24/12/2005 - Um projeto
de manejo comunitário do camarão
iniciado com 30 famílias da Ilha das
Cinzas, em Gurupá (PA), aumentou a
renda média mensal delas de meio para
1,2 salário mínimo. Cada família
pescou, beneficiou e vendeu cerca de 1,32
tonelada de camarão de água
doce em 2005, com tamanho médio de
nove centímetros por animal. O preço
obtido por essas famílias pelo quilo
do camarão aumentou de R$ 0,80 em 2000
para R$ 3,00 neste ano.
"Tirar os camarões
menores e vender os maiores. Esse é
o segredo do sucesso", disse o técnico
da Federação de Órgãos
para Assistência Social e Educacional
(Fase), Carlos Augusto Ramos, em entrevista
ao quadro Meio Ambiente, que todas as sextas-feiras
é veiculado no programa Ponto de Encontro
, da Rádio Nacional da Amazônia
.
A iniciativa ganhou o prêmio
Tecnologia Social da Fundação
Banco do Brasil. Ela se baseia em um procedimento
desenvolvido pelos comunitários: os
camarões são pescados por meio
de armadilhas conhecidas como matapis, gaiolas
cilíndricas feitas de tala de juruti
(palmeira local). Depois da despesca, eles
ficam em um viveiro – uma caixa de madeira
colocada dentro do rio, com espaços
que possibilitam a saída dos camarões
menores. O tempo máximo que os camarões
podem ficar nos viveiros é de oito
dias, porque depois disso eles trocam a casca
e se comem uns aos outros. Por fim, o camarão
é beneficiado: sem cabeça nem
casca, ele é cozido durante cerca de
20 minutos em água com sal.
A experiência-piloto
foi iniciada em 1997 pela Fase-Gurupá.
Em 2002, recebeu apoio do Projeto Manejo dos
Recursos Naturais da Várzea (ProVárzea/Ibama)
- um subprograma do Programa Piloto para Proteção
das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7),
coordenado pelo Ministério do Meio
Ambiente e financiado com verba da cooperação
internacional. Neste ano, o ProVárzea/Ibama
lançou uma cartilha que conta de forma
didática, com ilustrações,
a história do projeto e ensina como
o manejo de camarão pode ser realizado.
A iniciativa está
sendo expandida para outras 120 famílias
que vivem em sete comunidades de Gurupá.
Associações de Abaetetuba, Igarapé-Mirim
e Cametá, no baixo rio Tocantins, também
no Pará, já demonstraram interesse
nela.
A Amazônia possui
23 espécies de camarões de água
doce, sendo três as mais exploradas
comercialmente. A poluição,
a pesca predatória e a destruição
das áreas de reprodução
(manguezais) vêm diminuindo a quantidade
e o tamanho dos camarões da região.
Isso é preocupante para quem vive da
pesca deles e para o equilíbrio do
ecossistema, porque os camarões são
considerados os "lixeiros da natureza"
(alimentam-se de restos de animais e vegetais).
"O manejo de camarões parte de
uma idéia bem simples: mais vale capturar
um camarão grande do que um punhado
de camarões pequenos. Para isso é
preciso deixar a ganância de lado e
pensar no rio como um grande viveiro, onde
nascem e crescem camarões todos os
dias", ensina a cartilha do ProVárzea/Ibama.
As famílias que participam
do projeto também recebem estímulo
à comercialização conjunta,
por meio de cooperativa, orientações
de como controlar os recursos financeiros
e aulas de educação ambiental.