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ESPÉCIES INVASORAS:
BRASIL BUSCA SABER O TAMANHO DO PREJUÍZO
CAUSADO
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Outubro de 2005
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04/10/2005 - Criar
um animal originário de outro país
no Brasil ou transportar uma planta de uma região
brasileira para outra pode provocar transformações
irreparáveis na fauna e na flora locais.
Eles podem ser converter nas chamadas espécies
invasoras – animais, plantas ou microrganismos que
no hábitat de origem não causariam
qualquer dano, mas que se levadas para outro ecossistema
podem se disseminar de forma desordenada e causar,
inclusive, prejuízos à saúde
humana e à economia.
De acordo com o coordenador-geral
de Fauna do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Renováveis (Ibama), André
Jean Deberdt, ainda não se tem uma noção
exata sobre o tamanho do problema causado pela entrada
dessas espécies no território brasileiro.
A fim de conhecer essa realidade, o Ministério
do Meio Ambiente, em parceria com cinco instituições,
está realizando um levantamento padrão
das espécies exóticas (a palavra,
aqui, é usada para denominar o que vem de
fora, e não para indicar aparência)
existentes no país. A apresentação
do estudo, em versão próxima à
final, está marcada para o 1º Simpósio
Brasileiro sobre Espécies Exóticas,
que começa hoje (4) e vai até a próxima
sexta-feira (7), na capital.
Para dar uma idéia
do alcance da também chamada contaminação
biológica, Deberdt cita uma estimativa, usada
como referência, do professor David Pimentel,
da Universidade de Cornell, segundo a qual essas
espécies causam prejuízos de US$ 1,4
trilhão por ano no mundo, US$ 137 bilhões
nos Estados Unidos e US$ 49 bilhões no Brasil.
O coordenador revela que entre os invasores exóticos
que provocam mais estragos no país estão
o javali, o mexilhão-dourado, o caramujo-africano
e espécies de pinheiro e de capins africanos.
O javali é
considerado pela União Internacional de Conservação
da Natureza uma das 100 piores espécies exóticas
invasoras do mundo. O animal entrou no Brasil há
dez anos pela fronteira do Rio Grande do Sul com
o Uruguai. Nos estados do Paraná, São
Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas
Gerais e Mato Grosso do Sul já existem vários
focos de populações selvagens da espécie.
"Esse animal ataca principalmente as plantações
de milho e animais de criação e pode
transmitir doenças para a fauna nativa",
explica Deberdt. "Ele se adapta facilmente
a qualquer tipo de ambiente e começa a proliferar
rapidamente. No Rio Grande do Sul já causa
problemas seriíssimos."
O coordenador do
Ibama explica que as medidas de combate ao ataque
de animais exóticos invasores ainda são
muito recentes no país. "Nós
ainda estamos implementando algumas técnicas
de controle. Não é muito fácil
controlar as espécies, pois elas já
estão instaladas na natureza. Uma vez que
o javali entrou, será muito difícil
erradicá-lo, mas é possível
controlar e diminuir os problemas provocados por
ele." Na tentativa de reduzir a população
de javalis no Rio Grande do Sul, o Ibama realizou
nos últimos dez anos diversos estudos e autorizou
a caça do animal. O estado é o único
autorizado a praticar o abate.
Os caramujos-africanos,
trazidos para o Brasil em 1980 como alternativa
ao escargot, também já infestaram
todo o país, segundo Deberdt. Em agosto o
Ibama proibiu a criação do molusco
e determinou que os criadores entreguem as matrizes
às autoridades em 60 dias. Já a braquiária
e o capim-gordura, também originários
da África, foram introduzidos no país
ainda durante a colonização e hoje
são cultivados para a pastagem de gado. Devido
ao excesso de sementes que produzem e da facilidade
com que elas se espalham, essas espécies
estão substituindo a vegetação
nativa da região onde são plantadas.
A lei de crimes ambientais
brasileira impede que qualquer espécie animal
seja introduzida no país sem parecer favorável
do Ibama. No entanto, André Jean Deberdt
avalia que a legislação ainda é
deficiente. "Tem alguns pontos falhos, que
podem ser melhorados, e normas que poderiam ser
estabelecidas para melhorar o sistema preventivo
de entrada e a implementação de mecanismos
para evitar a proliferação das espécies
que já estão no país. É
preciso criar mecanismos legais para controlar as
espécies invasoras".
Fonte: Agência Brasil - Radiobras
(www.radiobras.gov.br)
Érica Santana