborar
projetos de lei.
"A cidade é um organismo
vivo e a destruição das florestas
urbanas acarreta danos econômicos, sociais
e ambientais", afirmou a engenheira agrônoma
Ondalva Serrano, que falou sobre a "Importância
da Floresta no Espaço Urbano". Hoje,
no Brasil, 82% da população vive
em aglomerados urbanos e o resgate ambiental para
a qualidade de vida humana nas cidades é
premente. Assim, é prioritária a
correção das distorções,
desequilíbrios e anomalias do meio urbano,
por meio de políticas públicas voltadas
para a qualidade de vida e a justiça social.
"A inexistência de
um órgão oficial que faça
o estudo, planejamento e promoção
de florestas urbanas não pode continuar.
É necessário que ocorra a criação
de uma política nacional de florestas urbanas
para corrigir esses desequilíbrios",
ressaltou Serrano.
São muitos os benefícios
decorrentes da existência de florestas nas
áreas urbanas como a redução
da exposição aos raios ultravioleta.
Além disso, as árvores são
responsáveis por 60% da troca de CO2 na
atmosfera, contribuem para a formação
de solos, agentes bioquímicos, recursos
genéticos, regulação do clima
e de doenças e controle de enchentes, sem
contar os benefícios não materiais
como recreação, ecoturismo, estética
e outros.
Conforme Serrano, os principais
vetores de alteração da conservação
de florestas são a atividade agrícola,
expansão urbana, poluição,
depredação, invasão, favelização,
concentração urbana e êxodo
rural.
O evento contou também
com a palestra sobre Microclima nas cidades, onde
a geógrafa Magda Adelaide explicou as conseqüências
climáticas decorrentes da falta de planejamento
na construção do ambiente urbano.