27/10/2005 - Hoje, 27 de
outubro, é o dia em que a Noruega vai
parar. Cerca de 150 mil estudantes estarão
dedicados a diversas atividades para arrecadar
recursos para a campanha deste ano cujo tema
é o tráfico de seres humanos
para exploração sexual e comercial
no Brasil. Com os jovens noruegueses estão
20 brasileiros, três deles quilombolas
do Vale do Ribeira, em São Paulo.
Os 20 brasileiros, que estão
na Noruega, participaram de uma semana internacional,
que começou no dia 24 de outubro, abordando
o tema tráfico de seres humanos para
exploração sexual comercial
no Brasil, com foco em mulheres e crianças.
A semana termina hoje, 27 de outubro, com
a Operação Dia de Trabalho.
Nesse dia, os estudantes param o país
para conscientizar a população
norueguesa sobre o tema escolhido e arrecadar
recursos.
Os jovens estão representando
as organizações brasileiras
Instituto Socioambiental (ISA), Diaconia,
Viva Rio, Ação Educativa e Serviço
à Mulher Marginalizada, que, em parceria
com a Norwegian Church Aid – NCA -, desenvolveram
um projeto que irá apoiar o combate
a esse tipo de crime no Brasil.
A idéia é
trabalhar com populações excluídas
de direitos básicos, oferecendo condições
para que crianças, adolescentes e mulheres
se retirem das situações de
imobilidade social e falta de perspectivas
de futuro, tornando-as alvos fáceis
de redes criminosas que promovem diversas
formas de escravidão.
O grupo de brasileiros conta
com três quilombolas do Vale do Ribeira
- Ivonete Alves da Silva, Juliana Dias dos
Santos e André Luís Pereira
de Moraes - e um é técnico do
ISA - Fabio Zaniratto. Por meio do Programa
Vale do Ribeira em parceria com a Associação
Quilombo de Ivaporunduva, o ISA mantém
um projeto de superação da pobreza
e valorização cultural para
apoiar os jovens das comunidades de quilombos
(remanescentes de escravos) daquela região
do Estado de São Paulo. (veja abaixo
mais informações sobre o projeto)
Tráfico de
Seres Humanos
Anualmente o tráfico
de seres humanos movimenta cerca de US$ 2
bilhões no mundo. É a terceira
mais lucrativa atividade ilegal, perdendo
apenas para tráfico de armamentos e
drogas. A legislação é
frágil e não há diálogo
entre as leis de países (neste caso,
compradores e vendedores) na punição
aos criminosos. Um outro fator que dificulta
é a invisibilidade do negócio,
difícil de ser triado, difícil
de ser castigado. A demanda de países
como Espanha, Itália, Suíça
Israel, Estados Unidos e Japão se soma
à impunidade e se "encaixa"
perfeitamente no perfil da "oferta"
(ou da mercadoria preferida pelos compradores):
crianças, adolescentes e mulheres afrodescendentes,
de baixa renda, geralmente também de
baixa escolaridade e provenientes das regiões
pobres do Brasil, principalmente do Nordeste.
O tripé demanda-oferta-impunidade
é o foco do projeto das organizações
brasileiras que, com o apoio da campanha dos
estudantes noruegueses, visa trabalhar com
ênfase na juventude e abordagens transversais
de educação e cultura, diversidade,
violência e direitos humanos.
A Noruega, país de
4 milhões de habitantes (equivalente
à zona leste de São Paulo) e
detentor do melhor Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH), destina 1% Produto Interno Bruto
(PIB) para projetos em países periféricos,
como o Brasil, campeão mundial da desigualdade
e 65º colocado no ranking do desenvolvimento
humano.
Christian Schøien,
da Norwegian Church Aid, afirma que parte
desses recursos é destinada à
operação, que tem como objetivo
lutar pela concretização dos
direitos humanos e, ao mesmo tempo, propiciar
um olhar diferente aos estudantes noruegueses.
"Queremos mobilizar os jovens para que
participem da construção de
um mundo mais justo, mas para isto eles têm
que conhecer os problemas, enxergar uma realidade
diversa da deles", diz. A idéia
do projeto, portanto, é de, além
de apoiar o combate ao tráfico no Brasil,
sensibilizar os jovens noruegueses para que
eles não dêem prosseguimento
a esta demanda, num futuro próximo.
Brasileiros participam
pela primeira vez
Durante a semana internacional
que começou no dia 24 de outubro, o
material do dia-a-dia foi substituído
por revistas, folders, textos e vídeos
em seminários por todo país.
Os 20 jovens brasileiros fizeram palestras
e apresentações em todos os
distritos do país sobre a realidade
brasileira e o tráfico de seres humanos.
Queriam, dessa forma, mostrar que a criação
de condições para retirar os
jovens da imobilidade social oferecendo-lhes
uma perspectiva de futuro, pode ser antídoto
eficiente contra o aliciamento do tráfico.
Este ano foi o primeiro
em que representantes de organizações
do país-alvo da campanha participaram
da concepção do material para
a mobilização. Duas brasileiras
estiveram no começo do mês de
julho em Oslo e participaram de um seminário
com 80 estudantes entre membros do comitê
nacional da Operação Dia de
Trabalho e dos conselhos escolares de todo
país. Neste encontro, os jovens começaram
a discutir a semana internacional de outubro.
Em junho, três integrantes
do comitê nacional viajaram ao Brasil
e voltaram para uma nova série de reuniões
pela Noruega. Em setembro, os 20 jovens brasileiros
se reuniram em um seminário preparatório
para a viagem. No dia 6 de outubro, viajam
para a Noruega para os trabalhos da semana
internacional e do Dia de Trabalho.
A participação
do ISA e os jovens quilombolas do Ribeira
Da mesma forma como outras
comunidades de jovens das regiões periféricas
e pobres brasileiras, a juventude quilombola
do Vale do Ribeira, em São Paulo, se
ressente de alternativas que possam conjugar
a melhoria da qualidade de vida, o acesso
à educação, aos bens
materiais, à cultura e ao lazer, que
valorizem sua auto-estima e assegurem sua
permanência junto às suas famílias
e comunidades. A total falta de perspectiva
faz com que os jovens abandonem suas comunidades
e se arrisquem nos grande centros urbanos
em busca de oportunidades, sujeitando-se a
todos os tipos de humilhação
e constrangimentos. Sem falar nas situações
de alto risco, que se configuram muitas vezes
em novas formas de escravidão, fazendo-os
reviver a situação de seus antepassados.
Por essa razão, o
ISA deu início ao projeto de superação
da pobreza e valorização cultural
voltado a esse público. Estão
envolvidas 563 famílias remanescentes
de quilombos do Vale do Ribeira, distribuídas
em 12 comunidades: Ivaporunduva, Maria Rosa,
Pedro Cubas, Pilões, São Pedro,
André Lopes, Nhunguara, Sapatu, Galvão,
Praia Grande, Pedro Cubas de Cima e Bombas.
Estima-se que a população com
faixa etária entre 13 e 19 anos seja
de 450 pessoas. De forma indireta, esse projeto
poderá contribuir para a formulação
de póliticas públicas para jovens
quilombolas de todo o País. As principais
metas a serem alcançadas são:
:: incentivar a ativide
artesanal como alternativa para ageração
de trabalho e renda
:: promover a inclusão
digital dessa população com
a implantação de telecentro
comunitário
:: apoiar a implantação
de um programa de educação e
cidadania de afrodescendentes e carentes para
promove o acesso à universidade
:: implementar um programa
regional de repovoamento do palmiteiro juçara
nas comunidades como forma de viabilizar o
manejo para gerar renda, de forma sustentável
(social e ambiental)
:: consolidar atividades
de ecoturismo nas comunidades
:: resgatar tradições
culturais retomandoa-s no cotidiano, como
cantos e danças
:: contribuir para a formulação
de políticas públicas adequadas
para os jovens.