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COMEMORAÇÕES
RESSALTAM CONQUISTAS NA RAPOSA
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Outubro de 2005
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07/10/2005 - No
último final de semana, as comunidades da
Raposa Serra do Sol (RO) encerraram as comemorações
pela homologação da terra indígena,
assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula
da Silva. Depois de quase 30 anos de luta pelo direito
à área, os índios Makuxi, Wapixana,
Ingarikó, Tauperang e Patamona celebraram
a conquista com a participação de
10 mil pessoas, entre indígenas, autoridades
do governo federal e representantes de organizações
não-governamentais.
As comemorações
tiveram início em 21 de setembro, na aldeia
Maturuca, região das serras, com a presença
dos presidentes da Funai, Mércio Pereira
Gomes, e do Incra, Rolf Hackbart, além do
assessor especial da Presidência da República,
Cezar Alvarez. Depois, os festejos estenderam-se
às comunidades Canta Galo, região
do Surumu, e Bismark, no Baixo Cotingo.
Para celebrar a conquista
indígena, um monumento com o mapa da Raposa
Serra do Sol foi inaugurado no centro da aldeia
Maturuca. “Isso não é uma obra de
arte, mas uma referência a essa grande vitória”,
disse o índio Bartô, artista responsável
pela obra.
A data da festa,
celebrada de 21 de setembro a 03 de outubro, foi
definida pelos índios em razão da
colheita. “É o momento de colher frutos.
Em toda a Raposa Serra do Sol as pessoas comemoram
neste mês a colheita do feijão, do
milho, do arroz, da macaxeira, da batata e da banana,
e aproveitamos para comemorar também a homologação",
explicou Marinaldo Justino Trajano, presidente do
Conselho Indígena de Roraima.
Com o apoio da Funai,
os índios também desenvolvem um projeto
de piscicultura. A produção de alimentos
serve para o auto-sustento das comunidades e o excedente
é vendido em feiras de Boa Vista. Além
disso, os índios cuidam de 40 mil cabeças
de gado.
Há também
um esforço dos Ingarikó, da Funai
e do Ibama em planejar a gestão do Parque
Nacional do Monte Roraima, criado em 1989 e que
ocupa uma área de 116 mil hectares na fronteira
do Brasil com a Guiana e a Venezuela, correspondente
a cerca de 10% da área total da terra indígena.
Raposa Serra do Sol
A homologação
da Terra Indígena Raposa Serra do Sol consagra
a tradição do indigenismo nacional,
em um ato do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva para o resgate da dívida histórica
do povo brasileiro para com os povos indígenas.
Firmado em 15 de abril de 2005, o decreto presidencial
reconhece a legitimidade da posse imemorial dos
povos Makuxi, Wapixana, Ingarikó, Taurepang
e Patamona sobre uma área de 1.743.000 hectares,
situada na região nordeste do Estado de Roraima,
na fronteira com a Guiana e a Venezuela. É
a reparação de uma injustiça
histórica e o resultado de quase 30 anos
de luta pelo direito dos índios a uma terra
que, graças a eles, integra o território
nacional. Hoje, mais de 21 mil índios habitam
a Terra Indígena Raposa Serra do Sol.
A presença
dos índios na região foi registrada,
pela primeira vez, em 1765, por funcionários
holandeses da Cia. das Índias Ocidentais,
que foram impedidos de atravessá-la devido
à guerra então travada entre os índios
Makuxi e Wapixana. Os portugueses, que chegaram
ao local em 1774, foram mais que testemunhas: encontraram
entre os índios aliados importantes para
a expulsão dos espanhóis daquela área.
Além disso, foi com a ajuda das principais
lideranças Makuxi, que se declararam brasileiros,
que a Comissão Brasileira Demarcadora de
Fronteiras conseguiu estabelecer os atuais limites
fronteiriços do País na região,
muito embora índios da mesma etnia vivessem
na República da Guiana.
A homologação
da T.I. Raposa Serra do Sol encerrou disputas e
questionamentos políticos contra o reconhecimento
da área e, finalmente, levou os diversos
agentes envolvidos a buscarem soluções
para o desenvolvimento da região. Exemplo
disso foi o encontro de lideranças Macuxi,
ligadas tanto ao Conselho Indígena de Roraima
(CIR) quanto à Sociedade de Defesa dos Índios
Unidos do Norte de Roraima (SODIUR), com o presidente
da Funai, Mércio Pereira Gomes, em 19 julho
de 2005, na sede do órgão, em Brasília.
As duas organizações, que antes divergiam
quanto à homologação de Raposa
Serra do Sol, agora se unem em defesa de uma causa
comum.
O início dessa
nova fase de respeito aos direitos dos povos indígenas
de Roraima contou com o apoio decisivo não
apenas da Funai e das organizações
indígenas, mas também do Poder Judiciário,
do Ministério Público Federal, de
representantes do Poder Legislativo, do Poder Executivo,
por meio da portaria do ministro da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos, que autorizou a demarcação,
e do ato final do Presidente da República.
Representa, enfim, a afirmação do
Estado de Direito e é motivo de comemoração
para todo o povo brasileiro.
Educação
indígena
A mobilização
social dos índios Makuxi, Wapixana, Ingarikó,
Taurepang e Patamona manteve viva sua cultura. Com
a homologação da T.I. Raposa Serra
do Sol, esse movimento ganhou força, garantindo
condições para que sua cultura se
perpetue para as novas gerações, hoje
orgulhosas de sua herança indígena.
Os 114 professores
indígenas e os mais de dois mil alunos das
escolas das comunidades da T.I. Raposa Serra do
Sol são prova dos avanços na educação.
A maioria das comunidades já tem sua escola
e todos os professores são indígenas.
Eles atuam em sintonia com o tuxaua (cacique) e
o conselho da comunidade, empenhando-se na consolidação
de uma educação diferenciada e bilíngüe.
São agentes geradores de mudanças
e melhoria para as comunidades e todo o Estado de
Roraima.
Jovens indígenas,
com o apoio do CIR, também já estão
concluindo o segundo grau na Escola Agropecuária
de Surumu, que os acolhe em regime de internato
por quatro anos, oferecendo cursos de ensino médio
e cursos técnicos nas áreas de agricultura,
pecuária e enfermagem, voltados para as realidades
específicas das comunidades indígenas.
Os primeiros técnicos se formaram em 2002
e já participam no desenvolvimento de projetos
comunitários, como o de Planejamento Etno-ambiental
da T.I. Raposa Serra do Sol e o de valorização
e resgate de sementes tradicionais.
Desenvolvimento sustentável
A demarcação
da terra indígena em área contínua
é fundamental para o desenvolvimento sustentável
de suas comunidades, além de ser uma garantia
da preservação ambiental das nascentes
dos recursos hídricos, da floresta e da biodiversidade
natural e domesticada.
O projeto Uma Vaca
para o Índio mostra como a organização
soube aliar a luta pela terra com o incentivo às
atividades produtivas voltadas para o fortalecimento
da autonomia das comunidades e preservação
do equilíbrio ambiental.
Atualmente, as comunidades
manejam um rebanho de mais de 40 mil cabeças
de gado. O projeto é a principal fonte de
segurança alimentar, mas está associado
à criação de outros animais
de pequeno porte, à produção
de pequenas roças comunitárias, principalmente
de mandioca, que serve para a produção
de farinha, beiju e caxiri ou pajuaru (bebidas tradicionais).
Além disso, os povos da T.I. Raposa Serra
do Sol são exímios artesãos
e produzem diversas peças em barro, cipó,
palha, semente e algodão.
A homologação
da Raposa Serra do Sol envolve ainda uma importante
dimensão ambiental: a área contínua
coincide com a bacia hidrográfica de seus
principais rios (Cotingo, Uailã, Maú,
Surumú e Tacutu), identificando a unidade
territorial em termos de planejamento ambiental.
Na concepção
indígena do espaço, as únicas
fronteiras físicas são as naturais.
O projeto Nossa Terra, Nosso Futuro, desenvolvido
pelo CIR, é uma das maneiras com as quais
a organização começou a buscar
formas de capacitar indígenas para desenvolver
e propor seu próprio Plano de Manejo para
a Raposa Serra do Sol. Técnicos agropecuários
indígenas, junto às lideranças
mais velhas, estão hoje utilizando imagens
de satélite para realizar o etno-mapeamento
de toda a terra indígena. A base cartográfica,
identificando limitações e oportunidades
segundo as classificações indígenas,
será uma ferramenta para o etno-planejamento
territorial e ambiental, de forma a construir coletivamente
as soluções para os problemas do presente
e as atividades mais adequadas para o futuro.
Fonte: Funai – Fundação
nacional do Índio (www.funai.gov.br)
Assessoria de imprensa