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ÍNDIOS TERENA INVADEM
TERRAS DO PARANÁ E KAYAPÓ
EM MT E DEFLAGRAM CONFLITO
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Outubro de 2005
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06/10/2005 - Cerca
de vinte índios Terena foram presos por índios
Panará e Kayapó, quando exploravam
ilegalmente palmito de açaí em suas
terras, no dia 1º de outubro. Ontem, 5/10,
o grupo foi liberado. Mas prometeu voltar. Os guerreiros
Panará e Kayapó continuam mobilizados
fiscalizando os limites de suas terras e também
a parte da gleba que, por conta da invasão,
decidiram tomar dos Terena.
Esta é a segunda
invasão em terras Panará e Kaiapó
promovida pelos Terena desde desde 2002. Nessa época,
liderados por Rondon Terena, foram assentados pela
Fundação Nacional do Índio
(Funai) e pelo Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (Incra) na gleba Iriri,
localizada no município de Matupá,
norte do Estado do Mato Grosso. O grupo Terena (de
aproximadamente 400 pessoas), veio do Mato Grosso
do Sul após uma longa história de
peregrinação, marcada por diversos
conflitos fundiários.
O processo de transferência
ocorreu de forma muito rápida e pouco transparente,
sem consultar a administração local
da Funai (AER de Colider) e nem os povos indígenas
da região, sobretudo aqueles que seriam vizinhos
do grupo. O processo formal de cessão da
área como terra indígena Terena ainda
não está concluído.
Em 2002, os Terena
passaram a ocupar uma parcela de aproximadamente
50 mil ha da gleba Iriri, pertencente ao Incra.
Esses procedimentos causaram desconfiança
nas etnias que tradicionalmente ocupam aquela região,
que foram reclamar diretamente ao presidente da
Funai, Mércio Pereira Gomes, em 2003.
No ano seguinte,
os Terena iniciaram a exploração madeireira
em sua nova área. Porém, alegando
a necessidade de retirar madeira para a aldeia,
permitiram que várias empresas operassem
dentro da área, sem a fiscalização
da Funai ou do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Em 2004, em busca de madeira, invadiram o sul das
terras dos Panará. Foram imediatamente expulsos.
Depois desta invasão
recente, os Kayapó, liderados pessoalmente
pelo cacique Raoni, juntamente com as lideranças
Panará decidiram confiscar todos os equipamentos
dos índios Terena usados na exploração
do palmito como compensação pelos
recursos que foram retirados ilegalmente. E avisaram
que permanecerão ocupando uma parcela da
área da gleba Iriri, hoje destinada aos Terena,
de forma a afastá-los do limite das terras
indígenas Panará e Kaiapó.
O conflito ocorrido
nesta semana é uma reincidência, fazendo
crer que os Terena não estão preocupados
em se entender com seus vizinhos. A Funai se deslocou
para a região buscando evitar que o conflito
pudesse alcançar proporções
mais graves, conseguindo a liberação
dos índios detidos. Os Terena retornaram
para sua vila principal e anunciaram retaliações
com a perspectiva de retomada da parcela de suas
Terras agora ocupadas pelos Kayapó e Panará.
A solução
do conflito esbarra em diferentes questões.
Uma delas reside na diferença abismal existente
entre os Terena e as etnias vizinhas sobre a forma
de administrar seus recursos naturais. Esse grupo
de índios Terena vem de uma longa história
de exclusão territorial, que os sujeitou
a uma peregrinação perversa em busca
de alternativas de sobrevivência. Sem vínculos
históricos com a região onde foram
assentados, aparentam pouca adaptação
à vida na floresta amazônica, estabelecendo
uma relação de exploração
econômica intensiva dos recursos que encontraram
em seu território e no de seus vizinhos.
Eles parecem não se preocupar com sua sustentabilidade
futura, fazendo crer que estão de passagem
pela região, com se fosse mais um capítulo
na história de sua peregrinação.
Desde que chegaram
a essa região, no norte do Mato Grosso, o
conflito com as etnias vizinhas já era anunciado,
se levarmos em conta todas as diferenças
culturais e de história de contato existente
entre elas, aliada à falta de transparência
no processo de transferência. A decisão
de assentar o grupo no norte do Mato Grosso revelou
ser desde o início uma "engenharia sócio-cultural"
arriscada por parte dos órgãos responsáveis.
Na ânsia de solucionar a situação
de exclusão territorial do grupo, e aproveitando-se
do desespero desse povo, acabaram por criar um conflito
étnico difícil de ser resolvido.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.isa.org.br)
Assessoria de imprensa (Andre Villas-Bôas)