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AMBIENTALISTAS DEIXAM SEMINÁRIO E COBRAM AVALIAÇÃO CONSISTENTE DO PLANO DE COMBATE AO DESMATAMENTO

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Dezembro de 2005

15/12/2005 - Em evento realizado em Brasília, representantes de organizações ambientalistas afirmaram que seria impossível fazer uma análise aprofundada e consistente do plano e de seus resultados sem ter em mãos, antecipadamente, subsídios técnicos sobre seus vários componentes. Ambientalistas também cobram um relatório das ações de cada um dos treze ministérios envolvidos com o plano.

Representantes do Grupo de Trabalho (GT) de Florestas do Fórum de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS) retiraram-se do seminário organizado pelo governo federal hoje, dia 15 de dezembro, no Palácio do Planalto, em Brasília, para avaliar o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia, em protesto pelo improviso com que o evento foi organizado. Os ambientalistas justificaram que seria impossível ou irresponsável por parte das organizações, que inclusive ajudaram a formular o plano, fazer uma análise aprofundada e consistente de seus resultados sem ter em mãos, antecipadamente, subsídios técnicos e informações sobre cada ação proposta e sobre seus vários componentes. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) sempre destacou a participação da sociedade civil no processo de avaliação como uma das inovações do plano.

O governo anunciou para a imprensa, no dia 5 de novembro, os índices de desmatamento na Amazônia, que apontaram 18,9 mil quilômetros quadrados de florestas derrubados entre agosto de 2004 e julho de 2005, uma queda de 31% em relação ao mesmo período entre 2003 e 2004. Pela primeira vez, a informação veio a público no mesmo ano em que chega ao fim o período analisado (confira). O problema é que, ao contrário do que aconteceu em 2004, as organizações da sociedade civil que acompanham o assunto não puderam acessar previamente os dados do Instituto de Pesquisa Espacial (Inpe) para ter condições de fazer uma avaliação consistente. Os ambientalistas consideram que as poucas informações disponibilizadas pelo governo tornam qualquer análise fragmentada ou restrita às ações do MMA. O GT cobra também um relatório das atividades de cada um dos treze ministérios envolvidos com o plano.

Ontem, os organizadores do seminário mudaram a agenda prevista para o evento, cancelando a realização das mesas de debate que iriam tratar de aspectos específicos do plano de forma aprofundada. Segundo os integrantes do GT, ao divulgar apenas o índice geral de desmatamento para a imprensa e negar-se a fazer uma avaliação detalhada de suas ações, o governo estaria tentando capitalizar politicamente a queda no desmatamento e retirar o foco das atenções sobre as fragilidades do plano, especialmente sobre instrumentos que ainda não foram implementados e a falta de engajamento de vários ministérios. Seria interessante para o governo apresentar bons resultados contra o desmatamento em 2006, ano de eleições e em que será realizada em Curitiba (PR), em março, a próxima Conferência das Partes (COP) sobre a Convenção da Diversidade Biológica (CDB), fórum internacional que ocorre de dois em dois anos e avalia as ações realizadas pelos mais de 180 países signatários para proteger a biodiversidade em todo o mundo.

Durante entrevista coletiva no Palácio do Planalto em que foram anunciados os índices de desmatamento, no dia 5, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, fez questão de associar a queda de 31% na derrubada de árvores às ações do governo. Na mesma semana, alguns especialistas e organizações levantaram dúvidas -sobre a contribuição do plano contra o desmatamento para o decréscimo da taxa. O fenômeno teria decorrido também de fatores temporários como a queda dos preços internacionais dos produtos agropecuários, o aumento dos preços dos insumos para o setor e a valorização do real em relação ao dólar, que contribuiriam para a diminuição da área plantada em todo o país, sobretudo das plantações de soja. Além disso, a repercussão na mídia das grandes operações policiais realizadas pelo governo contra o desmatamento também estaria desestimulando a ação de grileiros de terra e das madeireiras ilegais, mas apenas momentaneamente. Existe o temor de que, por causa disso, o desmatamento volte a crescer no ano que vem.

O GT divulgou uma nota afirmando que, no início do seminário, “o próprio representante da Casa Civil reconheceu que não haveria condições de apresentação, por parte dos diversos ministérios envolvidos, do balanço de suas ações”, o que, segundo os integrantes do FBOMS, demonstra evidente falta de coordenação entre os ministérios. O texto cobra a realização de um novo seminário que possibilite uma avaliação detalhada das ações do governo federal contra o desmatamento e de uma audiência com o ministra-chefe da Casa Civil e coordenadora do plano, Dilma Rousseff, para tratar do assunto. Desde julho, o GT aguarda a resposta de Dilma para um pedido de reunião, mas até agora não obteve resposta. A nota afirma ainda que “a saída do seminário de hoje, longe de representar uma falta de interesse no avanço deste diálogo [com o governo; sobre plano], é uma demonstração cabal da relevância e da especial importância que as entidades atribuem ao plano, inclusive por ter participado ativamente de sua formulação” (confira abaixo).

O documento assinado pelas 21 instituições que compõem o GT também chama a atenção para a falta de empenho do governo federal para aprovar o Projeto de Lei 62/2005, que pretende regulamentar a gestão de florestas públicas e está parado no Senado depois de ter sido aprovado pela Câmara. A proposta é considerada pelo MMA como uma das principais “medidas estruturantes” necessárias a manter uma tendência de queda dos desmatamentos na Amazônia. A oposição detém a relatoria do projeto e resolveu atravancar sua votação no plenário para barganhá-lo com o governo em troca da liberação de verbas e de concessões nas Comissões Parlamentares Mistas de Inquéritos (CPMI) que investigam as denúncias de corrupção que pesam sobre o PT e o Palácio do Planalto.

NOTA PÚBLICA
REPRESENTANTES DA SOCIEDADE CIVIL SE RETIRAM DE REUNIÃO NO PALÁCIO DO PLANALTO SOBRE DESMATAMENTO

15 de dezembro de 2005

O Grupo de Trabalho de Florestas do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (FBOMS), representando 21 instituições da sociedade civil*, divulgou hoje a seguinte nota pública.

Os representantes da sociedade civil no seminário de avaliação do Plano Interministerial de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento se retiraram hoje da reunião, convocada pela Casa Civil no Palácio do Planalto, após esclarecimentos iniciais sobre objeto e natureza da mesma.

Diversas entidades da sociedade civil ressaltaram que não há condições para avaliar o Plano na ausência de informações disponibilizados previamente sobre os indicadores que constam do mesmo, com relatórios de avaliação que permitam fazer isso com consistência e responsabilidade.

As ONGs explicaram que consideram importante o diálogo com o governo sobre este tema e para tanto, desde o mês de julho, solicitaram uma audiência com a ministra-chefe da Casa Civil, coordenadora do Plano, que até hoje não ocorreu. A saída do seminário de hoje, longe de representar uma falta de interesse no avanço deste diálogo, é uma demonstração cabal da relevância e da especial importância que as entidades atribuem ao Plano, inclusive por ter participado ativamente de sua formulação.

A alteração, no dia de ontem, da pauta do seminário, cancelando as mesas de discussão temáticas anteriormente anunciadas sobre três dos cinco componentes do Plano, foi reveladora da falta de condições para uma discussão consistente. O próprio representante da Casa Civil reconheceu que não haveria condições de apresentação, por parte dos diversos ministérios envolvidos, do balanço de suas ações e informou que a ministra-chefe da Casa Civil enfrentou dificuldades de agenda ao longo dos últimos meses para dialogar com os atores relevantes por conta da crise política. Na véspera do seminário, o GT Florestas havia indagado as razões pelas quais o quarto componente do Plano – o de infra-estrutura - tivesse sido excluído da avaliação. Este tema é considerado estratégico em relação aos impactos das grandes obras - objeto de atuação intensa e prioritária por parte da atual gestão da Casa Civil - no território.

As entidades da sociedade civil observam também que houve retrocesso em relação aos anos anteriores em decorrência da ausência de avaliação técnica, considerada um instrumento essencial e que normalmente ocorria logo antes da divulgação dos dados anuais do PRODES/INPE.

Um exemplo da falta de empenho na coordenação do Plano por parte da Casa Civil diz respeito a um de seus pontos estruturantes e qualificados do plano, o PL de Gestão de Florestas Públicas, atualmente em tramitação no Senado. A Presidência da República não se empenhou na defesa do PL no Congresso, deixando esta responsabilidade a cargo do Ministério de Meio Ambiente, o que resultou no adiamento da apreciação de uma medida fundamental para viabilizar o uso sustentável da floresta. Paradoxalmente, isso ocorria ao mesmo tempo em que manifestação inédita da sociedade juntava, ontem, interesses diversos e freqüentemente em conflito, incluindo as principais agremiações dos setores econômico, social e ambiental, em favor da aprovação desta legislação.

O GT Florestas lembra também que a ausência de uma avaliação ampla e qualificada pode prejudicar as perspectivas promissoras recentemente amadurecidas graças à ação do próprio governo brasileiro no âmbito das negociações internacionais, em especial sobre a Convenção de Clima. Ao mesmo tempo, no plano interno, a referida ausência preocupa ainda mais na iminência de um ano eleitoral, quando tradicionalmente aumentam as pressões geradoras de desmatamento.

O GT Florestas do FBOMS aguarda portanto a convocação de uma reunião de avaliação devidamente precedida por informações relevantes oriundas de cada ministério envolvido sobre o estágio de implementação de todos os cinco componentes do Plano, assim como continua aguardando a oportunidade de audiência com a Ministra Chefe da Casa Civil.

*Fazem parte do GT Florestas do FBOMS:

Amigos da Terra - Amazônia Brasileira
Centro de Trabalhadores da Amazônia - CTA/AC
Comissão de Meio Ambiente da CUT
Comissão Pastoral da Terra - CPT Xingu
Federação dos Órgãos para Assistência Social e Educacional - FASE
Fundação CEBRAC
Fundação Pró-Natureza - Funatura
Fundação Vitória Amazônica - FVA
Fundação SOS Mata Atlântica
Greenpeace
Grupo Ambientalista da Bahia - GAMBÁ
Grupo de Trabalho Amazônico - GTA (rede de 603 entidades locais)
Instituto Centro de Vida - ICV
Instituto de Manejo e Certificação Agrícola e Florestal - IMAFLORA
Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia - IMAZON
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia - IPAM
Instituto Socioambiental - ISA
Rede de ONGs da Mata Atlântica (rede de 256 entidades locais)
The Nature Conservancy - TNC (como convidada)
Vitae Civilis - Instituto para Desenvolvimento, Meio Ambiente e Paz
WWF Brasil

 
 

Fonte: ISA – Instituto Socioambiental (www.isa.org.br)
Assessoria de imprensa (Oswaldo Braga de Souza)

 
 
 
 
 
 

 

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