(02/12/05) – “Macrófita
é a mãe”, título do livro
esgotado, é propositadamente uma “provocação”,
explicou o autor e consultor do Ibama, Ivan
Dutra, durante palestra no último “Quintas
Ambientais”, evento que o instituto realiza
semanalmente para discutir temas da área
ambiental.
No livro, Dutra aborda a
falta de clareza da linguagem usada em estudos
e relatórios de impactos ambientais,
exigidos no licenciamento de obras de potencial
dano à natureza. Esses documentos são
abertos a consulta antes e durante a realização
de audiências públicas para que
a população conheça a
obra e seus impactos e possa apresentar críticas,
sugestões e opiniões.
As manifestações
são consideradas no processo de licenciamento
no Ibama. “Se, na gestão ambiental,
a sociedade deve decidir; então a sociedade
tem que saber sobre o que vai decidir”, comenta
Dutra, que defende relatórios com informações
consistentes, claras e transmitidas em linguagem
compreensível para a população.
Na prática, não
é assim que acontece. Dutra questionou
durante a palestra quem seria capaz de entender
uma expressão freqüente em relatórios
de barragens brasileiras, a exemplo de “as
espécies reofílicas serão
afetadas pela transformação
do regime lótico em regime lêntico”.
Tradução: peixe de água
corrente na transformação do
rio em lago (do reservatório da barragem).
A propósito, vc que não é
da área de limnologia (estudo de águas
interiores) e botânica sabe o que é
macrófita? Planta aquática como
a vitória-régia.
A democratização
da linguagem é, segundo Dutra, essencial
para evitar atritos e facilitar a mediação
de conflitos socioambientais. “Em audiências
púbicas ocorrem ataques ou defesas
de posições que não correspondem
ao mesmo fato.”
Ele cita o caso da compensação.
Medidas compensatórias referem-se a
ações para recuperar o dano
ambiental (desmatou uma área para construir
uma hidrelétrica, então fará
o reflorestamento). Já compensação
ambiental é um valor cobrado do empreendedor
e aplicado em unidade de conservação
atingida direta ou indiretamente pela obra.
Os dois conceitos geram muita confusão.
O problema não é
exclusivo da área ambiental. O consultor
apresentou resultado de pesquisa feita pela
empresa Computer People, neste ano, com mil
pessoas que trabalham em escritórios
na Inglaterra: 67% dos entrevistados se sentem
despreparados para lidar com os jargões
da informática e 56% acham que os profissionais
desta área falam outro idioma.