17/10/2005 - Com apoio dos ministérios
do Meio Ambiente e da Cultura, a biografia do
ecologista e ex-secretário de Meio Ambiente
da Presidência da República, José
Lutzenberger, terá lançamento
nacional nesta sexta-feira (21), em Brasília
(DF). Sinfonia Inacabada, obra da jornalista
Lilian Dreyer, descreve a trajetória
do agrônomo gaúcho que, aos 44
anos, abandonou seu trabalho na indústria
química e iniciou uma jornada que o tornou
um dos grandes nomes do ambientalismo internacional.
MMA
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O
lançamento será no auditório
do Ministério da Cultura (Esplanada
dos Ministérios, Bloco B), a
partir das 9h. A ministra do Meio Ambiente,
Marina Silva, e o secretário
de Fomento e Incentivo à Cultura
do Ministério da Cultura, Sérgio
Xavier, abrem o evento. Também
participarão da atividade o secretário-executivo
do MMA Claudio Langone, a professora
da Universidade de Brasília Maria
do Carmo Lima Bezerra e o jornalista
Washington Novaes. O evento no Distrito
Federal é o primeiro de um ciclo
de painéis que chegará
a várias capitais brasileiras.
A divulgação da biografia
de Lutzenberger busca levar ao grande
público uma visão de mundo
inovadora e também alimentar
um processo cultural mais amplo, focando
a questão do desenvolvimento
nas diversas regiões brasileiras
dentro de uma visão ecológica.
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MMA
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Histórico - Lutz,
como era chamado entre ambientalistas, nasceu
em 17 de dezembro de 1926, em Porto Alegre (RS).
Formado em Agronomia, trabalhou por anos para
empresas voltadas à produção
de adubos e químicos, no Brasil e no
Exterior. Em 1971, abandonou uma carreira de
treze anos como executivo da indústria
alemã Basf para denunciar o uso indiscriminado
de agrotóxicos nas lavouras do Rio Grande
do Sul, voltando-se em definitivo ao ambientalismo.
Foi um dos fundadores da
Associação Gaúcha de
Proteção ao Ambiente Natural
(Agapan), uma das entidades ambientalistas
mais antigas do País. Em 1987, criou
a Fundação Gaia, que até
hoje promove o desenvolvimento sustentável,
a agricultura regenerativa, a educação
ambiental e a reciclagem do lixo.
Um dos exemplos de seu trabalho
foi a campanha contra a fabricante norueguesa
de celulose Borregaard, em 1974, que tornava
insuportável o ar na região
metropolitana de Porto Alegre. A fábrica
chegou a ser fechada para melhorias nos equipamentos.
Após a venda da planta a brasileiros,
Lutz participou de um projeto para torná-la
um exemplo de que é possível
conciliar desenvolvimento e respeito ao meio
ambiente.
Outros projetos liderados
pelo agrônomo foram: levantamento das
áreas de parques da Guarita e de Itapeva;
projeto, execução e manutenção
do Parque da Guarita; projeto e implantação
do Parque da Doca Turística, em Porto
Alegre; coordenação dos Estudos
Ecológicos do Plano Diretor do Parque
Estadual do Delta do Jacuí; entre outros.
Em março de 11000,
Lutzenberger foi nomeado secretário-especial
do Meio Ambiente da Presidência da República,
no mandato de Fernando Collor de Mello. Até
1992, quando deixou o cargo, o ambientalista
contribuiu para a demarcação
de áreas indígenas, como a dos
Yanomamis, na decisão do Brasil de
abandonar a fabricação da bomba
atômica, na assinatura do Tratado da
Antártida e na Convenção
das Baleias. Participou, ainda, dos encontros
preparatórios à Rio92.
O trabalho de Lutzenberger
foi focado na agricultura regenerativa e no
uso equilibrado dos recursos não-renováveis.
Nunca deixou de alertar sobre os perigos que
o atual modelo de desenvolvimento representa
para a humanidade em nível ecológico
e social.
Ao longo de sua vida, o
ecologista participou de mais de oitenta encontros
nacionais e mais de quarenta internacionais.
Recebeu mais de quarenta prêmios, entre
eles o Right Livelihood Award (Nobel Alternativo),
em 1988, 25 distinções e mais
de dez homenagens especiais. Lutzenberger
faleceu em 14 de maio de 2002, aos 75 anos.
Trechos de Sinfonia
Inacabada
Lutzenberger endossava a
hipótese Gaia, definida pelo pesquisador
britânico Lovelock e pela norte-americana
Margulis, a qual sustenta que a Terra não
é um mero conjunto de biomas, mas um
sistema integrado, com "intencionalidade"
e espantosa capacidade de auto-regulação,
a que eles deram o nome da deusa grega da
terra, Gaia. Lutzenberger, que era amigo de
Lovelock, em 1987 também publicou um
livro sobre o tema, Gaia - O Planeta Vivo;
nele Lutz retoma os dados estritamente científicos
que conduziram à hipótese Gaia,
e ao mesmo tempo defende para a civilização
o caminho das chamadas tecnologias brandas,
um caminho suave de adequação
à Gaia por parte do Ser Humano - talvez
o Ser surgido para que este complexo sistema
vivo possa olhar-se consciente mente a si
mesmo, apreciar-se a si mesmo e, desse momento
em diante, evoluir com consciência.
Recorrendo à experiência
pregressa que lhe dizia ser possível
transformar problemas em soluções,
Lutzenberger passou a centrar seus esforços
em uma idéia ousada, mas factível:
a partir do zoneamento do território
nacional, criar projetos de desenvolvimento
das economias regionais dentro de uma visão
ecológica, a serem oferecidos no exterior.
A proposta, em síntese, era converter
a dívida externa brasileira em projetos
ambientais - mas concebidos dentro de visão
e acompanhamento ecológico abrangente.
Não estaria contida aí nenhuma
ameaça à soberania brasileira,
pelo contrário, criar-se-iam fórmulas
para conter a crescente - e silenciosa - desnacionalização
que projetos mega-tecnológicos estrangeiros
vinham impondo à Amazônia desde
a ditadura militar. A Rio-92 seria a grande
oportunidade de propor e validar um fórum
internacional para implementação
dessa alternativa.
As florestas tropicais úmidas,
como a da Amazônia, são bem mais
vitais para o clima planetário do que
as florestas temperadas e boreais ou do que
a tundra. Na verdade, sabemos pouco sobre
a interação dos biomas entre
si e com o clima global, mas sabemos que toda
devastação degrada o sistema
global. Assim, não tem sentido o argumento,
tão comum no Brasil, de que temos o
direito de derrubar as florestas porque aqueles
países que agora nos aconselham a preservar
fizeram seu progresso derrubando suas próprias
florestas. Os erros cometidos não justificam
novos erros, e assim como temos o direito
de reivindicar um compromisso internacional
com a viabilização econômica
destas áreas, temos de admitir que
derrubar ou não a floresta não
é assunto exclusivamente nosso, pois
afetará de modo direto a vida bem longe
daqui.