27/10/2005 – A Fundação
Nacional de Saúde (Funasa) afirmou
que três crianças indígenas,
da etnia marubo, morreram em setembro no Amazonas,
no Vale do Javari, em conseqüência
da seca. O Conselho Indígena do Vale
do Javari (Civaja), entretanto, contesta a
justificativa das mortes.
"As crianças
morreram de diarréia e desnutrição,
por causa da qualidade da água e dos
peixes. É um número atípico
para esta época do ano – o número
de casos de diarréia costuma ser maior
em janeiro, na época da cheia. Mas
ainda assim é um número baixo,
diante da gravidade do problema da contaminação
dos peixes que os índios consomem",
disse Maria Margareth Machado, enfermeira
responsável pelo Núcleo de Acompanhamento
e Assessoramento de Saúde Indígena
da Funasa no estado.
"Todos os índios
do Vale do Javari moram em terra firme, e
a questão da seca não é
problema. O problema mesmo é a falta
de assistência de qualidade. Inclusive
as três crianças que morreram
não são da etnia marubo, foram
crianças kanamari. A desnutrição
está atingindo apenas esse povo",
argumentou Clóvis Marubo, conselheiro
do Conselho Indígena do Vale do Javari
(Civaja).
Segundo Clóvis, os
54 agentes de saúde indígenas
que atuam na região estão sem
capacitação e medicamentos.
"Quando a Funasa fez o primeiro convênio
com o Civaja, em 1999, a gente tinha autonomia
para cuidar do atendimento à saúde
indígena. No convênio atual,
com a Associação de Moradores
Indígenas de Atalaia do Norte (Amiatã),
a organização indígena
é responsável apenas pela contratação
de pessoal", contou.
De acordo com os dados do
Civaja, 3.215 indígenas vivem no lado
brasileiro do Vale do Javari, no município
de Atalaia do Norte, que fica na fronteira
com o Peru e a Colômbia. Eles pertencem
a cinco etnias: Mayoruna, Matis, Kanamari,
Marubo e Kulina.
Entre 21 de julho e 30 de
agosto, a Funasa comandou a força-tarefa
Vale do Javari, que contou com a participação
de 26 profissionais de saúde (médicos,
enfermeiros e técnicos de enfermagem)
e com o apoio da Fundação de
Vigilância em Saúde (FVS), órgão
estadual, e do Exército Brasileiro.
A operação conseguiu reduzir
de 613 para apenas um o número de casos
de indígenas com malária. "A
malária já está voltando;
as grandes missões-relâmpago
não resolvem o problema", afirmou
o líder marubo.
A Funasa não informou
o número de indígenas que morreram
de diarréia e desnutrição
no Vale do Javari, em setembro do ano passado.