05/12/2005 - O projeto “Inventário Florestal
do Estado de São Paulo”, realizado pelo
Instituto Florestal, órgão da
Secretaria Estadual do Meio Ambiente, foi o
grande vencedor do Prêmio von Martius
de 2005, na categoria Natureza, em que obteve
o primeiro lugar. O trabalho aponta a expansão
da cobertura vegetal nas regiões do Litoral
e de Sorocaba, e em menor proporção
também nas do Vale do Paraíba,
Presidente Prudente, Ribeirão Preto e
na Capital. Outro dado relevante é a
constatação da eficácia
dos programas de preservação e
recuperação implementados pelo
Estado nos últimos anos.
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O
prêmio, entregue no último
dia 29/11, na Câmara do Comércio
Brasil-Alemanha (instituição
responsável por sua realização),
é resultado do único concurso
de projetos no Brasil e América
Latina que adota procedimentos independentes,
com os projetos concorrentes auditados
pela PriceWaterhouseCoopers. A iniciativa
conta com o apoio do Ministério
do Meio Ambiente e do PNUMA/Programa
das Nações Unidas para
o Meio |
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Florestal
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Ambiente. Seu nome é
uma homenagem ao botânico alemão
Karl Friedrich von Martius que percorreu grande
parte do território brasileiro no século
19, entre os anos de 1817 e 1820, quando identificou
todos os ecossistemas do País, em trabalho
conjunto com o zoólogo Johans Baptist
von Spix.
Essas pesquisas deram origem
a obra “Flora Brasiliensis”, com 40 volumes
e cerca de 20 mil páginas, contendo
22.1000 descrições e 6.246 desenhos
de plantas, resultado do maior trabalho de
pesquisa da flora brasileira já realizado
até os dias de hoje.
O projeto desenvolvido pelo
Instituto Florestal tem como base os levantamentos
comparativos da cobertura vegetal do Estado
entre o período de 11000/1992 e 2000/2002.
Um dos resultados mais expressivos do levantamento
é a indicação do aumento
de 127 mil hectares de vegetação
natural remanescente, nos 10 anos avaliados,
confirmando os efeitos positivos de políticas
públicas para a preservação
em algumas regiões e, em outras, indicando
a necessidade de implementação
de projetos de recuperação dos
diferentes sistemas encontrados no território
paulista.
Metodologia e resultados
O trabalho realizado
pelo Instituto Florestal, que integra o Programa
BIOTA, da FAPESP, é resultado de uma
seqüência de atividades que tem como
objetivo o mapeamento e a avaliação
dos remanescentes da vegetação,
para fins de estudos e controle da dinâmica
de suas alterações. Dando continuidade
a uma série histórica iniciada
em 1962, o levantamento toma como base as Regiões
Político-administrativas, mas usa também
as Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos,
uma divisão espacial mais recente.
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Entre
as metodologias adotadas, a utilização
de legendas para as diferentes categorias
de vegetação engloba a
classificação regional
(matas, capoeira, cerrado, restinga)
e é complementada pela legenda
de caráter mais universal, que
permite uma classificação
mais específica do tipo de vegetação
encontrada (florestas ombrófilas,
savanas florestadas , formação
arbórea).
O avanço da tecnologia aplicada,
com processamento digital de imagens,
associado a informações
geográficas de banco de dados
convencionais, resultou também
em um diagnóstico mais preciso,
levando à constatação
da existência de um número
maior de áreas com determinados
tipos de vegetação - caso
da vegetação de várzea,
mangue e restinga, mais difíceis
de serem visualizadas - ao mesmo tempo
que confirmou o declínio acentuado
de outras espécies.
O projeto exigiu também um minucioso
trabalho de cruzamento dos dados, obtidos
através das imagens do satélite
e das fotografias aéreas que
fazem parte do acervo do IF, reunidos
|
ao longo dos anos. Para
elaborar o inventário foram formadas
equipes com pesquisadores científicos
de áreas como a Divisão de Dasonomia,
Divisão de Florestas e Estações
Experimentais, Serviços de Comunicações
Técnico-Científicas, além
de colaboradores da Esalq e Unicamp, que se
somaram aos pesquisadores da área de
Manejo e Inventário Florestal do Instituto
Florestal, coordenados por Francisco Kronka.
Entre os resultados obtidos,
duas situações merecem destaque:
o aumento da cobertura vegetal, particularmente
nos sistemas presentes nas regiões
do Litoral e Sorocaba, mas também na
região do Vale do Paraíba, Presidente
Prudente, Ribeirão Preto e no município
de São Paulo, totalizando 3.457.000
hectares, contra os 3.330.000 hectares registrados
no levantamento de 11000/92 - e a constatação
da eficácia de alguns programas de
preservação e recuperação
que o Estado de São Paulo vem desenvolvendo
nos últimos anos.
Embora ainda não
disponha de dados para avaliar as razões
desse crescimento, Marco Nalon, atual responsável
pela sessão de Manejo e Inventário
Florestal do Instituto Florestal e um dos
pesquisadores científicos a participar
do projeto, atribui o aumento constatado principalmente
na Serra do Mar, a programas como o Projeto
de Preservação da Mata Atlântica/PPMA,
desenvolvido pela Secretaria Estadual do Meio
Ambiente, em parceria com o governo alemão
(através do KFW). Outro fator que deve
ter contribuído para esse resultado
positivo é intensificação
das ações da Polícia
Ambiental na região.
Para a situação
inversa, constatada em municípios como
Araçatuba, São José dos
Rio Preto, Marília, Bauru e Campinas,
a explicação é clara.
A redução dos remanescentes
de vegetação natural é
provocada pela expansão das fronteiras
agrícolas nas regiões que possuem
geografia favorável à atividades
agropecuárias e solos considerados
ricos e propícios à agricultura.
Com base nessa avaliação
foi possível, por exemplo, constatar
a drástica redução de
cerrado nos últimos 40 anos, período
em que 1.625.000 hectares desta vegetação
(85,5%) desapareceram ou foram paulatinamente
substituídas por atividades agrícolas.
Outra constatação traz uma boa
notícia: São Paulo, que já
ocupava o primeiro lugar entre os estados
que mantém remanescentes da mata atlântica
contínua, conseguiu recuperar mais
de 200 mil hectares desta vegetação
específica, principalmente na região
litorânea, nos últimos dez anos.
Aplicação
prática
Os resultados dos levantamentos
efetuados são apresentados para cada
uma das 22 bacias hidrográficas que
compõem o Sistema Estadual de Recursos
Hídricos, levando em conta a sua utilização
como base para o planejamento de recursos
hídricos. O levantamento de dados serve
também para a elaboração
de planos de manejo em diferentes unidades
de conservação, contribuindo
para o uso sustentável dos ecossistemas
abrangidos.
Um exemplo de aplicação
prática do inventário é
o Projeto de Recuperação de
Matas Ciliares do Estado de São Paulo,
lançado este ano e que selecionou 15
projetos em cinco bacias hidrográficas,
para promover a revegetação
em uma área de 1.500 hectares, usando
como um dos instrumentos para definir as áreas
prioritárias a base os dados fornecida
pelo levantamento do IF. O objetivo do projeto
é reverter o quadro de degradação
de um milhão de hectares, ao longo
de 120 mil quilômetros de margens de
rios, lagos, nascentes e reservatórios,
nos próximos quatro anos.
Além de ter como
objetivo a redução dos processos
de erosão do solo e assoreamento dos
corpos d’água, propiciando a melhoria
da qualidade e quantidade da água,
o projeto prevê a redução
da perda de solo e o apoio ao uso sustentável
dos recursos naturais.
Para dar continuidade ao
inventário, o Instituto Florestal já
está executando um novo monitoramento
de vegetação natural remanescente,
tendo como base as imagens recentes, captadas
pelo satélite China-Brasil entre 2004
e 2005. Desta vez, a atualização
será por região e o primeiro
levantamento a ser concluído ainda
este ano é o da Mata Atlântica
Litorânea.
Outro procedimento que vem
sendo introduzido é a pesquisa de campo,
como forma de aferir os resultados obtidos
a partir das imagens aéreas e avaliar
o nível de acerto na delimitação
das áreas e na classificação
da cobertura presente em cada região
analisada.