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PARA TÉCNICOS DO
GOVERNO, MAMONA PARA BIODIESEL É
VIÁVEL E 2% SÃO NECESSÁRIOS
POR ORA
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) - Brasil
Setembro de 2005
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22/09/2005 – Técnicos
ligados ao governo federal discordam da avaliação
do físico José Walter Bautista Vidal,
criador do Proalcool nos anos 70, quanto ao uso
da mamona na produção de biodiesel.
A divergência principal é quanto à
viabilidade econômica do uso do vegetal, cujo
óleo é especialmente valorizado no
mercado internacional, por ser utilizado como matéria-prima
na produção de lubrificantes, por
exemplo. Bautista Vidal também acredita que
o governo federal deveria incentivar a mistura de
uma porcentagem maior do que 2% de biodiesel no
diesel utilizado no país.
Para Arnoldo de Campos,
da Secretaria Nacional de Agricultura Familiar,
o uso da mamona na produção do biodiesel
é economicamente sustentável. Ele
diz que o preço internacional do vegetal
é hoje controlado por um grupo pequeno de
empresas, que o fixam arbitrariamente. O alto preço
do produto não teria base real. "Com
a entrada de mais produto e de mais compradores
nesse mercado, ele tende a se modificar rapidamente",
afirma.
Campos também
diz que o governo está investindo no estabelecimento
de preços mínimos e outras garantias
para os produtores, tanto da mamona como de biodiesel
– como contratos de longo prazo e um sistema de
seguro, por exemplo. "Para viabilizar o projeto,
não podemos fazer balcão de óleo
no mercado. A Petrobrás vai fechar contratos
e garantir preços, para não ficar
refém da cotação da mamona."
Campos, que participa
da coordenação e do planejamento do
Programa Nacional de Produção e Uso
de Biodiesel, explica que a definição
do uso opcional de 2% de mistura do biocombustível
ao óleo diesel até 2008 está
baseada na avaliação de que é
preciso uma "rampa suave" no projeto.
"Acreditamos que uma rampa mais íngreme,
ou seja, uma mistura muito maior neste momento,
dificultaria as políticas de estímulo
à organização dos pequenos
produtores que estamos buscando", explica ele.
Segundo ele, o governo
espera garantir para os agricultores familiares
pelo menos 50% dos cerca de 800 milhões a
1 bilhão de litros no mercado aberto pela
obrigatoriedade da mistura de 2% de biodiesel a
partir de 2008 – hoje essa mistura é opcional.
Campos explica que os organizadores do Programa
do Biodiesel previram a viabilidade da produção
do biodiesel a partir de vegetais comuns na monocultura
para exportação, como a soja. Por
isso, estabeleceram uma política de incentivos
fiscais e crédito facilitado para a produção
a partir da agricultura familiar. "Com esse
apoio do governo, o pequeno agricultor terá
condições de concorrer com o biodiesel
de soja, por exemplo."
O assessor especial
da Presidência da República José
Graziano da Silva lembra que a mesma observação
quanto à baixa produtividade da mamona era
feita nos anos 70 quando a cana-de-açúcar
usada para a fabricação de álcool
começou a se expandir pelo interior de São
Paulo. "Diziam que a produtividade por hectare
não dava viabilidade para a cultura. Em poucos
anos a produção se multiplicou, por
causa do desenvolvimento das técnicas e das
variedades cultivadas. Com a mamona, a tendência
é acontecer a mesma coisa".
A Brasil Ecodiesel,
primeira empresa a produzir biodiesel a partir da
mamona, no semi-árido nordestino, desde agosto,
também aposta na viabilidade dessa cadeia
produtiva. Segundo Ricardo Alonso, gerente de produção
da empresa em Floriano (PI), a estratégia
da empresa é firmar contratos com os agricultores
familiares, de modo que os preços do produto
a ser colhido sejam estabelecidos com antecedência,
em acordo com as bases de preço mínimo
demarcadas pelo governo federal.
Ele
lembra que o preço mais alto do óleo
de mamona, normalmente tomado por base para apontar
a inviabilidade do seu uso para o biodiesel, só
é obtido quando o produto está em
fase final de processamento, já tendo passado
por várias etapas de refino. "O óleo
bruto, que usamos para fazer o biodiesel, não
chega nem perto dos mais de US$ 1.000 por tonelada
que se costuma calcular", explica.
Fonte: Agência Brasil –
Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Spensy Pimentel