05/12/2005 – A 2ª Conferência
Nacional do Meio Ambiente, marcada para o próximo
final de semana, deve ter participação
reduzida das organizações não-governamentais
de Minas Gerais. A superintendente da Associação
Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA), Maria Dalci
Ricas, afirma que pelo menos 100 entidades deixarão
de vir ao encontro. A AMDA ocupa a secretaria executiva
do fórum mineiro de ONGs. Segundo o Ministério
do Meio Ambiente, o número é dez vezes
menor: apenas dez ONGs participariam do boicote.
"Ao nos retirarmos dos debates,
tanto da conferência regional, como da nacional,
encontramos uma forma de protestar contra a política
ambiental do governo federal", explica Maria
Dalci. "Não estamos protestando contra
a conferência em si. O problema é que
as questões levantadas pela sociedade durante
o encontro não serão implementadas
simplesmente porque a área ambiental do governo
não tem nenhuma força."
A principal reclamação
das entidades mineiras diz respeito ao projeto de
integração do rio São Francisco
às bacias no Nordeste setentrional, mais
conhecido como projeto de "transposição"
do São Francisco. De acordo com as entidades,
o projeto precisa ser mais discutido. "Antes
de tudo, precisamos discutir a revitalização
do São Francisco. Fazer as duas coisas ao
mesmo tempo é o mesmo que recuperar dois
quilômetros aqui e destruir dez lá
na frente", compara a superintendente da AMDA.
Coordenador-geral da 2ª Conferência
Nacional do Meio Ambiente, o ambientalista Pedro
Ivo Batista avalia o movimento de "boicote"
das organizações mineiras como minoritário.
De acordo com ele, na conferência regional,
várias entidades marcaram presença
e vão fazer o mesmo no evento nacional. "O
boicote está sendo feito por dez entidades.
Nós respeitamos esse movimento. Mas não
é justo com a causa ambiental boicotar a
conferência", acredita Pedro Ivo. "Se
temos divergências sobre as políticas,
vamos colocá-las na mesa. Boicotar um espaço
democrático e participativo não é
uma atitude coerente."
Em reação às
críticas feitas à política
ambiental federal, Batista lembra realizações
do atual governo. Ele lembra que, em 2005, pela
primeira vez em 26 anos, diminuiu-se em 40% o ritmo
do desmatamento na Amazônia. De acordo com
ele, desde 2003, foram regularizados 9 milhões
de hectares em unidades de conservação.
"Além disso, realizamos dois concursos
para o Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis] e um
para o Ministério do Meio Ambiente",
aponta Batista.
"Também fortalecemos
o Sistema Nacional do Meio Ambiente, implantando
os chamados comitês tripartites – formados
por representantes dos governos federais, estaduais
e municipais – em todas as unidades da federação.
No início do governo, apenas 150 cidades
tinham agenda 21 local. Hoje, são mais de
mil", completa ele.
Sobre o projeto de integração
do São Francisco, Pedro Ivo Batista avisa
que o assunto está entre os temas a serem
debatidos no encontro. Ele lembra, no entanto, que
as recomendações direcionadas pela
conferência ao Ministério do Meio Ambiente
são vistas como determinações.
Já as sugestões voltadas para outros
ministérios, como o da Integração
Nacional, responsável pelo projeto no São
Francisco, têm unicamente o caráter
de recomendação.