09/11/2005 - A quinta reportagem
da série São Gabriel planeja
seu futuro aborda a presença militar
na região. São cerca de mil
militares, hoje, e de acordo com o General
de Brigada Jorge Alberto Duardes Boabaid,
comandante da 2ª Brigada de Infantaria
de Selva, o contingente militar ultrapassará
os dois mil em 2007.
Cerca de mil militares vivem
no município de São Gabriel
da Cachoeira, metade deles lotada nos sete
pelotões inseridos em pontos estratégicos
da floresta, junto às fronteiras com
Colômbia e Venezuela. Entre os 500 que
vivem na cidade de São Gabriel, a maioria
é composta por cabos e soldados, patentes
ocupadas principalmente por homens nativos
da região, muitos dos quais índios.
Os oficiais vivem nas 180 casas que formam
a vila militar da localidade, um dos bairros
melhor estruturados da cidade.
A atuação
militar na região mudou desde setembro
do ano passado, quando a Lei nº 117 deu
poder de polícia para os integrantes
das Forças Armadas em faixa de fronteira,
especialmente contra crimes transfronteiriços
e ambientais. De lá para cá,
o combate ao tráfico de drogas e de
combustível tem sido registrado nas
ocorrências militares com mais freqüência.
“De resto estamos bem tranqüilos por
aqui”, admite o General de Brigada Jorge Alberto
Duardes Boabaid, comandante da 2ª Brigada
de Infantaria de Selva. “Nós tampouco
temos problemas com os povos indígenas,
afinal quase 90% das terras aqui são
demarcadas”.
Recursos do Calha
Norte
O comandante explica que
a presença militar em São Gabriel
está em expansão. Novos batalhões
serão instalados nos municípios
vizinhos de Santa Isabel e Barcelos. "Em
2007 teremos 2270 militares na região,
o que fortalece nosso papel de indutor de
desenvolvimento da região. A infra-estrutura
terá que aumentar para suportar todo
esse contingente”. Indutor de desenvolvimento
sim, financiador não. "O Exército
não tem dinheiro. Daqui há pouco
vamos fazer meio expediente em todo o Brasil
porque não tem nem para a comida".
Os recursos que mantém
o Exército na região, assim
como a Força Aérea Brasileira,
vem em grande parte do programa Calha Norte,
que pertence ao Ministério da Defesa
(MD), e atua numa ampla região amazônica,
delimitada pela calha do rio Solimões,
ao sul, e pelas fronteiras ao norte (veja
quadro abaixo). O orçamento do Calha
Norte em 2005 ficou em R$ 230 milhões.
Financia a construção das vilas
militares, quartéis, e demais obras
de infra-estrutura, como pavimentação
e iluminação de vias públicas.
“Noventa por cento dos gastos do Calha Norte
estão indo para obras civis”, garante
Washington Alcoforado, representante regional
do programa. “Os 10% restantes estão
sendo gastos exatamente com os militares de
São Gabriel”.
O funcionário do
MD afirma que a prioridade do programa é
oferecer segurança à região
por meio da presença do Estado brasileiro.
Em outras palavras, investimentos em saúde,
saneamento básico e educação.
"Por isso acredito que parte dos recursos
necessários para a implementação
do Plano Diretor venham do Calha Norte".
O Programa Calha
Norte
Criado em 1985, pelo Governo
Federal, para promover a ocupação
e o desenvolvimento ordenado da Amazônia
Setentrional, o programa já esteve
vinculado a diversos órgãos
governamentais. Atualmente está subordinado
ao Ministério da Defesa. A região
abrangida pelo Calha Norte engloba 151 municípios
de seis estados da Federação
(AM, PA, RR, AC, RO e AP) e tem 2.186.252
quilômetros quadrados - o que significa
25% do território nacional. Da extensão
total, 10.938 quilômetros quadrados
localizam-se em área de fronteira do
Brasil com o Peru, Colômbia, Venezuela,
Guiana e Suriname.