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MPF/PA E MPE/PA PEDEM CANCELAMENTO
DAS LICENÇAS AMBIENTAIS DO PROJETO
JURUTI
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) - Brasil
Setembro de 2005
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27/09/2005 - Representantes
do Ministério Público Federal e do
Ministério Público Estadual ajuizaram
Ação Civil Pública com pedido
de liminar contra um projeto de extração
de bauxita da Omnia Minérios, empresa do
grupo Alcoa, um dos maiores do mundo no setor de
mineração. O objetivo do projeto é
instalar uma mina para explorar a matéria
prima do alumínio no município paraense
de Juruti, às margens do rio Amazonas.
A ACP aponta vários
vícios no processo de licenciamento, conduzido
pela Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia
e Meio Ambiente (Sectam) e pede o cancelamento das
Licenças Prévia e de Instalação
já concedidas ao Projeto Juruti. MPF e MPE
também querem que a competência para
o licenciamento seja repassada para o Ibama. O procurador
da República Renato de Rezende Gomes e o
promotor de justiça Nadilson Portilho Gomes
assinam a ação, que tramita na subseção
da Justiça Federal em Santarém, e
argumentam que a atribuição do Ibama
no caso é evidente, porque a extração
do recurso mineral deve afetar duas unidades da
federação: Pará e Amazonas
seriam impactados (ver abaixo). O projeto deve afetar
o município de Parintins, no Amazonas, e
poderia também impactar o aquífero
Alter-do-Chão e o rio Amazonas, bens da União.
A transferência
do licenciamento do Projeto Juruti para a esfera
federal deve ser decretada em caráter urgente,
pede o Ministério Público Federal,
para evitar um problema como o da empresa Cargill,
grande produtora de grãos que construiu um
porto em Santarém sem Estudo de Impacto Ambiental
(EIA) e com licenciamento precário feito
pela Sectam. O MPF questionou o caso na Justiça
Federal e obteve vitórias em duas instâncias,
mas a instalação apressada do porto
atropelou a justiça e os impactos agora dificilmente
serão mitigados, mesmo com as irregularidades
confirmadas pelo Judiciário. Pressa - No
caso da Alcoa, além da questão da
competência para licenciar, os Mps questionam
o teor dos Estudos de Impacto Ambiental (EIA) apresentados
pela empresa e a pressa da Sectam em conceder as
Licenças Prévia e de Instalação.
A Alcoa solicitou o licenciamento do projeto em
janeiro de 2005 e obteve a primeira licença,
Prévia, em 14 de junho, num processo considerado
açodado pelos representantes do Ministério
Público.
"O prazo dessa
etapa de Licença Prévia poderia ir
até o final do ano de 2005 (já que
iniciou em janeiro) e até mais, caso fosse
serenamente utilizado o direito institucional da
equipe técnica de requerer as informações
e complementações necessárias
indicadas e ainda poderem ser novamente debatidas
em outras audiências públicas. O interesse
da empresa é mais importante que o interesse
sócio-ambiental da sociedade brasileira?
Deve ser desconsiderado o risco geral compartilhado
e considerado somente o interesse do lucro privatizado?",
pergunta a ACP.
Para atender à
urgência da empresa, de acordo com o MP, a
Sectam deixou de realizar uma Audiência Pública
na Vila de Juruti Velho, uma das mais afetadas pelo
projeto, o que é uma afronta aos princípios
da legislação brasileira que regem
o licenciamento ambiental. A audiência foi
solicitada não só pelo Ministério
Público do Estado como por várias
asssociações de moradores, mas não
foi atendida (ver pedido abaixo).
Falhas - O Conselho
Estadual do Meio Ambiente, Coema, que concedeu a
Licença Prévia e a Licença
de Instalação para o empreendimento,
também é apontado como responsável,
por ter ignorado graves falhas apontadas por técnicos
da própria Sectam durante a análise
do EIA. 22 condicionantes foram apontadas pelos
especialistas da Secretaria como essenciais para
a continuidade do projeto, e constam do próprio
processo de licenciamento. Seriam complementações
e correções necessárias do
Estudo, a serem feitas antes da concessão
de licença, mas foram ignoradas de acordo
com o Ministério Público.
"A enorme pressão
exercida em termos políticos e econômicos
sobre os órgãos ambientais, forçou
o atropelamento do procedimento. De fato, além
da não realização de audiência
pública solicitada e necessária, deixou-se
de realizar o rito lógico e regulamentar,
pois após a primeira análise da equipe
técnica, sucederia a solicitação
de informações, estudos e complementações
decorrentes dessa análise", sustenta
a Ação.
Nos pedidos ao juiz,
o Ministério Público Federal e o Ministério
Público Estadual requerem a concessão
de liminar (medida judicial urgente) sustando os
efeitos das licenças Prévia e de Instalação
concedidas à Alcoa. Se concordar com a ação,
o juiz deve também obrigar o Estado do Pará
a paralisar quaisquer processos de licenciamento
para o Projeto Juruti, fazendo com que a empresa
recorra ao Ibama para obter as licenças necessárias.
Também são citados na ação
o Ibama, que pode ser obrigado a fazer o licenciamento
ambiental em questão, e o DNPM, que pode
ser obrigado a impedir a exploração
dos recursos minerais pela Alcoa enquanto não
for concluído o licenciamento ambiental federal.
Porque MPF e MPE consideram que o Ibama deveria
licenciar o Projeto Juruti:
"De fato, como se vê, diversos são
os elementos que demonstram a necessidade de que
o licenciamento se dê no âmbito federal:
1 - a área na qual estão localizadas
as minas de bauxita pertence à União,
tendo sido objeto de arrecadação administrativa
e, hoje, encontra-se em processo de regularização
fundiária, tendente a permitir a fixação
dos clientes da reforma agrária;
2 - todas as atividades para a obtenção
da bauxita (escavações e deposição
de rejeitos nas cavas) ocorrerão sobre o
aqüífero Alter-do-Chão, importante
reserva de água doce que atravessa dois Estados
(Pará e Amazonas);
3 - o porto está localizado às margens
do rio Amazonas, rio internacional, sem que tal
impacto tenha sido nem mesmo corretamente mensurado
ou nem sequer estudado;
4 - todo o Projeto Juruti está contido na
bacia hidrográfica do Amazonas, sob jurisdição
federal;
5 - há o registro de 73 ocorrências
de sítios arqueológicos na Área
de Influência Direta (AID), até esta
fase;
6 - na AID existem espécies vegetais (castanheiras,
pau-cravo, pau rosa) protegidas pela legislação
ambiental;
7 - na AID existem os ecossistemas de várzeas;
8 - existem áreas de preservação
permanente, como várzeas, nascentes e mata
ciliar na AID;
9 - há necessidade de autorização
de desmatamento emitida pelo IBAMA, de acordo com
a resolução 009/90 do Conselho Nacional
do Meio Ambiente."
Um dos pedidos não atendidos pela Sectam
para realização de audiência
pública na vila de Juruti Velho:
"As terras da Comunidade de Pompom ficam perto
da mina da Alcoa, por isso nos interessa tudo o
que acontece por lá. A Alcoa fez palestras
e apresentou o Projeto Juruti. Disse que o mesmo
traz progresso e desenvolvimento para nós.
Sempre dizem isso. Colegas nossos conhecem outras
minerações e nos contam que vão
aparecer muitos impactos. Nós estamos preocupados
por causa das castanheiras de onde tiramos nosso
sustento. Vêm os madeireiros e conseguem tirar
licença. Ultimamente apareceu o pessoal de
soja e agora a Alcoa. Só nós não
conseguimos os títulos das nossas terras.
Recebemos muitas promessas e ficamos na miséria.
E nós somos os verdadeiros donos da terra.
Pedimos uma Audiência Pública porque
temos muitas perguntas que gostaríamos ter
respondidas antes que o Projeto Juriti seja implantado.
Também gostaríamos que nossas terras
sejam legalizadas antes da implantação
do Projeto. Agradecemos antecipadamente toda atenção.
Comunidade de Pompom, 12 de março de 2005.
(Assinaturas)"
Fonte: Procuradoria Geral da República
– Ministério Público (www.pgr.mpf.gov.br)
Assessoria de imprensa