27/10/2005 - Um trabalho
de pesquisa iniciado em 1952 por pesquisadores
da Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz (Esalq), em Piracicaba-SP, tem viabilizado
o resgate de cultivares tradicionais de milho
indígena e sua reintrodução
em comunidades que perderam suas variedades.
Naquela data, pesquisadores iniciaram o estudo
das raças de milho existentes no Brasil
e a variabilidade genética começou
a ser preservada em bancos de germoplasma.
Expedições e visitas a aldeias
na década de 1970 foram responsáveis
pela coleta de mais de três mil amostras,
acervo transferido para a Embrapa Milho e
Sorgo (Sete Lagoas-MG) e Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia (Brasília-DF).
Pesquisadores das duas Unidades
enriqueceram o banco com a recuperação
de mais 1500 cultivares, coletadas em 10 expedições.
Hoje, cinco povos indígenas – krahôs,
xavantes, bororos, karajás xambrionás
e maxacalis – já foram beneficiados
com a preservação dessas cultivares,
perdidas ao longo dos anos pelo avanço
da fronteira agrícola e pela substituição
do cultivo do milho nas aldeias por outros
cereais, como o arroz. Como explica o pesquisador
Ramiro Vilela de Andrade, da Embrapa Milho
e Sorgo, as variedades tradicionais indígenas
representam muito na cultura desses povos.
“Não se trata apenas do cultivo do
milho. As variedades tradicionais têm
importância na alimentação,
na culinária e em tradições
culturais, como na realização
de festividades, cerimônias e intercâmbio
entre aldeias”, relata.
Segundo Vilela, os povos xavantes, por exemplo,
que habitam o estado de Mato Grosso, depois
que perderam as cultivares de milho abandonaram
também algumas tradições,
como a realização de danças
e rituais, ocasiões em que eram usadas
sementes do cereal. O trabalho de resgate
dessas variedades tradicionais é complexo.
Depois de coletadas, as sementes que ficaram
armazenadas durante anos no banco ativo de
germoplasma (BAG) da Embrapa Milho e Sorgo,
precisam ser multiplicadas em condições
parecidas com as de clima e solo de onde vieram.
“Uma das soluções encontradas
foi a multiplicação das sementes
em campos isolados no Campo Experimental da
Embrapa Milho e Sorgo em Janaúba-MG,
por estar no mesmo paralelo da aldeia dos
xavantes”, exemplifica o pesquisador.
Hoje aparecem os primeiros
resultados do trabalho de resgate das cultivares
indígenas. Os povos krahôs, primeira
comunidade beneficiada pelo trabalho, receberam
em 1996 pequenas amostras de 13 variedades
tradicionais. Infelizmente a quantidade foi
insuficiente e os índios acabaram perdendo
o material. “Em 2004 foi possível ampliar
a quantidade de sementes de quatro variedades
e foram entregues mais 400 kg”, explica Ramiro
Vilela. Ramiro e a pesquisadora Flávia
França Teixeira, também da Embrapa
Milho e Sorgo, estão a frente do projeto.
No ano passado, foram distribuídos
200 kg de sementes para os povos bororos,
em Mato Grosso, e 30 kg foram entregues aos
povos karajás xambrionás, em
Tocantins. O último povo beneficiado
foram os maxacalis, que habitam a região
do Vale do Mucuri mineiro, que receberam cerca
de 370 kg de sementes.
Mais quatro aldeias
serão beneficiadas
Todas as cultivares indígenas
armazenadas no banco ativo de germoplasma
da Embrapa Milho e Sorgo são farináceas
e o uso pelos indígenas é diversificado,
sendo consumidas como mingau, canjica ou milho
verde. Depois de multiplicadas, a Fundação
Nacional do Índio (Funai) é
responsável pelo acompanhamento do
processo de introdução das variedades
nas aldeias. O trabalho social da Embrapa
Milho e Sorgo e da Funai irá beneficiar
mais quatro povos indígenas até
o início de novembro. Os povos macurapis,
com concentrações em Rondônia
e no Acre, receberão 40 kg de sementes
do milho atiti ou nhãnhei õp,
também conhecido como milho vermelho
(RO 013). Essa cultivar foi coletada em 1980
no município de Guajará Mirim,
em Rondônia, na fronteira entre Brasil
e Bolívia.
Aldeias dos povos xavantes,
em Mato Grosso, que não foram contempladas
na primeira distribuição em
2003, e os xerentes, no Tocantins, também
serão beneficiados com a entrega de
225 kg de sementes das cultivares Nödzöb
Udzé, Nödzöb Rãré,
Nödzöb Pré e Nödzöb
Awawi, todas coletadas em 1979 em Mato Grosso.
Além das quatro aldeias, o escritório
da Funai em Brasília receberá
130 kg de cultivares para distribuição
para outros povos, já contemplados
em campanhas anteriores. Até o final
do ano, os povos pataxós, localizados
na Bahia, também devem receber sementes
que ainda estão sendo multiplicadas.
Outras informações podem ser
solicitadas à área de comunicação
empresarial da Embrapa Milho e Sorgo, Unidade
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária,
vinculada ao Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, pelo telefone
(31) 3779-1059 ou pelo e-mail gfviana@cnpms.embrapa.br
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