23/11/2005 - O modelo de
desenvolvimento que levou à destruição
da Mata Atlântica em São Paulo
foi exportado para a Amazônia, e isso
poderá trazer graves efeitos para a
sobrevivência da floresta tropical.
O alerta é do agrônomo Mauro
Antonio de Moraes Victor que, junto com João
Guillaumon, Antônio Cavalli e Renato
Serra, lança hoje, em Brasília
(DF), a obra Cem anos de devastação
- Revisitada 30 anos depois.
O lançamento será
às 17h, no Hotel Parthenon Flat (Setor
Hoteleiro Norte, Quadra 5, Bloco 1). A edição
do livro foi possível com o apoio da
Secretaria de Biodiversidade e Florestas do
Ministério do Meio Ambiente. O título
é o 15º da série Biodiversidade,
publicada desde 2000.
Na obra, o agrônomo
compara os remanescentes de Mata Atlântica
com as paisagens que vislumbrou nos anos 70.
Formações de Cerrado, Cerradão,
restingas e mangues praticamente desapareceram
de São Paulo. Segundo ele, a cobertura
de matas nativas do estado caiu de 8,3% para
cerca de 5% nos últimos 30 anos. "Hoje
o verde é extremamente raro em São
Paulo", alertou.
Victor, que é representante
da Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência na Comissão Coordenadora
do Programa Nacional de Florestas (Conaflor)
do MMA, também alerta para o fato de
que o modelo de desenvolvimento que está
sendo implementado na Amazônia não
leva em consideração as características
e a fragilidade dos solos da região.
"As terras da Mata
Atlântica são diferentes, mais
resistentes", disse. Além disso,
a economia que se instalou no norte do País
não valorizaria o capital natural brasileiro,
apenas o capital financeiro. "É
um equívoco transportar esse modelo
(de São Paulo) para a Amazônia.
Estamos destruindo nossas riquezas e vendendo
nossas matérias-primas a preço
de nada", salientou.
Corte raso e seletivo, estradas
clandestinas, queimadas e mineração
teriam afetado 50% da floresta tropical. "Isso
é uma grande catástrofe",
disse Victor. "A sociedade terá
de decidir se quer ou não prosseguir
com a devastação da Amazônia",
completou.
A primeira verão
de Cem anos de devastação, publicada
por Victor em 1975, marcou uma geração
de ambientalistas. A obra traçava um
panorama da destruição da Mata
Atlântica paulista ao longo de vários
ciclos econômicos. Tudo começou
no Século 16, com a cana-de-açúcar,
mas a perda de florestas se intensificou com
o avanço dos cafezais pelo Vale do
Rio Paraíba. Entre 1890 e 1927, o número
de pés de café no estado saltou
de 220 milhões para 1,3 bilhão.
Com os lucros do café,
foi possível abrir ferrovias, que contribuíram
para o avanço descontrolado do desmatamento
e da urbanização pelo interior
do estado. Na carona, estavam a agricultura
com uso de agrotóxicos e as pastagens
para a pecuária, seguidas pela industrialização.
Os volumes da série
Biodiversidade podem ser solicitados junto
ao Centro de Informação e Documentação
do MMA, pelo e-mail cid-ambiental@mma.gov.br
ou pelo fone (61) 4009-1235, ou junto ao ProBio,
pelo e-mail probio@mma.gov.br
ou pelo fone (61) 3325-51000.