O projeto é fruto do trabalho de duas secretarias
e, a partir de agora, não podemos mais usar
a expressão 'meio ambiente versus agricultura'
mas, sim, 'meio ambiente mais agricultura'",
enfatizou Carrascosa.
O Projeto de Recuperação de Matas
Ciliares será desenvolvido de forma integrada
com o Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas
(PEMH), da Coordenadoria de Assistência Técnica
Integral - CATI, órgão vinculado à
Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado,
visando reforçar sua dimensão ambiental.
Durante quatro anos, período
previsto para a execução do projeto,
serão implantados 15 projetos demonstrativos
em microbacias rurais, para a recuperação
de 1.500 hectares de matas ciliares, com uma média
de 100 hectares de matas restauradas em cada projeto.
O projeto será iniciado, ainda este ano,
em cinco microbacias: Aguapeí, Tietê-Jacaré,
Mogi-Guaçu, Piracicaba-Capivari-Jundiaí
e Paraíba do Sul.
O secretário da Agricultura,
Duarte Nogueira, ressaltou a importância
da experiência adquirida na implementação
do projeto de microbacias com a integração
dos proprietários da área, incluindo
as crianças. "Os núcleos envolvidos
devem sentir-se beneficiados com a melhoria da
qualidade de vida e da renda, o que ajuda a fixar
o homem no campo, tornando-o guardião do
projeto", afirmou. Hoje a Secretaria da Agricultura
administra 772 microbacias e até meados
de 2007 serão mais de mil, garantiu o secretário.
O secretário do Meio
Ambiente, José Goldemberg, falou sobre
a recuperação da mata atlântica
citando a conscientização da população,
a metodologia de licenciamento ambiental e a atuação
da Polícia Militar Ambiental como os principais
responsáveis. Segundo disse, "o Estado
de São Paulo tem quase 250 mil km2 de área
e, desse total, cerca de 14% é constituído
de remanescentes da mata original, grande parte
concentrada em área de mata atlântica”.
Goldemberg explicou que o monitoramento
da região, feito pelo Instituto Florestal,
demonstra que a perda vegetal foi caindo a cada
dez anos, nos últimos 50 anos, e a partir
de 11000 começou a se observar a recuperação,
perfazendo hoje um total de 100 mil hectares.
“Esses dados deixam evidente que quem faz a preservação
não é o Estado, que apenas estabelece
normas e fiscaliza. Quem faz a preservação
é a população, são
as organizações não-governamentais,
são os proprietários. Por isso digo
que a Secretaria do Meio Ambiente não vai
plantar árvores, mas dar condições
para que a população o faça
de forma consciente e adequada. Enfim, são
essas combinações de fatores que
permitirão ao Estado de São Paulo
ser um local habitável dentro de dez ou
vinte anos", concluiu.
Pesquisa
A implantação
deste projeto servirá de laboratório
para as atividades de pesquisa aplicada em restauração,
educação ambiental e desenvolvimento
de instrumentos econômicos para a conservação
ambiental. Por este motivo, o seminário
reuniu profissionais que realizam trabalhos e
pesquisas nessas áreas.
O professor Peter May, do Departamento
de Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
falou sobre “Serviços Ambientais”, enfocando
questões como as formas de captar recursos
a partir dos serviços gerados pela natureza.
Em sua apresentação abordou temas
como “Pagamentos por Serviços Ecossistêmicos:
Potenciais e Limitações”, onde estão
incluídos os serviços relacionados
com a água, o clima e a biodiversidade,
e “Princípio Provedor-Recebedor”, sobre
a atuação dos fornecedores de serviços,
beneficiários custos e pagamentos.
Em relação ao
tema “Pagamentos para Serviços Ecossistêmicos
no Brasil”, May informou que já dispomos
de instrumentos jurídicos e projetos em
curso como o MDL - Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo, Biocarbono, Fundo Proambiente, cobrança
do uso d água, ICMS Ecológico e
permutas de direitos de uso, que concedem benefícios
aos agricultores que conservam além da
reserva legal.
"Executar e manter o sistema
traz a necessidade de envolver as partes e de
se adotar um mecanismo complexo de monitoramento
e validação. É um processo
intensivo de conscientização e informação
sobre as relações de uso do solo,
qualidade dos serviços ambientais e relação
custo benefício", concluiu May.
“Restauração de
Ecossistemas Ciliares” foi o tema apresentado
pelo professor Ricardo Ribeiro Rodrigues, do Departamento
de Ciências Biológicas da Escola
Superior de Agronomia Luiz de Queiróz -
ESALQ, da Universidade de São Paulo. O
professor informou que o objetivo principal do
Laboratório de Ecologia e Restauração
Florestal, onde trabalha, é o de elaborar
diagnósticos ambientais e efetuar a restauração
e conservação dos fragmentos florestais
remanescentes.
"Não temos uma metodologia
única para recuperar mata ciliar no Estado.
Aplicamos metodologias diferenciadas para cada
área porque, conforme a cultura existente,
a natureza estabelece características e
condições específicas. Por
esse motivo, só tem sentido pensar em recuperação
quando já foram identificados os fatores
de degradação, que devem ser isolados
e interrompidos", informou.
Segundo Rodrigues, até
há pouco tempo os pesquisadores achavam
que a recuperação vegetal era um
processo organizado com um único final.
“Idealizávamos a floresta original de cada
região e lutávamos para atingir
o modelo pré-estabelecido. A natureza,
no entanto, demonstrou que o processo é
diferente. Deslizamentos, ventos e geadas, por
exemplo, são capazes de destruir trabalhos
de vários meses. É preciso considerar
os fatores naturais porque a sucessão vegetal
depende de efeitos aleatórios", destacou
o pesquisador.
Os novos modelos apontam a necessidade
de se escolher o local adequado para que o processo
de recuperação tenha sucesso, com
disponibilidade de diferentes espécies
com diferentes comportamentos. “Seguindo essas
condições é possível
construir florestas que se perpetuam”, garantiu
o pesquisador.