15/12/2005 – Antes mesmo
da ação de reintegração
de posse da terra Nhande Ru Marangatu no Mato
Grosso do Sul, fazendeiros atearam fogo em
casas dos indígenas Guarani-Kaiowá.
A denúncia foi feita em entrevista
exclusiva à Agência Brasil pela
professora guarani Leia Aquino Prado e confirmada
pelo assessor da presidência da Funai,
Odenir Oliveira, que acompanha a ação
nas fazendas a cerca de 340 quilômetros
de Campo Grande.
"Não conseguimos
retirar quase nada. Pegamos um pouco das coisas,
levamos pra estrada e quando voltamos para
pegar mais, já estavam queimando. Tem
família que não conseguiu tirar
nem o documento pessoal", conta a professora,
uma das principais lideranças do povo
Kaiowá.
De acordo com a assessoria
de imprensa da Polícia Federal, o presidente
da Fundação Nacional do Índio
(Funai), Mércio Pereira Gomes, o procurador
da República, Charles Pessoa, representantes
do Conselho Indigenista Missionário
(Cimi) e jornalistas foram pela manhã
ao local para acompanhar de perto a retirada
dos índios.
Mas a ação
teria acontecido por volta das 11 horas, quando
as autoridades e a imprensa já tinham
saído da área. Segundo Leia
Aquino, o próprio proprietário
da Fazenda Morro Alto e outros três
peões começaram a atear fogo
nas casas. Na fazenda Ita-Brasília,
"uma senhora e mais dois homens entraram
e queimaram as casas com tudo o que tinha
dentro", relata a professora.
O assessor da Funai Odenir
Oliveira explicou que tinha um acordo com
o advogado dos três fazendeiros para
eles não modificassem a área
até que uma equipe do governo fosse
avaliar as fazendas. "Eles não
cumpriram esse acordo", disse ao citar
que seguirá até Ponta-Porã
para questionar os motivos do rompimento do
trato.
Uma senhora Guarani-Kaiowá
passou mal e desmaiou. "Quando eles chegaram
aqui já tínhamos desocupado
a área, só faltava tirar as
nossas coisas das casas. A gente não
ia voltar para as casas, só pedimos
para retirar as nossas coisas de lá
em paz. A gente achava que ia dar tempo de
desmontar as nossas casas e trazer para a
beira da estrada", relata a professora.
Segundo a professora, os
fazendeiros iam começar a queimar uma
casa onde a mãe deixou o filho dormindo
na rede porque "estava carregando as
coisas dela", quando a mãe "começou
a gritar desesperada e os índios reagiram".
Os Guarani-Kaiowá teriam dito a polícia
"ou a gente morre ou os fazendeiros morrem
se vocês não fizerem eles pararem
de queimar as casas. Nós vamos lutar.
Aí os policiais pediram para eles pararem
e acalmou o pessoal. A única coisa
que eles fizeram foi pedir para os fazendeiros
pararem", destaca a índia.
Na terra, os índios
viviam das plantações de mandioca,
arroz, feijão, batata, melancia e milho.
"Pelo o que a gente sabe quando tem uma
reintegração de posse assim,
é o policial que chega e faz as coisas
e não o fazendeiro".
Em março deste ano,
decreto presidencial garantiu a posse da terra
Nhande Ru Marangatu, que possue 9,3 mil hectares.
A homologação foi suspensa por
decisão do Supremo Tribunal Federal
no dia 27 de novembro. Não há
como recorrer da decisão judicial.