21/12/2005 - A ocorrência
de malária entre os 2.800 ianomamis
que vivem nos municípios amazonenses
de Barcelos e Santa Izabel do Rio Negro aumentou
de 388 casos, em 2004, para 723 casos neste
ano. O número de exames realizados
diminuiu de 23,6 mil para 20,9 mil. Os dados
são da Fundação Nacional
de Saúde (Funasa).
"A malária cresceu
porque faltam veneno para fazer a termonebulização
preventiva e medicamentos para curar os doentes",
denunciou Sílvio Cavuscens, coordenador
do Serviço e Cooperação
com o Povo Ianomami (Secoya), organização
não-governamental conveniada com a
Funasa que presta assistência aos índios
nos dois municípios.
A terra indígena
Ianomami foi homologada em 1992 e engloba
uma área de 9,6 mil hectares em Roraima
e no Amazonas, na fronteira com a Venezuela.
Quatro organizações conveniadas
com a Funasa (Secoya, Fundação
Universidade de Brasília, Instituto
Brasileiro pelo Desenvolvimento Sanitário
e Diocese de Roraima) e duas missões
(Missão Evangélica da Amazônia
e Missão Novas Tribos do Brasil) são
responsáveis pelo atendimento aos cerca
de 15 mil indígenas que vivem lá.
No restante do território
– excetuando Barcelos e Santa Izabel do Rio
Negro – a malária está sob controle:
passou de 1.259 casos, em 2004, para 787 casos,
neste ano. "Na região onde o Secoya
atua há grande presença de garimpeiros
e de moradores da Venezuela. A malária
está sendo importada de fora da terra
indígena", explicou o chefe substituto
do Distrito Sanitário Especial Indígena
(DSEI) Ianomami, José Gilvan de Moura,
funcionário da Funasa.
O Secoya possui 32 profissionais
de saúde (sendo que apenas dois deles
são médicos) e 30 agentes de
saúde indígena contratados para
prestar atendimento em 18 aldeias situadas
em regiões de difícil acesso,
próximo às cabeceiras dos rios
Marauiá, Padauiri, Demini e Aracá.
O transporte até lá precisa
ser feito de canoa motorizada (voadeiras).
"Há muitas corredeiras, a gente
navega por dois dias com os medicamentos em
caixa de isopor, no gelo, para não
estragar. Na seca, é ainda mais difícil
chegar. Enquanto Roraima contou com 400 horas-vôo
de helicóptero, nós do Amazonas
só tivemos 30", disse Cavuscens.
"Nas aldeias de Roraima
não dá para chegar pelo rio.
Em janeiro haverá a Conferência
Distrital, na qual debateremos questões
operacionais, como a distribuição
das horas-vôo", acrescentou Gilvan
Moura.
O Brasil tem 34 DSEIs –
o Ianomami foi o primeiro a ser criado, em
1999. "O modelo é bom, mas os
procedimentos administrativos estão
muito concentrados em Brasília, o que
causa atrasos e a inadequação
de algumas medidas à realidade local.
É preciso que o conselho distrital
e o chefe de distrito tenham mais autonomia,
inclusive financeira", defendeu Cavuscens.
O Conselho Distrital é formado por
representantes dos indígenas (metade
dos participantes), das organizações
conveniadas e do governo. Ele se reúne
pelo menos uma vez por semestre. "O conselho
é deliberativo, mas nem sempre há
verbas asseguradas para executar suas decisões,
disse.