(09/11/05) - Pesquisadores
do Centro de Proteção de Primatas
Brasileiros do Ibama (CPB) registraram e obtiveram
relatos de ocorrência da presença
de macacos guaribas em 45 áreas no
estado do Piauí. Estes dados foram
obtidos durante mais uma expedição
de levantamento e mapeamento das áreas
de ocorrência da espécie Alouatta
ululata. Esta é uma das 10 espécies
de primatas consideradas criticamente em perigo.
O projeto em parceria com
a Secretaria de Meio Ambiente e dos Recursos
Hídricos do Estado do Piauí
(SEMAR) conta, também, com o apoio
da Gerência Executiva do Ibama daquele
estado. No total foram três expedições
no ano de 2005, nas quais os técnicos
percorreram mais de 5.500 km, onde visitaram155
áreas em 33 municípios no norte
do estado. O trabalho ainda não está
terminado. Os especialistas voltarão
ao Piauí em 2006 para concluir o levantamento
no norte do estado e avançar para o
centro-sul. “O número de áreas
a percorrer é maior do que o esperado.
Estamos obtendo registro destes animais em
ambientes dos mais diversos: matas serranas,
caatinga, cerradões, até manguezais”,
explica o biólogo Marcelo Marcelino,
chefe do Centro.
Este trabalho de mapeamento
procura além de registro das áreas
de ocorrência das populações
remanescentes da espécie, obter uma
estimativa do tamanho dessas populações
e identificar espacialmente o estado de conservação
da espécie ao longo de sua área
de ocorrência. Estes dados vão
ajudar a elaborar um plano nacional de conservação
destes guaribas.
Causas da ameaça
Apesar da redução
e do isolamento das áreas de mata ser
um fator preponderante para a extinção
da espécie, a caça vem sendo
a maior preocupação dos pesquisadores.
“O animal está sendo muito caçado
e o seu isolamento facilita ainda mais a caça.
Em várias localidades os guaribas já
foram extintos e em outras a sua extinção
é eminente por causa da caça”,
alerta a bióloga Juliana Gonçalves,
responsável pelo projeto. Na localidade
de Jacaraí, no município de
São José do Divino, os pesquisadores
obtiveram o relato de que o último
exemplar de guariba foi comido por urubus
no galho da árvore onde tombou morto
por um tiro de caçador. “A caça
destes animais é covarde e revoltante,
porque o animal não foge ao ser surpreendido.
Morre olhando pacificamente para o caçador”,
afirma Marcelo Marcelino.
O Parque Zoobotânico
da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos
Hídricos do Piauí está
cuidando de dois filhotes de guariba. Segundo
o veterinário Luciano Lucena, não
se conhece a história destes filhotes,
mas provavelmente são vítimas
da ação de caçadores
que devem ter matado suas mães, já
que chegaram ao Parque ainda em fase de amamentação.
Por outro lado em alguns
municípios como Campo Maior, Caxingó,
Joaquim Pires, Pedro II, vários proprietários
de terras não são tolerantes
à caça em suas propriedades,
principalmente dos guaribas, tornando estas
áreas verdadeiros santuários
para algumas populações remanescentes
da espécie.
No Ceará, onde os pesquisadores estiveram
em 2004, o mapeamento já foi concluído
e a Serra da Ibiapaba é a principal
área de concentração
de guaribas no estado. Nesta área,
o Ibama estará realizando ainda este
ano uma extensa campanha contra caça
destes animais, envolvendo o Parque Nacional
de Ubajara, a Área de Proteção
Ambiental da Serra da Ibiapaba e o Escritório
Regional de Sobral.
Pesquisa em Genética
Os pesquisadores do Centro
de Proteção de Primatas Brasileiros
estão realizando também estudos
de DNA e citogenética das populações
de guaribas do Piauí. Usando armas
com dardos anestésicos, os pesquisadores
capturaram nesta última expedição
um exemplar macho adulto para a coleta de
sangue. Este material além de servir
para os estudos em genética, será
aproveitado também para análise
laboratoriais que verificam o estado de saúde
do animal e a presença ou não
de hemoparasitas. Na captura, para evitar
qualquer risco de acidente com o animal, os
pesquisadores utilizam uma droga anestésica
dissociada de relaxante muscular. Neste procedimento
o guariba adormece na árvore e é
apanhado por um escalador que desce o animal
em segurança dentro de um saco de tecido
amarrado a uma corda. Uma vez no chão
os pesquisadores coletam o material sanguíneo
e fazem o registro dos dados de morfometria.
Todo este procedimento dura menos de uma hora.
Os guaribas
Os macacos guaribas, também
conhecidos como bugio ou capelão, são
encontrados em quase todo o Brasil. São
animais grandes, que vivem em bandos de seis
a oito indivíduos, às vezes
até mais, habitando áreas de
mata, onde alimentam-se de folhas, que representam
entre 40 a 50% de sua dieta, além de
flores e frutos. Chegam a pesar mais de 5
kg e são conhecidos por seus gritos
potentes, que podem ser ouvidos a grandes
distâncias. Essa capacidade se deve
a um proeminente osso hióide na garganta,
que funciona como uma caixa de ressonância,
amplificando o som do seu grito. Acredita-se
que os gritos sirvam para estabelecer sua
área de domínio na floresta
em relação aos demais grupos
de guaribas. Um grupo social de guaribas é
geralmente é constituído por
um macho adulto, dominante, duas fêmeas
adultas e um número variável
de animais juvenis e filhotes. As fêmeas
reproduzem um filhote a cada gestação,
que dura em torno de seis meses. O filhote
permanece agarrado à mãe até
o vigésimo mês quando é
desmamado.
No Brasil existem seis espécies
de macacos guaribas, cientificamente conhecidos
como primatas do gênero Alouatta. Este
Gênero possui ao todo dez espécies
reconhecidas, sendo que as demais espécies
ocorrem em outros países da América
do Sul e na América Central. Os guaribas
da espécie Alouatta ululata são
endêmicos ao Brasil, isto é,
só ocorrem em nosso país. São
animais muito bonitos, com coloração
predominantemente negra com as mãos,
pés, a ponta da cauda e parte das costas
de cor variando de castanho-avermelhado a
amarelo, tendo ainda a parte lateral dos pêlos
mais longos com a mesma coloração
das costas.