Tefé, 22.10.05, manhã
No dia 21 subimos o
Madeira até Porto Velho e retornamos
pelo Purus. Na manhã seguinte partimos
às 7h10, para aproveitar bem o dia. Já
temos algumas boas fotos, mas faltam depoimentos
de pessoas impactadas pela seca. Sobrevoamos
o rio Purus. Informações já
coletadas por telefone dão conta de que
em Lábrea está chovendo e o rio
já subiu um pouco. Os barcos que não
podiam passar já superaram os bancos
de areia. Sobrevoamos os municípios de
Canutama e Tapauá. O rio Mucuim, fonte
de peixes para a alimentação da
população local, quase parece
um areal.
Alguns minutos depois,
estamos sobre o imenso lago de Coari,
quase totalmente seco, coberto por um
capim verdinho, que cresceu no que antes
era o leito do lago. Seus formadores,
como o rio Urucu, se tornaram filetes
da água. Felizmente, dá
para ver que a água acaba de
começar a subir, pois pequenas
porções de capim já
estão submersas.
A seguir, sobrevoamos um pequeno pedaço
da Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Mamirauá, na maior área
de floresta tropical inundada do mundo.
Os lagos da reserva, ainda com algum
espelho d’água e cobertura verde
nos pedaços secos, não
rendem boas imagens ilustrativas da
estiagem.
É verdade, devido à enorme
diferença existente entre o Mamiaruá
cheio e o vazio. Afinal, mesmo onde
hoje vemos uma floresta uniforme, temos
de lembrar de
espaços que, durante a cheia,
são totalmente tomados pela água. |
Apenas as copas não
ficam submersas. Lembrando disso, pode-se pensar
na quantidade de água faltando ali e
ter uma idéia da extensão da seca.
No caminho para Tefé, logo na saída
da reserva, no rio Solimões, damos de
cara com a que pode ser `a imagem` de seca do
dia. No meio de um banco de areia, uma balsa
encalhada espera a subida das águas para
seguir viagem. Sobre ela, um carro. O banco
de areia toma mais de 60% da largura do leito
do Solimões nesse trecho. O principal
curso fluvial da Amazônia e do mundo parece
o deserto do Sahara. A balsa está bem
no meio. Há quanto tempo estaria ali?
Damos uma dezena de voltas a seu redor, para
conseguir a melhor foto, a melhor imagem. Pouco
depois das 11h, chegamos a Tefé. O lago
da cidade também está extremamente
baixo.
Vamos imediatamente do aeroporto
até o porto. A rampa de concreto termina
na imensa praia branca, extensa, diante da
cidade. Entrevistamos pescadores que sofrem
com a seca, pois as entradas dos lagos da
região, ricos em peixes, estão
bloqueadas pelos bancos de areia e a pesca
acaba restrita ao leito principal do Solimões,
onde os peixes se concentram nas áreas
mais profundas, dificultando a captura. Para
o pescador `seu` Natal, essa é a seca
mais forte já vista, em seus 37 anos
de idade. “Só é igual a uma
de quando eu era menino”.
Os pescadores nos contam
que aquela balsa com o carro em cima está
parada no Solimões desde o início
da seca, há cerca de dois meses. Encalhara
pouco antes de o banco de areia vir à
tona e se tornar visível. Viu a areia
crescer na ampulheta do tempo, dunas se formando
a seu redor, dia após dia.
Fazemos uma pausa para almoçar,
enquanto buscamos contatos sobre outras histórias
para ver à tarde.
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