21/12/2005
- A visita do presidente do Banco Mundial ao
Brasil motivou a realização da
sessão extraordinária do Fórum
Paulista de Mudanças Climáticas
Globais e de Biodiversidade, para discutir as
contribuições dos diferentes setores
que compõem o fórum presidido
pelo governador Geraldo Alckmin, que tem como
objetivo desenvolver políticas públicas
e estimular iniciativas do setor privado que
resultem na redução das emissões
de Carbono e na manutenção da
biodiversidade. Depois de passar pela Amazônia
e pelo semi-árido nordestino, Paul Wolfowitz,
que assumiu a presidência do Banco Mundial
há pouco mais de seis meses, declarou-se
impressionado com o potencial brasileiro para
contribuir com a redução das emissões
de carbono, através de alternativas energéticas
limpas e renováveis, como no caso do
uso do metanol como combustível para
os transportes e das hidrelétricas, que
geram a maior parte da energia consumida no
País. Por outro lado, Wolfowitz declarou-se
preocupado com o nível de desflorestamento
encontrado na Amazônia, “um tesouro, cuja
preservação interessa a todo o
planeta”.
Pedro
Calado  |
O
representante do Banco Mundial afirmou
que a experiência brasileira com
a produção do álcool
extraído da cana de açúcar
deve apresentar-se como uma alternativa
energética e econômica
para outros países do mundo,
principalmente os mais pobres e com
a maior parte da população
vivendo em áreas rurais. Segundo
ele esse é o caso de várias
nações africanas, onde
a extrema pobreza e a ausência
de alternativas faz com a maioria da
população se utilize de
formas rudimentares de produção
de energia, o que resulta na rápida
destruição dos recursos
e na progressão da miséria.
Ele afirmou que a missão do Banco
Mundial é estimular o desenvolvimento
de tecnologias que garantam o crescimento
sustentado e, para isso dispõe
de duas ferramentas, uma voltada para
as políticas |
públicas, como
é o caso do BIRD – Banco Interamericano
de Desenvolvimento e outra para financiar os
projetos privados de empreendimentos com compromisso
social, representada pelo IFC – Corporação
Financeira Internacional. Presente à
reunião, coordenada pelo secretário
executivo do fórum, Fabio Feldmann, o
atual secretário do Meio Ambiente do
Estado de São Paulo, professor José
Goldemberg, lembrou que o Banco Mundial tem
contribuído com vários projetos
que resultaram na recuperação
da cobertura vegetal e, consequentemente, ajudaram
na redução do efeito estufa, através
do seqüestro do carbono presente na atmosfera.
Ele citou o exemplo recente do Programa de Recuperação
das Matas Ciliares, no qual o Banco Mundial
participa com R$ 8 milhões de dólares
e que vem sendo implementado pela Secretaria
em diversas bacias hidrográfica, atingindo
cerca de 400 municípios paulistas.
A experiência com
a produção do etanol a partir
do cultivo da cana de açúcar
foi outro tema abordado por Goldemberg, como
um exemplo de ação eficaz contra
as mudanças climáticas globais.
Segundo o secretário do Meio Ambiente
a queima dos combustíveis fósseis
é responsável por 41% das emissões
de carbono no mundo, quadro que vem se revertendo
no Brasil, nos últimos 20 anos, período
em que o país se consolidou como o
maior produtor de etanol do mundo. “Atualmente
o Estado de São Paulo, com mais de
5 milhões de veículos só
na Região Metropolitana, consome 49%
de diesel, 16% de óleo combustível,
24% de gasolina e 11% de etanol, porcentagem
que deve continuar aumentando com os avanços
da tecnologia que vem tornando esse combustível
cada vez mais barato”.
A utilização
do álcool também foi destacada
por Geraldo Alckmin, ao lembrar que São
Paulo é o maior produtor do etanol
do mundo e que o Estado acaba de criar mais
um incentivo para seu uso como combustível,
ao reduzir pela metade ICMs do veículos
movidos a álcool, enquanto a alíquota
cobrada sobre os veículos a gasolina
continua em 25%. Alckmin salientou que além
de ser um combustível extraído
de fonte renovável, o álcool
também traz vantagens à saúde,
na medida em que emite menos monóxido
de carbono e que contribuiu para a eliminação
do chumbo tetraetila na gasolina.
Entre os diversos participantes
ao evento, destacaram-se as presenças
dos ex-ministros Celso Lafer, das Relações
Exteriores e José Carlos Ferreira,
do Meio Ambiente, assim como do embaixador
Rubens Barbosa, responsável pela criação
da bolsa de futuro para créditos de
carbono, que deverá ser lançada
pela BMF até meados do próximo
ano. O empresário Geraldo Moura, também
presente na reunião realizada nesta
terça-feira (20/12), no Palácio
dos Bandeirantes, do setor siderúrgico
contribuiu com mais um importante relato ao
presidente do Banco Mundial, ao lembrar de
outra importante fonte alternativa de energia
- o eucalipto, largamente utilizado na produção
do carvão vegetal que alimenta os fornos
para a produção de aço.
Segundo ele, como no caso
da cana de açúcar, esse é
o caso de alternativa duplamente eficaz na
redução dos gases de efeito
estufa, pois além de emitir menos CO2
que os combustíveis fósseis,
seu plantio em larga escala contribui para
o seqüestro do carbono lançado
na atmosfera.
Ainda em relação
à contribuição brasileira
para a redução do efeito estufa,
o professor Goldemberg apresentou dados demonstrando
que, só com a produção
do etanol, nos últimos 20 anos o Brasil
deixou de emitir 160 milhões de toneladas
de carbono para a atmosfera.
|