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INCÊNDIO DE PONTE
IMPEDE O TRÂNSITO DE 3 MIL PESSOAS
NA FESTA DE HOMOLOGAÇÃO DA
RAPOSA SERRA DO SOL
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) - Brasil
Setembro de 2005
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22/09/2005 - Os
presidentes do Incra e da Funai estão participando
das comemorações. O Ministério
da Justiça proibiu a entrada de mais convidados
na área por medida de segurança. A
suspeita é de que o incêndio tenha
sido provocado pelo mesmo grupo que destruiu o Centro
de Formação e Cultura Raposa-Serra
do Sol, no último sábado. O Conselho
Indígena de Roraima vinha recebendo ameaças
de que sua sede em Boa Vista também seria
incendiada.
O incêndio
parcial da ponte que atravessa o rio Urucuri e dá
acesso à aldeia Maturuca, a cerca de 290
km de Boa Vista, capital de Roraima, praticamente
paralisou o trânsito de mais de 3 mil pessoas
na Terra Indígena (TI) Raposa-Serra do Sol.
O fogo ocorreu na madrugada de hoje, quinta-feira,
22 de setembro, segundo dia das comemorações
pela homologação da TI, assinada pelo
presidente Luís Inácio Lula da Silva
em abril deste ano. Eram esperadas para o evento
cerca de 8 mil pessoas. O Ministério da Justiça
proibiu a entrada de mais convidados na área
por medida de segurança. Segundo a Polícia
Federal (PF), há condições
de tráfego reduzido pela ponte. O Exército
já teria sido acionado para recuperá-la
e a expectativa é que esteja consertada até
amanhã, sexta-feira.
O presidente da Fundação
Nacional do Índio (Funai), Mércio
Pereira Gomes, o presidente do Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária
(Incra), Rolf Hackbart, e a subprocuradora da 6ª
Câmara do Ministério Público
Federal, Débora Duprat, estão participando
da festa. Uma senadora italiana também estaria
no local.
A PF deslocou 65
policiais de outros Estados para garantir a segurança
das autoridades. Desde a semana passada, a instituição
divulgou que estava preparando um esquema especial
de segurança para as comemorações
com a participação de cerca de cem
homens. Até ontem, quarta-feira, apenas um
pequeno grupo composto por integrantes do serviço
de inteligência da instituição
e de outros agentes que acompanham os representantes
do governo federal estava no local.
“Não houve
falha da PF. Acho que as coisas estão se
desenvolvendo a contento. O Estado é muito
grande e não há agentes para cobrir
todo o seu território”, garantiu Ivan Herrero,
superintendente interino da PF em Roraima. Ele não
informou com precisão o número de
policiais federais lotados no Estado, mas disse
que a PF, em todo o País, depende do deslocamento
de novos contingentes em casos semelhantes. “Já
abrimos um inquérito para apurar tudo o que
está acontecendo”. Herrero disse ainda que
a Superintendência em Roraima está
recebendo todo apoio do diretor-geral da PF, Paulo
Fernando da Costa Lacerda, que está sensibilizado
com a "situação caótica"
na região.
O superintendente
afirmou que teve acesso a informações
de que poderia haver seqüestro de pessoas durante
a festa, mas que a ameaça não se confirmou.
Em maio, a PF desativou a barreira de fiscalização
que mantinha próxima à ponte, logo
após o desfecho pacífico do seqüestro
de quatro policiais federais. Entre 22 e 30 de abril,
eles foram mantidos reféns por moradores
da aldeia Flechal como uma forma de protesto contra
a homologação em área contínua
da Terra Indígena.
A assessoria de imprensa
da Superintendência afirmou à reportagem
do ISA que o clima na região é de
“tranqüilidade e de normalidade” e também
negou ter conhecimento sobre ameaças de queima
de outras pontes.
Nos últimos
dias, o Conselho Indígena de Roraima (CIR)
vinha recebendo ameaças de que sua sede em
Boa Vista também seria incendiada. No início
da semana, a organização fez o seguro
de suas instalações, temendo por prejuízos.
Existe a suspeita
de que o incêndio da ponte no rio Urucuri
tenha sido provocado pelo mesmo grupo que destruiu
parcialmente o Centro de Formação
e Cultura Raposa-Serra do Sol, antiga Missão
Surumu, na comunidade do Barro, também localizada
na Raposa-Serra do Sol, no último sábado,
dia 17 de setembro. Cerca de cem homens encapuzados
ou pintados, entre índios e não-índios,
armados de espingardas, facões e cacetetes,
invadiram, queimaram e depredaram as instalações
da escola, entre elas a igreja, o hospital, dormitórios,
refeitórios, secretaria e salas de aula.
De acordo com a PF, quatro pessoas ficaram feridas.
Uma ambulância que saía do local na
hora também foi danificada (saiba mais).
Segundo informações
colhidas no local pelo CIR, o ataque do sábado
teria sido coordenado por Anísio Pedrosa,
vice-prefeito de Pacaraima, município localizado
na TI São Marcos, ao lado da TI Raposa-Serra
do Sol. Genilvaldo Macuxi, vereador e tuxaua (liderança
indígena) da aldeia de Contão, também
teria participado da invasão. Os dois seriam
ligados ao prefeito de Pacaraima, Paulo César
Quartiero (PDT), maior produtor de arroz da região.
Quartiero foi denunciado pelo MPF como um dos líderes
de outro ataque, realizado contra as aldeias de
Homologação, Brilho do Sol, Jawari
e Lilás, em novembro de 2004 (confira).
As ações
seriam uma represália à homologação
da Terra Indígena em área contínua
decretada em abril deste ano. A grande maioria dos
mais de 16 mil indígenas que moram na região
é favorável à medida, mas há
grupos aliados de políticos, fazendeiros
e empresários que discordam e defendem que
alguns trechos de território sejam excluídos
da TI. Com o reconhecimento oficial definitivo do
direito dos índios, grandes produtores rurais,
principalmente de arroz, terão de deixar
a área.
Fonte: Instituto Socioambiental
(www.isa.org.br)
Assessoria de imprensa (Oswaldo Braga de Souza)