07/11/2005 - Os pesquisadores
do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG),
instituição vinculada ao Ministério
da Ciência e Tecnologia, colaboraram
para a produção de cinco artigos
do número 54 da revista Estudos Avançados
- Dossiê Amazônia brasileira II,
publicada pelo Instituto de Estudos Avançados
da Universidade de São Paulo, e lançada
na semana passada em Belém, na livraria
do Museu Goeldi. Os artigos abordam o processo
de degradação ambiental da região,
estratégias de conservação,
influência de movimentos ambientais
internacionais em território amazônico
e a história dos institutos de pesquisa
na Amazônia, entre outros.
No paper “Processos de ocupação
nas novas fronteiras da Amazônia: o
interflúvio do Xingu/Iriri”, os pesquisadores
que compõem a Rede Geoma (Rede Temática
de Pesquisa em Modelagem Ambiental da Amazônia)
apresentam os primeiros resultados do esforço
conjunto de várias instituições
como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe/MCT), o MPEG, a Embrapa e outros, no
estudo sobre dinâmica de ocupação
da nova fronteira amazônica no interflúvio
entre os rios Xingu e Iriri. Analisando padrões
de desmatamento e os processos que dão
origem aos mesmos, o artigo conclui que apenas
uma solução integrada que busque
a estruturação dos principais
agentes e processos na cadeia produtiva teria
chance para conseguir diminuir os efeitos
do desmatamento, e orientar o desenvolvimento
integrado para a região, com benefícios
para a floresta e populações
que ali vivem.
“Amazônia socioambiental.
Sustentabilidade ecológica e diversidade
social” é outro tópico da revista,
publicado pela pesquisadora da Universidade
Federal de Minas Gerais, Deborah Lima, e pelo
pesquisador do Departamento de Ciências
Humanas do MPEG, Jorge Pozzobon (já
falecido). O artigo, atualizado pela antropóloga
Deborah Lima, faz uma análise dos fundamentos
históricos, econômicos e culturais
da sustentabilidade ecológica atribuída
a diversos segmentos sociais. A análise
mostra a complexidade da interação
entre vários fatores que explicam o
comportamento ecológico de cada um
dos atores que compõem a diversidade
socioambiental da Amazônia. Alguns estereótipos
consagrados são contestados no trabalho,
como aqueles que relacionam a baixa sustentabilidade
ecológica com pobreza, ou alta sustentabilidade
ecológica com identidade indígena.
A diretora do MPEG, Ima
Célia Vieira, juntamente com o diretor
da Rede Geoma, Peter Mann de Toledo, e o vice-presidente
de Ciência da Conservação
Internacional, José Maria Cardoso,
contribuíram com o artigo “Estratégias
para evitar a perda de biodiversidade na Amazônia”,
que apresenta números concretos sobre
as perdas de recursos naturais da região
amazônica decorrentes do desflorestamento.
Baseados em estudos recentes sobre a densidade
de plantas e de alguns grupos de animais na
floresta, os estudiosos concluem que não
há necessidade de se ampliar o desmatamento
na região e que, portanto, qualquer
licença de desflorestamento deveria
ser proibida. Os pesquisadores também
sugerem que deve haver uma descentralização
no sistema de ciência e tecnologia regional
por meio do desenvolvimento de programas de
pesquisa estabelecidos em municípios
estratégicos da região. Para
organizar o planejamento da ocupação
Amazônia, os autores defendem a incorporação
do conceito científico de Territórios
Sustentáveis, elaborado pela geógrafa
Bertha Becker, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro.
A Amazônia como objeto
da intervenção direta do ambientalismo
internacional é o tema do artigo da
socióloga Rosineide Bentes (Coordenação
de Ciências Humanas/ MPEG). No artigo
intitulado “A intervenção do
ambientalismo internacional na Amazônia”,
a autora analisa criticamente os interesses
econômicos e políticos que guiaram
as ações e políticas
ambientalistas de instituições
internacionais em atuação na
Amazônia entre 1989 e 2002. De acordo
com o estudo, Bentes defende que a intervenção
reflete, além do desejo de controle
político, as dificuldades dos países
industrializados em abandonar os princípios
e interesses desenvolvimentistas e antiecológicos.
“A história dos institutos
de pesquisa na Amazônia” da antropóloga
Priscila Faulhaber (Coordenação
de Ciências Humanas/ MPEG), faz uma
reflexão acerca da história
dos institutos científicos na Amazônia
focalizando as relações entre
campo científico, intervenção
regional e construção do Estado
nacional. Faulhaber coloca em questão
o lugar das ciências humanas e sociais
dentro de uma simetria entre as disciplinas
científicas, ou seja, de uma visão
segundo a qual não há hierarquia
entre as disciplinas.
Os livros Dossiê Amazônia
Brasileira I e II podem ser adquiridos por
R$ 30,00 na Livraria do Museu Goeldi, localizada
no térreo do prédio da Rocinha,
Parque Zoobotânico.
(Com informações
de Ana Carolina Pimenta - PPBio/ACS/MPEG)