16/12/2005 – Os 26 hectares
destinados pelo Instituto Nacional de Reforma
Agrária (Incra) a 580 índios
Guarani-Kaiowá são um brejo,
um "império de sapos", diz
o líder indígena Isaías
Sanches Martins. "Não existem
condições para manter um ser
vivo lá dentro. Nós índios
saímos de lá porque não
agüentávamos mais aquela situação",
desabafa. Ontem, eles foram obrigados a sair
da área onde estavam e ocupar esses
26 hectares, mas estão na beira da
estrada que liga a cidade de Antonio João
a Bela Vista, no Mato Grosso do Sul, por recusarem-se
a ficar no local.
Além de não
oferecer condições de moradia,
Martins afirma que o solo também é
impróprio para o cultivo. Os Guarani-Kaiowá,
que tradicionalmente vivem da agricultura
de subsistência, hoje sobrevivem com
cestas básicas doadas pelo programa
Bolsa Família. "Pelo número
que a gente conta pela escola, estimamos (que
temos) 360 crianças de zero a oito
anos", afirma Isaias.
Em entrevista à Agência
Brasil, os índios Guarani-Kaiowa pedem
socorro. O líder indígena Isaías
conta como está a situação
dos Kaiowá, que ontem foram despejados,
por decisão da justiça, da terra
já homologada. Boa parte das casas,
roupas, comida e vestuário foram queimadas
pelos fazendeiros enquanto os Guarani-Kaiowá
carregavam o que tinham para fora da área
onde estavam. Os policiais não impediram
o início da ação dos
fazendeiros, que queimaram boa parte das casas
indígenas.
Ontem, o despejo
"Não adianta a gente estar ali,
a terra homologada dentro da lei e, de uma
hora para outra, eles chegam nos despejando.
Sabemos muito bem que a terra já era
nossa. Ali não entramos em conflito
com ninguém, a gente está no
nosso direito. Saímos de uma forma
pacífica e evitamos a violência.
Está chegando o fim do ano e não
queremos ver ninguém morto, criança
sem pai ou sem mãe. Por isso nós
saímos assim, entramos com a nossa
vontade e saímos com a própria
vontade. Os policiais não fizeram ação
nenhuma".
Hoje
"A gente espera que o poder público
e organizações não-governamentais
que estão defendendo as causas indígenas
e a imprensa divulguem (a situação).
A gente espera que os poderes que estão
acima, comandado o Brasil, não se oponham.
A gente pede socorro à sociedade brasileira,
ao cidadão comum que esteja nos dando
apoio. Porque a Justiça em que a gente
tanto confiava deu uma solução
dessa."
O futuro
"Temos crianças e a gente vai
ficar esperando eternamente ali. A gente sabe
muito bem que o processo pode demorar séculos
e a educação, a saúde,
a sustentação de uma agricultura
familiar de um povo não pode esperar
esse processo todo. A boca e a barriga não
esperam. Quando a gente tem fome a gente tem
que batalhar. Então vamos esperar um
pouco, estamos cumprindo apenas um acordo
entre os fazendeiros e o representante da
Funai, de esperar o julgamento até
o dia 7 ou 13 janeiro. Nem nós vamos,
nem os fazendeiros vão entrar nessas
terras. A gente tem umas lavourinhas ali,
a gente não vai deixar eles entrarem".