Manaus - A presença
de garimpeiros na terra indígena Yanomami
é um problema antigo, que vem se agravando
nos últimos dois meses. A afirmação
foi feita pelo coordenador-geral da organização
não-governamental (ONG) Serviço
e Cooperação com Povo Yanomami
(Secoya), Sílvio Cavuscens, em entrevista
à Radiobrás.
"Alguns garimpeiros
estão se aproximando das aldeias, entrando
em confronto com os indígenas, trazendo
doenças e prejudicando o meio ambiente.
Há profissionais de saúde que
deixaram a área, amedrontados, e se
recusam a voltar", disse Cavuscens.
Na terra indígena
- uma área de 9,6 mil hectares nos
estados de Roraima e Amazonas, homologada
em 1992, na fronteira com a Venezuela – vivem
cerca de 12 mil indígenas das etnias
Yanomami e Ye´kuana. "Em 1993 aconteceu
o massacre da Haximu. Na época, havia
cerca de 10 mil garimpeiros na área.
Com a repercursão internacional do
caso, o governo se mobilizou e expulsou os
invasores, mas eles voltaram", contou
Cavuscens.
No massacre daquele ano,
um grupo de garimpeiros matou 16 indígenas
a tiros e golpes de falcão – a maior
parte das vítimas eram idosos, crianças
e mulheres. Cinco garimpeiros foram condenados
por homicídio.
As terras indígenas
pertencem à União, mas são
de posse e usufruto exclusivo dos povos indígenas.
Por isso, caberia à Polícia
Federal expulsar os garimpeiros da área.
"A Polícia Federal disse que estava
sem efetivo para agir e que poderia entrar
na área apenas em fevereiro. Tivemos
informações de que ela sobrevoou
a região e jogou panfletos aos invasores,
nos quais informava que eles estavam cometendo
um crime. O resultado disso foi que eles passaram
a ser mais cautelosos, desmontando suas barracas
de lonas azuis e se escondendo na floresta",
afirmou Cavuscens.
O superintendente da Polícia
Federal em Roraima, Ivan Herrera, confirmou
o sobrevôo e a "panfletagem",
realizados há cerca de 20 dias. Entretanto,
não informou se - nem quando - os policiais
federais entrarão na terra indígena.
"Entre sábado e domingo apreendemos
no município de Alto Alegre um quilograma
de ouro e cerca de 50 quilates de diamantes
que estavam com sete garimpeiros. Essa também
é uma maneira de combater o problema",
disse ele.
Segundo o administrador-regional
substituto da Fundação Nacional
do Índio em Boa Vista, José
Raimundo Batista da Silva, entre julho e outubro,
a Funai mapeou as pistas de pouso dentro da
terra indígena Yanomami, utilizadas
pelos garimpeiros. "Fizemos um plano
de trabalho conjunto com o Ibama [Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis] e a Polícia Federal.
Estamos aguardando verba para executá-lo",
revelou.
José Raimundo ressaltou,
no entanto, que "não há
previsão de quando a operação
de expulsão dos garimpeiros vai ocorrer.
"Mesmo que houvesse, eu não poderia
divulgá-la, para não alertar
os criminosos", acrescentou.