12/11/2005 - Chamado de
"guardião dos povos invisíveis",
numa referência aos seus 43 anos como
sertanista voltado para a causa dos índios
isolados na Amazônia, Sidney Possuelo
já foi presidente da Fundação
Nacional do Índio (Funai) e hoje, como
coordenador-geral da área de Índios
Isolados da instituição, mantém
uma certeza: "Ainda há muito o
que fazer para manter essas comunidades verdadeiramente
isoladas e bem longe do progresso".
Possuelo destaca que, diferentemente
de outros povos indígenas, os isolados
não mantêm contato com a sociedade
e não estão organizados para
reivindicar seus direitos. "Existe um
segmento silencioso, que não se faz
representar no nosso meio. A esses índios
nós chamamos índios isolados.
Eles vivem nas florestas mais distantes, vivem
da caça e da pesca, de um modo geral
desnudos. Eles são os povos mais próximos
daquilo que os descobridores do Brasil viram
pela primeira vez", explica.
Após participar do
1º Encontro Internacional sobre Povos
Indígenas Isolados da Amazônia,
que aconteceu entre os dias 8 e 11 de novembro,
em Belém, Possuelo diz acreditar na
possibilidade de que pesquisadores e indigenistas
do Brasil, Bolívia, Equador, Colômbia,
Peru, Venezuela e Paraguai consigam convencer
seus governos a criar mecanismos legais que
garantam a preservação desses
povos.
O documento elaborado ao
final do encontro será encaminhado
aos presidentes de todos os países
presentes ao evento. No Brasil, deverá
ser entregue, à Funai, ao Congresso
Nacional e aos ministérios ligados
à questão indígena, além
das universidades. O texto propõe a
criação de dispositivos legais
e ações de campo que possam
proteger os povos isolados.
"Nós nos reunimos
pela falta de dispositivos legais nesses países
e, inclusive, um pouco também no Brasil,
onde temos alguma legislação,
mas ainda, precária e pobre",
afirmou Possuelo à Agência Brasil,
de um hotel à beira do Rio Gamu, próximo
a Belém. Gamu na língua indígena
significa "alegria".
Segundo ele, uma das propostas
cita a inclusão de dispositivos na
Carta da Organização Internacional
do Trabalho (OIT) para garantir a preservação
da cultura dos povos indígenas. "São
referências nas leis que possam ser
utilizadas na defesa desses povos que existem
também fora das fronteiras brasileiras".
A Carta da OIT, que é
ratificada pelo Brasil e pelos demais países
da América do Sul que compartilham
a Amazônia, fala sobre as condições
dos povos indígenas do mundo na América
do Sul, traçando parâmetros e
cuidados que os Estados devem ter para com
esses povos, de respeito às suas diferenças
e de atenção nas questões
ligadas à saúde e educação,
por exemplo. "Nesse caso, estamos solicitando
também que seja ampliado o dispositivo
sobre a proteção dos povos isolados".