18/11/2005 - O mundo passa
por períodos cíclicos de mudança
do clima. Embora os cientistas não
saibam determinar com exatidão a freqüência
e as causas exatas, essas alterações
são consideradas naturais e esperadas.
O planeta, no decorrer de milhões de
anos, já passou por diversos períodos
intercalados de aumento e declínio
na temperatura média.
Entretanto, os últimos 200 anos foram
marcados pela aceleração até
então inédita desse processo.
A partir da Revolução Industrial,
indícios apontam que a participação
humana nesse processo foi cada vez mais significativa.
Com a queima de combustíveis fósseis,
como o petróleo, para alimentar o trabalho
de máquinas, houve também o
sucessivo aumento das emissões de gases
causadores de efeito estufa (fenômeno
que, grosso modo, pode ser explicado como
o aumento da temperatura média da atmosfera
terrestre devido a concentração
de gases específicos que impedem que
a energia/radiação solar absorvida
pelo planeta seja refletida de volta para
o espaço). Essas emissões em
um curto período de tempo – duas centenas
de anos é um prazo irrisório
na escala geológica, onde os períodos
são medidos em milhões de anos
- elevaram as concentrações
desses gases para níveis só
registrados há cerca de 500 mil anos
atrás.
Mas qual o efeito da aceleração
desses fenômenos naturais para a humanidade?
A resposta é curta e, ao mesmo tempo,
bastante complexa. "Não sabemos
qual será o comportamento (do planeta)
com a mudança climática",
afirma o pesquisador Carlos Clemente Cerri,
da Universidade de São Paulo (USP).
Ele participou na noite de ontem (17/11) do
seminário ‘Mudanças Climáticas’,
promovido dentro da programação
da 3ª Conferência Nacional de Ciência
e Tecnologia, que termina hoje em Brasília.
As conseqüências da mudança
do clima devido à ação
do homem ainda não foram contabilizadas.
O que se sabe é que esta mudança
afetará todo o planeta, em todos os
aspectos da vida. O aumento das concentrações
de dióxido de carbono, um dos principais
gases estufa na atmosfera (os outros com concentrações
mais significativas são o óxido
nitroso e o metano), pode, por exemplo, exercer
um efeito dúbio na agricultura. Ao
mesmo tempo que favorece o crescimento e a
rapidez de certas plantas – o dióxido
de carbono, ou gás carbônico,
é essencial no processo de fotossíntese
das plantas –, pode, também, acarretar
em um problema de escassez de água
e nutrientes para essas mesmas culturas. Além
disso, afirma o pesquisador, nem todas as
culturas seriam beneficiadas com essas possíveis
alterações no clima, e ele sugere
que algumas, como o milho, poderiam ter a
sua produção diminuída.
Outro efeito direto associado ao aumento da
concentração desses gases na
atmosfera é a elevação
da temperatura e seus conseqüentes fenômenos
climáticos. Para Luiz Gylvan Meira
Filho, pesquisador do Instituto de Estudos
Avançados da USP, o furacão
Katrina, que atingiu o sudeste americano no
final de agosto deste ano e causou diversos
estragos, inundações e perda
de vidas humanas, foi um fenômeno decorrente
dessas alterações. E, embora
o serviço meteorológico norte-americano
tenha sido bastante eficaz na previsão
do fenômeno, o governo e a sociedade
ainda não estavam preparados para a
idéia de que o clima mundial tem sofrido
constantes alterações nas últimas
décadas, e furacões como este,
entre outros efeitos decorrentes dessas alterações,
podem se tornar cada vez mais freqüentes.
Problemas políticos, necessidade de
mudança social e possibilidades tecnológicas
Para Gylvan, que também participa do
Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas da ONU (UNFCCC), a ciência
e a tecnologia são hoje as principais
vias para a solução da questão
da mudança climática. A redução
de emissões é uma necessidade
hoje e, caso não seja consumada, implica
em graves riscos para as gerações
futuras.
A solução política do
problema, possível e defendida na Organização
das Nações Unidas, enfrenta
resistência de diversos grupos políticos
e econômicos. Os EUA, por exemplo, país
com as maiores taxas de emissões de
gases-estufa no mundo, se recusam a ratificar
o Protocolo de Quioto, documento definido
pela organização em 1997 e que
é um primeiro passo para tratar politicamente
o problema.
Outro caminho seria a mudança na própria
mentalidade de consumo, arraigada em sociedades
de todo o mundo. Vários especialistas
constróem relações entre
o consumo desenfreado das sociedades atuais,
o desenvolvimento desordenado e não-sustentável
destas e a conseqüente emissão
dos gases-estufas. Para estes cientistas,
o principal caminho para diminuir estas emissões
seria uma discussão séria e
abrangente sobre o problema, que resultasse
em uma nova consciência mundial sobre
o equilíbrio necessário do homem
com o meio ambiente. O porém é
que essas discussões começaram
há pouquíssimo tempo e envolvem,
provavelmente, décadas de conscientização.
Já o caminho da ciência e tecnologia,
embora longe do ideal, seria o mais simples
e imediato de ser trilhado. "Nós
precisamos de uma segunda Revolução
Industrial" afirma o professor Luis Gylvan,
defendendo o desenvolvimento e adoção
de tecnologias mais limpas.