O engenheiro
José Luiz Camargo Maia, diretor do parque
há oito anos, diz que a ênfase
na fiscalização se explica, pois,
com o início da segunda fase do PPMA,
novos atrativos deverão estimular a afluência
do público. Com recursos do Banco Interamericano
de Desenvolvimento - BID estão previstas
a melhoria das instalações de
infra-estrutura de recepção, prevendo
até restaurante e pousada, e a abertura
de novas trilhas, entre elas a do Pico da Pedra
Branca, no Núcleo Sete Barras, onde o
visitante poderá apreciar a paisagem
a cerca de mil metros de altitude.
Encontra-se em
estudos, também, uma trilha que poderá
chegar a 300 km englobando áreas dos
parques estaduais Carlos Botelho e Intervales,
além do PETAR - Parque Estadual Turístico
do Alto Ribeira.
Outro grande
atrativo será a implantação
da estrada-parque no trecho entre São
Miguel Arcanjo e Sete Barras, para a qual o
Governo do Estado liberou R$ 10 milhões
para obras de recuperação e conservação,
mantendo as características originais
da rodovia, que tem 300 curvas e oito pontes
construídas em 1939 e 1940, algumas com
placas da empresa do engenheiro Oscar Americano.
A rodovia, cujo piso de terra será mantido
restringindo o trânsito a veículos
com até seis toneladas, terá ainda
dois mirantes, áreas de descanso e de
apoio aos turistas e sinalização.
Desta maneira,
prevê-se a expansão do número
de visitantes que chega a dez mil por ano, para
apreciar rios e cachoeiras ao longo das várias
trilhas atualmente disponíveis, além
de uma avifauna que tem atraído observadores
de aves de todo o mundo. É por este motivo
que o diretor do parque comemora a instalação
das duas bases de vigilância.
A inauguração
A inauguração
das bases de vigilância, com uma solenidade
no Núcleo Sete Barras, transformou-se
em uma festa com um almoço, onde o prato
principal era o arroz carreteiro, com farofa
como acompanhamento, preparado pela cozinheira
Vera, moradora do Bairro Abaitinga, em São
Miguel Arcanjo, e muita música.
Confirmando a
popularidade do Maia, cuja proposta de trabalho
é o trabalho em parceira com todos os
segmentos da comunidade, a solenidade contou
com a presença de representantes dos
mais diversos setores. Entre eles, o prefeito
Antônio Celso Mossin, de São Miguel
Arcanjo, o secretário de Desenvolvimento
Rural de Sete Barras, Paulo César Simões
de Oliveira, e os capitães da Polícia
Militar Ambiental, Paulo Roberto de Oliveira,
da unidade de Sorocaba, e Fausto Maurício
Sanches, da unidade de Registro, que salientaram
a importância das bases para as ações
de fiscalização.
A música
ficou a cargo do acordeonista Leroy Amêndola
e do violinista Thiago Moura, que interpretaram
o Hino Nacional e várias outras músicas.
Em seguida, apresentou-se o Trio Mata Atlântica,
formado há cinco anos pelo violeiro e
sanfoneiro Maurício Soares, de 45 anos,
e pelo violonista Amantino Lopes, de 59 anos,
que trabalham respectivamente há 23 e
28 anos como ajudantes de serviços gerais
no Parque Estadual Carlos Botelho.
Completando o
trio, o cantor Nael Inácio Evangelista,
de 62 anos, dos quais 28 como guarda-parque
dessa unidade de conservação.
O repertório
passou por Tião Carreiro e Pardinho,
Peão Carreiro e Zé Paulo, Belmonte
e Maraí e outros. Mas depois de conquistar
o público cantando Chitãozinho
e Xororó, Encanto da Natureza e outras
músicas tipicamente “caipiras”, perdem
o constrangimento e apresentam suas próprias
composições como “São Miguel,
Capital da Uva Itália”, de Amantino e
Nael, que fala que “Lá no parque todas
as coisas são bonitas/nosso cartão
de visitas/é o Rio Taquaral”.
Maurício,
por sua vez, tanto na viola como no acordeão,
apresenta a valsa “Carlos Botelho” e o rasqueado
“Descendo a Serra”, números instrumentais
que mostram com nitidez a sua interação
com o meio em que vive.
É este
o lado que o diretor, em seus oito anos de trabalho,
fez questão de reforçar: o vínculo
da sociedade com o parque e as riquezas da natureza.
“A parceria só dá certo quando
há sinergia”, afirma Maia.
A música
continua, vez por outra, com o apoio da guitarra
de Oséas Muniz, de 31 anos, 12 trabalhando
no parque como ajudante de serviços gerais.
E no final os irmãos Daisy e Davidson
Xavier, que atuam em um projeto socioambiental
da unidade de conservação, cantaram
e tocaram números de música popular
brasileira.
Parcerias
Uma das parcerias
estabelecidas pela direção do
Parque Estadual Carlos Botelho envolve a Associação
Sócio-Ambiental Caapuã. O presidente
da ONG, o biólogo Célio Paulo
Ferreira, explica que o termo “caapuã”
significa “ser que habita as florestas”, personificado
pelo Curupira. A entidade desenvolve o Projeto
Floratlântica, iniciado em 2003, quando
implantou um viveiro com o trabalho de voluntários,
moradores do Bairro Abaitinga, produzindo hoje
cerca de dez mil mudas por ano.
O desdobramento
do projeto inicial, que levou à criação
da associação, beneficia um grupo
de 40 jovens da região, dos quais 12
são monitores, que atuam na recepção
aos turistas, e 28 voluntários. Uma das
preocupações da entidade é
promover a capacitação e conscientização
do grupo. Para isso promove palestras todos
os meses sobre questões como alcoolismo,
drogas e gravidez na adolescência, e oferece
cursos de capacitação na área
de informática, primeiros socorros em
áreas naturais, Inglês e outros.
O projeto conta
com o apoio da empresa Marquesa S.A., vinculada
à Fundação Orsa, que repassa
recursos para a ONG. Célio vê resultados
positivos no trabalho da entidade, despertando
nos jovens o interesse pelo estudo. “Quatro
voluntários prestaram vestibular este
ano e dois deles foram aprovados”, comemora.
Bruna Nogueira,
de 20 anos, é uma dos voluntários.
Está há dois anos no projeto e
quer estudar Psicologia. O projeto custeou um
curso no SENAC sobre recreação
em áreas naturais. Ela gosta disso: junto
com os monitores, ajuda no atendimento aos visitantes,
acompanhando especialmente as crianças
realizando trabalho de sensibilização,
fazendo-as caminharem sozinhas na trilha para
experimentar sensações como medo,
curiosidade ou aflição. E o que
você aprende com isso? A sua resposta
é efusiva: “Nossa! Um monte de coisas,
respeito ao animais, à natureza!”
Para a monitora
Daisy Xavier, também de 20 anos, a sua
experiência de dois anos no projeto a
fez descobrir que a natureza “não é
só mato”. “Descobri coisas interessantes,
a beleza da vegetação, os detalhes
de cada trilha, cada uma com as suas características”,
diz a jovem que pensa em estudar Biologia. O
mesmo ocorreu com o monitor Éverton Diego
Corrêa da Silva, de 18 anos, um dos mais
antigos participantes do projeto.
Éverton
passou no vestibular para Biologia, mas já
tem conhecimentos sobre as funções
de uma árvore, dos frutos ou das raízes.
Acompanhando os turistas na Trilha dos Fornos,
que é uma das suas preferidas, fala sobre
a necessidade de preservação do
ecossistema, conta a história dos fornos
de carvão em atividade até meados
da década de 1960 e ensina que é
preciso fazer silêncio para poder apreciar
os macacos pregos ou os bugios que costumam
encantar os visitantes. |