Panorama
 
 
 
 

AVENTURA BRASILEIRA NO GELO COMPLETA 20 ANOS

Panorama Ambiental
Rio de Janeiro (RJ) – Brasil
Outubro de 2005

A primeira turma a chegar à Estação Comandante Ferraz passou 32 dias adaptando-se ao clima hostil e contava apenas com a comunicação via rádio

Punta Arenas (Chile) - O sol não terá nascido — até porque ele nunca nem se põe nesta época do ano — na alvorada deste dia 6 de fevereiro, quando autoridades federais, militares e pesquisadores estarão comemorando duas décadas de presença brasileira no fim do mundo. Exatos 20 anos antes, 12 brasileiros, entre cientistas e homens da Marinha de Guerra, se instalaram numa boca de mar conhecida pelo pomposo nome de Baía do Almirantado. Foi o marco de inserção do Brasil em um inusitado acordo internacional de ocupação territorial pacífica e compartilhada. Ali, sob a luz permanente do verão antártico, o governo brasileiro fixou moradia. Aliás, moradia é um exagero: no início, eram oito módulos habitacionais, semelhantes a containeres. A vila de caixotes de aço moldado recebeu o nome de Estação Comandante Ferraz, homenagem ao maranhense Luiz Antônio Ferraz, oficial da Marinha e um dos idealizadores do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), morto em 1982, vítima de infarto.
Ana Nascimento/Abr
Ana Nascimento/Abr
A primeira turma passou 32 dias se acostumando com o ambiente. E que ambiente. A temperatura no local varia de + 4°C no verão a – 30°C no inverno, quando o pessoal da Estação tem que sair pelo teto dos containeres para poder respirar. Essas médias climáticas só valem, no entanto, se não estiver ventando. O que nunca acontece. A velocidade do vento chega a 100 km por hora na Baía do Almirantado, o que altera sensação térmica humana. Então, se o termômetro estiver marcando 0°C, mas chegar pelo mar da Antártica uma daquelas ventanias de espantar pingüim, qualquer vivente vai se sentir em um congelador a, pelo menos, -15°C.

Esses primeiros brasileiros a se instalarem por lá não contavam com fax, satélites, computador, nem, muito menos, internet. Mantinham comunicação por rádio com outras estações estrangeiras e, de certo mesmo, só o endereço para correspondência. Aliás, o mesmo de até hoje: Baía do Almirantado, Península Keller, Ilha Rei George, Arquipélago Shetlands do Sul, Antártica (ou Antártida, tanto faz), na posição 62° 05’ latitude sul e 58° 24’ longitude oeste.

Até então, a civilização brasileira nunca tinha ido tão longe. Durante todo esse tempo, houve uma morte no Programa Antártico. Em 13 de julho de 11000, o sargento da Marinha Alberto Poppinger teve um derrame cerebral enquanto trabalhava na Estação. Mas, nem o sacrifício do sargento, nem a grandiosidade da empreitada, respondem, por si só, a uma dúvida pertinente a qualquer contribuinte brasileiro, aquele cidadão que, no fim das contas, banca essa aventura exploratória: por que o Brasil está, há 20 anos, metido no lugar mais frio e inóspito do mundo?

Há duas explicações recorrentes. Uma, comum a pesquisadores e cientistas, diz respeito à inserção do país na comunidade científica internacional instalada, há quase um século, no continente antártico. Outra, defendida de forma doutrinária pelos militares, diz respeito a uma estratégia geopolítica voltada para o futuro. Mais precisamente, para o ano 2048, quando, pelas regras do Protocolo de Madri (um anexo ao Tratado Antártico), as nações signatárias poderão começar a discutir a exploração mineral na região. Até lá, toda atividade permitida é a pesca e o turismo. O Brasil, por sinal, não atua em nenhuma das duas áreas.

“É difícil explicar para o cidadão comum um projeto de tão longo prazo”, reconhece o almirante José Geraldo Fernandes Nunes, titular da Secretaria da Comissão Interministerial para Recursos do Mar (Secirm), órgão da Marinha onde está apensado o Programa Antártico. “Mas muitas pesquisas já apresentam resultados práticos para a vida dos brasileiros”. Entre elas, cita o almirante, está o monitoramento meteorológico da Antártica. Graças a esse serviço, é possível prever a chegada de frentes frias no sul do Brasil. Com essa informação disponível, os produtores agrícolas da região disparam foguetes recheados de ligas metálicas nas nuvens identificadas. Com isso, dissipam tempestades de granizo antes de elas destruírem as plantações.

O almirante Fernandes atravessou o continente para participar das comemorações dos 20 anos da Estação Ferraz. A lista de convidados inclui, ainda, o ministro da Defesa, José Viegas, e os comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica. O militar é um entusiasta do Proantar, mas preocupa-se com a redução sistemática do orçamento do programa.

Cada uma das sete missões anuais promovidas pelos comandos da Marinha e da Aeronáutica custa, em média, R$ 10 milhões. Isso apenas com a chamada operação logística das duas forças. O orçamento do Proantar, para 2004, é de R$ 1,5 milhão. É pouco dinheiro e, para piorar, está sendo reduzido ano a ano. Esse achatamento, diz o almirante Fernandes, está provocando um desequilíbrio nas contas da Marinha. “A força naval acaba tendo que tirar dinheiro do próprio orçamento para garantir a manutenção dos trabalhos”, explica.

A Marinha mantém um navio oceanográfico, o “Ary Rongel”, durante cinco meses na Antártica. A embarcação, construída em 1981, foi comprada da Noruega em 1994. Ela serve de apoio logístico para a Estação Ferraz, opera helicópteros de pequeno porte, transporta carga e pesquisadores, mas é vítima constante dos péssimos humores do Mar de Drake (que separa a América do Sul da Antártica) e dos icebergs. Assim, tem que passar por reparos anuais. O barco fica seis meses, durante o inverno austral, estacionado no Arsenal de Marinha, no Rio de Janeiro. Cada manutenção desta custa entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões, todo ano.

Atualmente, a Estação Comandante Ferraz conta com 64 módulos habitacionais, também utilizados como laboratórios de pesquisa, alojamento, centro de saúde e cozinha. Lá, um grupo base de 10 militares da Marinha permanece por um ano _ 12 meses ininterruptos, sem sair da Estação. Os contêineres também abrigam 24 pesquisadores no verão e outros sete no inverno.

 
 
Fonte: Agência Brasil - Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Leandro Fortes
Fotos: Ana Nascimento/Abr.
 
 
 
 
 
 

 

Universo Ambiental  
 
 
 
 
     
SEJA UM PATROCINADOR
CORPORATIVO
A Agência Ambiental Pick-upau busca parcerias corporativas para ampliar sua rede de atuação e intensificar suas propostas de desenvolvimento sustentável e atividades que promovam a conservação e a preservação dos recursos naturais do planeta.

 
 
 
 
Doe Agora
Destaques
Biblioteca
     
Doar para a Agência Ambiental Pick-upau é uma forma de somar esforços para viabilizar esses projetos de conservação da natureza. A Agência Ambiental Pick-upau é uma organização sem fins lucrativos, que depende de contribuições de pessoas físicas e jurídicas.
Conheça um pouco mais sobre a história da Agência Ambiental Pick-upau por meio da cronologia de matérias e artigos.
O Projeto Outono tem como objetivo promover a educação, a manutenção e a preservação ambiental através da leitura e do conhecimento. Conheça a Biblioteca da Agência Ambiental Pick-upau e saiba como doar.
             
       
 
 
 
 
     
TORNE-SE UM VOLUNTÁRIO
DOE SEU TEMPO
Para doar algumas horas em prol da preservação da natureza, você não precisa, necessariamente, ser um especialista, basta ser solidário e desejar colaborar com a Agência Ambiental Pick-upau e suas atividades.

 
 
 
 
Compromissos
Fale Conosco
Pesquise
     
Conheça o Programa de Compliance e a Governança Institucional da Agência Ambiental Pick-upau sobre políticas de combate à corrupção, igualdade de gênero e racial, direito das mulheres e combate ao assédio no trabalho.
Entre em contato com a Agência Ambiental Pick-upau. Tire suas dúvidas e saiba como você pode apoiar nosso trabalho.
O Portal Pick-upau disponibiliza um banco de informações ambientais com mais de 35 mil páginas de conteúdo online gratuito.
             
       
 
 
 
 
 
Ajude a Organização na conservação ambiental.