19/10/2005
- Em protesto contra a atual situação
da saúde indígena no Vale do Javari,
considerada de total caos pelas lideranças
da região, mais de cem indígenas
dos povos Marubo, Mayoruna, Matis, Kanamari
e Kulina, ocupam desde o dia sábado,
15/10, a sede administrativa da Funasa de Atalaia
do Norte. A ocupação também
é uma medida de protesto contra a partidarização
daquele órgão de saúde
indígena, que por determinação
do atual Coordenador Regional da Funasa do Amazonas,
Francisco Ayres, foi entregue para ser chefiado
pelo coronel Cláudio Gomes, cunhado do
Prefeito de Atalaia do Norte, Rosário
Conte Galate Neto, antipatizado pelos indígenas
por ter dado declarações preconceituosas
e sempre se posicionar politicamente contra
a causa indígena. “A Prefeitura de Atalaia
do Norte nunca assumiu sua responsabilidade
com a saúde indígena do Vale do
Javari e o atual Prefeito é acostumado,
inclusive, a incitar entre os brancos a violência
contra os índios, portanto não
será agora, em véspera de campanha
eleitoral, que o coronel Cláudio Gomes,
que também é cunhado do Prefeito,
resolverá o problema dos índios.
Nós conhecemos a sua intenção,
que não é boa, por isso estamos
de olhos bem abertos”, diz o líder indígena
Clóvis Rufino Reis Marubo.
Clóvis
faz uma revelação gravíssima
afirmando ter sido informado por um dos vereadores
da Câmara Municipal de Atalaia do Norte,
que o objetivo declarado pelo atual Prefeito
é fazer da Funasa local um balcão
de empregos da sua família e de aliados
políticos comprometidos em eleger o coronel
na próxima campanha municipal. “Os indígenas
jamais deixarão que o Prefeito de Atalaia
do Norte faça da Funasa local cozinha
da sua casa”, diz o líder, apresentando
documentos que comprovam a aplicação
irregular de recursos públicos oriundos
dos Programas Incentivo de Atenção
Básica dos Povos Indígenas e Ações
Básicas de Vigilância Sanitária,
ambos do Fundo Nacional de Saúde, estimados
no valor de R$ 221. 957, 78 (Duzentos e Vinte
e Um Mil Novecentos e Cinqüenta e Sete
Reais e Setenta e Oito Centavos), somente nos
últimos seis meses.
Acrescenta ainda
inúmeros exemplos de descaso e desrespeito
contra os índios cometidos pelo Prefeito
de Atalaia do Norte, tais como a extinção
do Centro de Treinamento e Pesquisa “Sorriso
do Saber”, do Curso de Formação
de Professores Indígenas, irregularidades
no pagamento de professores, não regularização
das escolas indígenas, falta de materiais
didáticos, falta de transporte escolar
e suspeita de compra de votos com recursos da
educação. “As escolas do Vale
do Javari são improvisadas e muitas funcionam
até mesmo debaixo de árvores grandes,
ao relento. Por isso, esse Prefeito não
tem moral para falar dos indígenas, pois
quem promove farras com o dinheiro público
é ele”, diz Clóvis Marubo. O Conselho
Indígena do Vale do Javari (Civaja) acionou
o atual Prefeito no Ministério Público
Federal para dar explicações sobre
todas essas irregularidades na gestão
dos recursos públicos destinados às
políticas indígenas do Vale do
Javari.
Segundo o Coordenador
do Civaja, Jorge Duarte Marubo, 26 anos, mais
da metade da população indígena
do Vale do Javari, que é de 3. 215 habitantes,
está contaminada com malária e
outra parte com hepatites virais e diversas
outras doenças. As crianças morrem
de desidratação e desnutrição.
“Nós não temos nenhum futuro,
pois a população indígena
do Vale do Javari está sendo exterminada”,
afirma em desespero o coordenador, que propõe
que seja feita uma campanha internacional para
socorrer os indígenas vítimas
do descaso do Poder Público.
O Coordenador
Geral da Coordenação das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira
(Coiab), Jecinaldo Barbosa Cabral, critica a
falta de habilidade política do Coordenador
Regional da Funasa no Amazonas, Francisco Ayres,
afirmando que é necessário entender
a problemática do Vale do Javari para
somente depois tomar medidas administrativas,
com conhecimento de causa, a fim de não
prejudicar ou não orientar de forma equivocada
a execução das políticas
públicas para a população
que vive naquela região. “Os indígenas
ocuparam o prédio da Funasa de Atalaia
do Norte protestando contra a nomeação
do coronel Cláudio Gomes. Isso é
assunto particular que deve ser respeitado pelo
atual Coordenador da Funasa no Amazonas. Mas
ocuparam também com o objetivo de chamar
a atenção do Mundo para a sua
grave situação. Em vista disso,
nós precisamos entender o seu desespero
e reconhecer que aquela população
está morrendo muito rapidamente”, afirma
Jecinaldo Cabral. O coordenador da Coiab conclui
ressaltando que tudo o que a direção
da Funasa no Amazonas consegue fazer em relação
a isso é manter sua postura rígida
de não querer ou não procurar
o caminho do diálogo.
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