Rico em biodiversidade,
parque é onde estão os remanescentes
de Mata Atlântica mais bem preservados
do Brasil
Existem atualmente no Brasil
poucos espécimes de mono-carvoeiros
ou muriquis, maior primata das Américas.
A população mais numerosa (avaliada
em cerca de 600 indivíduos) concentra-se
numa área de floresta nativa no sudeste
paulista. Esse local, rico em biodiversidade
e onde estão os remanescentes de Mata
Atlântica mais bem preservados do País,
é o Parque Estadual Carlos Botelho,
vinculado ao Instituto Florestal, da Secretaria
do Meio Ambiente. Verdadeiro oásis
ecológico, esse espaço conserva
espécies endêmicas (peculiares
ao local) e é um refúgio para
animais como a jacutinga, que servem de bio-indicadores,
atestando o nível de preservação
de determinado território.
Com uma área de 37.644 hectares, a
unidade de conservação ocupa
porções dos municípios
de São Miguel Arcanjo, Capão
Bonito, Tapiraí e Sete barras, entre
as regiões de Itapetininga e Registro,
no Vale do Ribeira. Por ano, recebe cerca
de 10 mil visitantes. A sede, na parte alta
do parque, a 800 metros de altitude, fica
a 30 quilômetros de São Miguel
Arcanjo e a 210 quilômetros da capital.
Na parte baixa da unidade, a 70 metros de
altitude, está o Núcleo Sete
Barras, próximo ao município
de homônimo e com características
diversas das encontradas na sede. A ligação
entre esses dois pólos se dá
por um trecho em terra da SP-139, também
conhecida por Estrada da Serra da Macaca e,
mais recentemente, por estrada-parque. Isso
porque a meta é adequá-la e
construir alguns equipamentos de lazer no
local, como mirantes, sinalização
educativa e centros de recepção,
para que se torne de fato uma estrada-parque.
A iniciativa faz parte do Projeto Ecoturismo
na Mata Atlântica, parceria do governo
do Estado com o Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID) – ver a seguir.
Para o diretor da unidade, José Luiz
Camargo Maia, o parque tem uma vocação
enorme para acolher pesquisas científicas
e pessoas sensíveis à biodiversidade.
Não é um local, por exemplo,
que tem esportes radicais, como algumas unidades.
“Tem um outro perfil: é mais a exuberância
da natureza, a biodiversidade, o clima ameno”,
afirma. O terreno inóspito é
um aspecto que contribuiu muito para a sua
preservação. “Temos grande atividade
na sede e no núcleo, mas no meio é
mata nativa, de difícil acesso.” Outra
característica é que não
apresenta problemas fundiários, ou
seja, pertence totalmente ao Estado e não
tem moradores.
Um de seus principais atrativos é a
Estrada da Serra da Macaca, utilizada inclusive
para romarias. Próximas ou na região
da sede, estão, por exemplo, as trilhas
da Represa, da Canela e do Rio Taquaral. No
Núcleo Sete Barras, ficam a trilha
da Figueira e a Cachoeira do Travessão.
Com o futuro Plano de Manejo, há previsão
de novos atrativos no parque. Um deles é
o passeio ao Pico da Pedra, com mil metros
de altitude, nas imediações
do núcleo. Outro é uma trilha
integrando os Parques Estaduais do Alto Ribeira
(Petar), Carlos Botelho e Intervales, prevista
no Projeto Ecoturismo na Mata Atlântica.
Centro de visitantes, mini-museu de zoologia,
alojamento para pesquisadores são algumas
das instalações da sede, juntamente
com o portal de entrada e uma base de vigilância.
Dependências praticamente similares
são encontradas no Núcleo Sete
Barras.
A riqueza da flora, com predominância
de Mata Atlântica primária, fez
com que o Programa Biota-Fapesp escolhesse
o Núcleo Sete Barras, além do
Parque Estadual da Ilha do Cardoso, para desenvolver
seus trabalhos. Há 120 estudos relativos
a espécies vegetais, integrantes desse
programa, em andamento no parque. O objetivo
do Biota, que tem o patrocínio da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (Fapesp), é inventariar e caracterizar
a biodiversidade paulista.
Esse ambiente praticamente intocado serve
de abrigo para animais ameaçados de
extinção, como a onça-pintada,
o mono-carvoeiro e a jacutinga, ave bem característica
do parque. Isso porque elas aparecem em bandos
no local na época de frutificação
do palmito juçara. A área mantém,
ainda, espécies endêmicas de
roedores, anuros (sapos, rãs e pererecas),
hidromedusas (cágados de água-doce)
e outros animais. Comuns também nesse
território são a anta, o cachorro-do-mato,
o macaco-prego, o bugio e a onça parda.
Toda essa biodiversidade, capaz de permitir
ao visitante avistar animais e espécies
vegetais, vem trazendo ao local observadores
de aves de países como Inglaterra,
Dinamarca e Holanda. Para facilitar essa presença,
o parque trabalha de forma integrada com outras
duas unidades, o Parque Estadual Intervales
e uma reserva particular, o Parque do Zizo.
Segundo Maia, trata-se de um público
que tem poder aquisitivo e bom nível
de consciência.
Criado em setembro de 1982, o parque é
resultado da unificação de quatro
reservas florestais (Carlos Botelho, Capão
Bonito, Travessão e Sete Barras) incrustadas
na Serra de Paranapiacaba e instituídas
em 1941. Junto com outras unidades da região,
o Carlos Botelho integra, desde 1991, a Zona
Núcleo da Reserva da Biosfera da Mata
Atlântica e, em novembro de 1999, foi
reconhecido pela Unesco como sítio
do Patrimônio Mundial Natural. O nome
Carlos Botelho é uma homenagem ao urologista
que foi secretário de Agricultura,
Viação e Obras Públicas
do Estado em 1904.
SERVIÇO
Parque Estadual Carlos Botelho
Funcionamento: todos os dias, das 9 às
16h
Informações: Tels. (15) 3279-1233/3379-4278
Paulo Henrique Andrade
Da Agência Imprensa Oficial
(BOX1)
Caminhadas, cavalgadas e romarias na Estrada
da Serra da Macaca
A Mata Atlântica praticamente
intocada nos arredores e os cenários
que proporciona ao longo do caminho tornam
a Estrada da Serra da Macaca um dos principais
atrativos do Parque Carlos Botelho. Criada
em 1940, ela compreende um trecho em terra
de 33 quilômetros da SP-139, rodovia
que liga São Miguel Arcanjo a Registro,
no Vale do Ribeira, num total de 100 quilômetros.
Para percorrê-la, é necessário
vencer 300 curvas e oito pontes datadas de
1939 e 1940.
Caminhadas, passeios de bicicleta e cavalgadas
são atividades comuns no local. Tradicionalmente,
a estrada também serve de rota para
os devotos de São Bom Jesus de Iguape,
que fazem um percurso de 180 quilômetros.
O músico Dudu Terra, foi um dos que
percebeu nesse segmento um filão a
ser explorado. Por meio da Andakunfé
Turismo e Aventura, ele e alguns companheiros
montaram uma estrutura em que o romeiro sai
de São Miguel Arcanjo com carro de
apoio, paradas predeterminadas e outras comodidades.
A caminhada ocorre na Semana Santa, mas a
meta é estendê-la para outras
duas épocas. “Achamos que, fazendo
mais vezes ao ano, isso vai despertar outros
produtos do parque, como caminhadas, trilhas,
principalmente com a instalação
da estrada-parque.”
Além dessas atividades, do próprio
contato com a natureza e da possibilidade
de avistar animais, a via que corta o parque
reserva pontos de interesse ao visitante.
A cachoeira Água da Vaca inclui-se
entre os atrativos cênicos. Na bica
Pedro Tanaka, a curiosidade fica por conta
do episódio histórico ali ocorrido.
O guerrilheiro e ex-capitão Carlos
Lamarca, que se refugiou e foi perseguido
na região durante a ditadura militar,
teria interceptado nesse lugar um caminhão
do Exército (onde estaria o soldado
Pedro Tanaka) e, usando as roupas do militar,
fugido para São Paulo. Outros pontos
são o Rancho do DER, área de
descanso com quiosques e alguns mirantes.
Para melhorar as condições da
via, o governo estadual liberou recursos destinado
à recuperação das encostas
e para conter as erosões. Além
disso, a partir de 2006, começa a construção
na estrada de dois mirantes, dois quiosques
e outras instalações. As benfeitorias
fazem parte do Projeto Ecoturismo na Mata
Atlântica, que prevê, ainda, a
revitalização de edificações
e equipamentos no Núcleo Sete Barras
e a construção no local de centro
de recepção, estacionamento,
banheiros e outras dependências. O programa
também compreende levantamento de atrativos
do parque, plano de monitoramento dos impactos
da visitação e demais estudos.
Situadas estrategicamente na sede (km 78 da
SP-139) e no Núcleo Sete Barras (km
45), estão duas bases de vigilância,
inauguradas recentemente. As instalações,
construídas por meio de parceria com
o banco alemão KFW, como parte do Programa
de Preservação da Mata Atlântica
(PPMA), integram o projeto de fiscalização
do parque. São equipamentos que ajudam
na tarefa de inibir a ação de
coletores ilegais de palmitos e caçadores.
As bases dispõem de quartos, banheiros
e outras dependências e servem para
abrigar os 13 vigias do parque e os membros
dos três pelotões da Polícia
Ambiental (de Sorocaba, Itapetininga e Registro)
em suas operações na região.
Ainda como parte do projeto de fiscalização,
o Instituto Florestal vai instalar em breve
um sistema radiocomunicação
nos dois portais da unidade de conservação.
(BOX2)
Trabalho integrado com as populações
vizinhas
A integração
com as prefeituras e populações
vizinhas é uma das principais atividades
realizadas pelo Parque Carlos Botelho. Por
iniciativa da unidade, foi criado, por exemplo,
o Conselho Municipal de Turismo de São
Miguel Arcanjo, que passou a mostrar que a
localidade podia se desenvolver de maneira
planejada, gerando empregos por meio do turismo.
Outro órgão instituído
foi o Conselho de Defesa do Meio Ambiente
que, junto com o Departamento de Ensino da
Prefeitura de São Miguel, introduziu
a disciplina de Educação Ambiental
nas escolas locais.
Dentro desse princípio de interação,
nasceram, também, projetos como o Floratlântica.
“A idéia era montar um viveiro de plantas
nativas no parque com voluntários do
entorno, basicamente adolescentes, mas a iniciativa
acabou tendo desdobramentos”, relata o biólogo
Célio Paulo Ferreira, coordenador do
projeto. Isso desencadeou a formação
de monitores ambientais, por meio de um programa
de capacitação continuada. Além
de conteúdo voltado para essa atividade,
os participantes têm palestras (sobre
primeiros socorros e uso de drogas, entre
outras), aulas e orientações.
O projeto, com parceria da ONG Caapuã
e apoio da empresa Marquesa S.A., engloba
ainda a produção de camiseta
e artesanatos. Atualmente, são 12 monitores
(que ganham com esse trabalho) e cerca de
30 voluntários. Orientação
vocacional e encaminhamento social são
alguns dos objetivos das atividades. Outros
trabalhos de integração com
a região são a produção
de mudas de palmitos com a Associação
do Desenvolvimento do Bairro do Rio Preto,
em Sete Barras, e o Projeto Terceira Idade.
O primeiro tem por objetivo a geração
de renda. Coordenado pela funcionária
da unidade Elsa Fogaça Gomes, o segundo
consiste em trazer o público da terceira
idade para conhecer o parque.
Outra atividade de peso realizada na unidade
são as pesquisas científicas.
E, nesse segmento, um dos trabalhos de destaque
é o Projeto Muriqui-do-Sul, desenvolvido
pela Associação Pró-Muriqui
em parceria com universidades e institutos
de pesquisa, nacionais e internacionais, dentre
os quais o Instituto Florestal e Universidade
de Cambridge, na Inglaterra.