23/11/2005 - A Comissão de Meio Ambiente
da Assembléia Legislativa do Estado realizou
nesta terça-feira, 22/11, audiência
pública com a finalidade de debater e
esclarecer notícias sobre danos ambientais
ocorridos no bairro de Jurubatuba, na capital,
com a presença do presidente da Cetesb
- Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
do Estado, Rubens Lara, que esteve acompanhado
pelos diretores de Engenharia,
Agência
de Notícias da AL /Beth Avelar
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Tecnologia
e Qualidade Ambiental, Lineu Bassoi
e de Controle de Poluição
Ambiental, Otávio Okano e vários
técnicos da empresa. No encontro,
ficou acordado entre os deputados membros
da comissão, aos quais os técnicos
da Cetesb já se prontificaram
a ajudar com os dados disponíveis,
que se sugira a criação
de um grupo de trabalho, coordenado
pelo secretário estadual do Meio
Ambiente, professor José Goldemberg.
O grupo deve ser composto por representantes
da Cetesb, Sabesp, do Departamento de
Águas e Energia Elétrica
(DAEE) e dos órgãos responsáveis
pela vigilância sanitária
do município e do Estado, para
traçar uma estratégia
capaz de conter o problema e propor
soluções. |
Contaminação
de décadas
O geólogo da Cetesb
Elton Gloenden, da Diretoria de Controle,
fez um relato da situação desde
o momento em que foi detectado o primeiro
foco de contaminação. "A
Gillette do Brasil adquiriu no final de 2001,
da empresa Duracell, uma área para
instalação de sua fábrica.
Suspeitando de contaminação
do solo da região, a Gillette contatou
a Cetesb para uma investigação
detalhada. Em 2003, após várias
pesquisas, foi constatada alteração
da qualidade dos poços freáticos
da região. No ano seguinte, a Cetesb
achou por bem ampliar sua pesquisa, verificando
a presença de solventes clorados na
água do lugar e a possível contaminação
de outras áreas. Diante desse fato,
a companhia procurou o DAEE e solicitou providências
necessárias para resolver a questão".
Segundo Gloenden, a Cetesb
vem fazendo reuniões para levantar
soluções possíveis, alertando
para o fato de que hoje há contaminação
tanto do aquífero superficial quanto
do profundo. Afirmou ainda que, a partir das
ações da Cetesb, foi possível
diagnosticar o problema. "Se não
fosse nossa atitude pró-ativa, provavelmente
as pessoas ainda estariam bebendo daquela
água".
"Essa contaminação
vem de décadas, mas agora se torna
visível. A prática de perfuração
de poços clandestinos agrava a contaminação,
disseminando poluentes. As águas estão
contaminadas com metais pesados e com solventes,
que à medida que se decompõem
tornam-se mais tóxicos", comentou
Lineu Bassoi, diretor de engenharia da Cetesb.
Bassoi esclareceu que existem
vários níveis de competência
nos órgãos públicos para
se tratar da contaminação. "A
Cestesb monitora, o Centro de Vigilância
Sanitária age sobre a qualidade da
água e o DAEE é responsável
pela outorga da captação das
águas profundas. Nosso trabalho já
está sendo feito. Cabe agora às
outras instâncias atuarem".
"A coisa é grave"
O deputado Ítalo
Cardoso (PT) exigiu a divulgação
de dados concretos sobre a quantidade de poços
contaminados e o grau de contaminação.
Ele quis saber ainda quais os níveis
danosos à saúde humana e os
padrões de medições desses
níveis. Lineu Bassoi respondeu ao parlamentar
que todos os laudos foram entregues a quem
tem competência para interpretá-los,
o que não é o caso da Cetesb.
"Encaminho um ofício
em que indago sobre o condomínio que
está sendo construído na área
ao lado do Golf Clube, em região de
risco, já que os senhores disseram
que a perfuração de poços
no local foi suspensa", disse Cardoso.
O deputado Rodolfo Costa
e Silva (PSDB) sugeriu que se tomassem urgentes
medidas para impedir a utilização
da água em Jurubatuba. "A coisa
é grave. Sou favorável a uma
intervenção que obrigue a utilização
de água encanada na área. Temos
um subsolo de risco, mas, por questões
econômicas (a água da Sabesp
é considerada cara) as empresas têm
usado ainda as águas do lençol
freático. E a região possui
inúmeras fábricas."
Para o deputado Adriano
Diogo (PT), é preciso que se tenha
acesso aos dados produzidos pela Cetesb -
o que foi garantido posteriormente pelo presidente
da empresa, Rubens Lara. Diogo denunciou que
há perfuração de poços
em Jurubatuba para venda de água potável.
Ricardo Tripoli (PSDB) declarou
que os passivos ambientais existentes no local
são resultado do desenvolvimento industrial
ocorrido a partir das décadas de 40
e 50. "Mas a Cetesb atua sempre que solicitada,
e vem aprimorando o sistema de detecção
de poluentes", afirmou o parlamentar.
Problema novo
O presidente da Cetesb,
Rubens Lara, disse que a companhia é
o único órgão ambiental
do país, tendo mantido contato estreito
com técnicos europeus. "Nesse
ano, na Alemanha, discutimos a possibilidade
de se implantar uma rede de proteção
do solo para o Brasil e toda a América
Latina. A contaminação é
um problema novo que está disseminado
no mundo. Há milhares de áreas
contaminadas nos EUA, assim como mais de 100
mil na França e 55 mil na Alemanha.
É uma questão que terá
de ser enfrentada por todos com tecnologia."
Sebastião Almeida
(PT), presidente da comissão, conclamou
todos a se unir para tentar achar soluções
para o problema, salientando que não
é uma questão política,
mas de saúde pública. "Nesse
sentido, a comissão deu um passo, mas
precisamos juntar todas as instâncias
para evitar que danos maiores ocorram."