16/12/2005 - Qual o maior
rio do mundo? Amazonas ou Nilo? Um novo método
para medir bacias hidrográficas poderá
ajudar a pôr fim nesta dúvida.
Desenvolvido no Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe), órgão do Ministério
de Ciência e Tecnologia, com o apoio
da Organização Ambiental e Expedições
Científicas (AMBI) e do Banco da Amazônia
(BASA), o método utiliza o sensoriamento
remoto, tecnologia de observação
da Terra por satélites. O estudo acompanhou
o curso do Nilo desde o delta no Mar Mediterrâneo
até o Lago Vitória, em Uganda,
e a medida chegou a 5.714 km. A análise
preliminar feita sobre as imagens do trecho
do rio aponta que pelo menos 900 km devam
ser somados ao valor apontado até o
Lago Vitória. Assim, o comprimento
do Rio Nilo ficaria em torno de 6.614 km,
resultado ligeiramente menor, portanto, que
a extensão conhecida de 6.670 km. Esta
diferença pode estar associada à
perda em comprimento provocada pela construção
do Lago Nasser gerado pela Represa de Aswan.
Os pesquisadores Paulo Roberto Martini e Valdete
Duarte, da Divisão de Sensoriamento
Remoto do Inpe, responsáveis pelo desenvolvimento
da nova metodologia, estão fazendo
o mesmo estudo com o rio Amazonas. “A interpretação
do Amazonas é mais complexa na medida
que seu leito principal é facilmente
confundido com cursos alternativos na forma
de paranás, meandros e enlaces com
outros rios tributários. Exemplo disto
é o que se observa em frente à
cidade de Santarém, no Pará.
Ali corre o Amazonas sensu stricto e o grande
meandro que passa por Alenquer”, explica Martini.
A pergunta é: qual dos dois cursos
é o verdadeiro Amazonas? Aquele que
tem maior volume ou aquele que percorre as
barrancas de formações geológicas
mais antigas e de maior profundidade? “Se
for o primeiro, o trecho do rio tem ao redor
de 10 quilômetros e, se for o segundo,
pode atingir 54 quilômetros”, respondem
os pesquisadores. As análises feitas
até agora sobre o Amazonas seguindo
a nova metodologia apontam duas medidas para
o Amazonas. A primeira sai da boca norte margeando
a Ilha de Marajó, seguindo pelo meandros
de Alenquer e do Rio Ucayalli até chegar
no Nevado Quehuicha das Montanhas Chilla,
norte de Arequipa, no Peru. Chega-se a outra
medida pelo mesmo percurso, mas contornando
a margem sul de Marajó, passando pelo
estreito de Breves, no Pará. O rio
Amazonas, segundo estas alternativas, mede
respectivamente 6.627 km e 6.992 km. As diversas
medidas finais obtidas pela nova metodologia,
tanto do Nilo como do Amazonas, este cuja
extensão oficial é de 6.570
km, serão apresentadas quando prontas
aos órgãos competentes, que
poderão utilizá-las para atualizar
as informações sobre os rios.
Antes disso, entretanto, está sendo
organizada uma expedição às
nascentes do Amazonas para se comprovar a
vertente principal do rio nos nevados do altiplano
andino. A expedição é
de responsabilidade da AMBI e conta com pesquisadores
da UFAM, UFAC, UnB, ANA, entre outras instituições.
“A base de informação são
imagens de satélite georretificadas,
e a fotointerpretação é
suportada por computador através de
edição vetorial com ferramenta
SPRING, software de geoprocessamento desenvolvido
no Inpe”, explica Martini. Este procedimento
está sendo aplicado ao Amazonas e precisa
ser também aplicado ao rio Nilo para
garantir que as medidas finais possam ser
comparadas sem restrições.
Os pesquisadores do Inpe destacam que a grande
vantagem no uso das imagens de satélites
de sensoriamento remoto e suas tecnologias
associadas é que o método se
torna universal, podendo ser aplicado a qualquer
rio do Planeta, sem necessidade de percorrer
todo o trecho do rio para tomar medidas topográficas.