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ANTÁRTIDA: ADEUS À FARDA

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Outubro de 2005

Vice-presidente do CNPq propõe desmilitarização do Programa Antártico Brasileiro, mas civis ainda não sabem como assumir a gerência da Estação Comandante Ferraz

Península de Keller (Antártica) - Por sugestão do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), uma comissão especial será montada, ainda sem data marcada, para discutir a transferência do comando do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), hoje na mão da Marinha, para a comunidade científica do país. A proposta é do vice-presidente do CNPq, Manuel Domingos Neto. Convidado pelo ministro da Defesa, José Viegas, o cientista foi à Antártica participar, na semana passada, das comemorações dos 20 anos da presença brasileira na região. “Essa presença hoje é basicamente geopolítica”, avalia Domingos Neto. “Temos que ampliar e tornar visível o teor científico dessa permanência aqui na Antártica”, defende.
Ana Nascimento/Abr
Concebida, executada e mantida, até hoje, graças a um esforço institucional da Marinha, a Estação Comandante Ferraz, na Antártica, tornou-se, em 20 anos, uma base de pesquisa científica com um certo ar de caserna. O comando da unidade fica a cargo de um oficial e os outros nove membros permanentes da unidade, o chamado “grupo base”, também são da Marinha - do cozinheiro ao médico. O clima, no entanto, não é de quartel. Os militares
Ana Nascimento/Abr
não usam armas e a relação com os pesquisadores civis é tranqüila e cordial. O fato, no entanto, é que a Marinha gasta muito mais (R$ 20 milhões por ano) do que o CNPq (R$ 1,3 milhão em bolsas, em 2004) para manter o Proantar andando. Cada uma das operações logísticas na Antártica, coordenadas pela força naval e pela Aeronáutica, custa, em média, R$ 10 milhões. Isso sem falar na manutenção da Estação Ferraz, também bancada pela Marinha, cujo déficit anual já está em R$ 1,5 milhão em relação ao orçamento destinado a ela. Para inverter a lógica do comando, portanto, o Ministério da Ciência e Tecnologia teria que investir muito mais do que gasta hoje no programa.

“Se quiserem mudar o comando do programa, não há problema, é só assumir as despesas”, resume o almirante José Geraldo Fernandes Nunes, secretário da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Secirm). Ele afirma desconhecer a proposta de criação de uma comissão para discutir mudanças no gerenciamento da Estação Ferraz. Segundo o almirante, o Proantar não é uma atividade fim da Marinha, mas se mantém em funcionamento por ser uma ação estratégica do país. “Nós decidimos manter presença no continente antártico, e por isso estamos lá”. Ele lembra que, nos primeiros anos do projeto, apenas o grupo base da força naval se mantinha na Estação Ferraz durante o inverno polar _ nove meses de escuridão e temperaturas próximas de 30 graus negativos. “Muitas vezes foi a Marinha que pagou para garantir a continuação das pesquisas científicas”, afirma.

Domingos Neto reconhece essa realidade. “No momento não há condição de se alterar o comando do programa, mas, no futuro, será realmente necessário colocar os cientistas na coordenação geral do programa e no gerenciamento da Estação Ferraz”, afirma. “Mas isso será feito naturalmente, com a participação da Marinha nessa discussão”. Atualmente, o CNPq não tem sequer um orçamento específico para pagar as bolsas dos pesquisadores instalados na Antártica. Foi preciso tirar dinheiro de outras áreas do Ministério da Ciência e Tecnologia para garantir a verba de 2004. Uma forma de capitalizar as pesquisas, diz Domingos Neto, é dar mais transparência aos trabalhos realizados no gelo pelos cientistas brasileiros. “Pretendemos editar uma publicação com os resultados das pesquisas”, informa.

Cientistas

Alheios à discussão sobre o comando do Proantar, os pesquisadores brasileiros pedem apenas para não haver solução de continuidade nos trabalhos científicos realizados na Antártica. Pioneira no Brasil neste tipo de pesquisa, a professora Teresinha Monteiro Absher, idade não revelada, participa do Proantar desde dezembro de 1983. Formada em Agronomia, tem mestrado em Oceanografia pela Universidade São Paulo (USP), e doutorado, na mesma especialização, pelo Instituto Antártico Britânico, na Inglaterra. Há 12 anos, toca um projeto de estudos de invertebrados nos mares antárticos. Mexendo no gelo, acredita ser possível entender o que acontece nos trópicos. “Aqui, estamos em condição de igualdade com o resto do mundo”, afirma.

Teresinha Absher conta com a ajuda de um mergulhador profissional, Maurício Gil Viana, 26 anos, pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina. É ele que desce nas profundezas da Baía do Almirantado para buscar as armadilhas preparadas pela cientista. Estrelas-do-mar, pepinos-do-mar e moluscos de toda ordem são separados, estudados e fertilizado artificialmente em um laboratório da Estação Ferraz. A idéia, explica, Teresinha, é provar que há uma relação semelhante entre a reprodução desses animais, tanto no frio, como em mares tropicais.

Também veterano no Proantar, Armando Hadano, 45 anos, é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe). Assim como Teresinha Absher, ele foi homenageado pelo governo brasileiro durante as comemorações dos 20 anos da Estação Ferraz. Hadano fez parte da primeira expedição brasileira à Antártica, em 1982. Desde então, passou nove invernos na região. Ele pesquisa fenômenos naturais ligados à ionosfera _ camada da atmosfera por onde circulam as chamadas ondas de rádio de baixa freqüência, ou VLF (Very Low Frequency).

É um projeto voltado para o setor de telecomunicações, ainda pouco explorado pelo Brasil. Os submarinos nucleares dos Estados Unidos, por exemplo, utilizam a VLF para se comunicar com segurança. “Na Antártica, podemos entender como funcionam as interferências”, explica. “Pode parecer um estudo distante, mas é uma importante aquisição de conhecimento científico para o país”.

 
 
Fonte: Agência Brasil - Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Leandro Fortes
Fotos: Ana Nascimento/Abr.
 
 
 
 
 
 

 

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