06-01-2006
- Foi publicado na Gazeta Mercantil no último
dia 3 artigo intitulado “Triunfo do Programa Nuclear
Brasileiro”, de autoria do presidente da Câmara
dos Deputados, Aldo Rebelo.
Em seu artigo, o deputado faz
a idolatria do uso militar e civil da energia nuclear
embasado nos argumentos usados durante a ditadura
militar dos anos 70. O deputado defende que o País
jogue fora centenas de milhões de reais de
nossos recursos públicos no desenvolvimento
de submarinos nucleares que são equipamentos
comumente utilizados para espionagem e ataques surpresa.
Rebelo louva o fato de um submarino atômico
poder ficar três anos submerso. Resta saber
qual a tripulação que permanecerá
três anos submersa e quantos submarinos poderiam
ser fabricados com os mesmos recursos que já
foram aplicados e que ainda são necessários
para completar a construção do submarino
atômico brasileiro.
O deputado apóia ainda
que outros bilhões sejam desperdiçados
na fabricação de combustível
nuclear e na construção da usina nuclear
de Angra 3. Só falta ao presidente da Câmara
defender a reabertura do buraco da Serra do Cachimbo
para testes da nossa nova bomba nuclear verde-amarela
para, quem sabe, ser utilizada nos novos submarinos
nucleares.
Ficamos imaginando que país
é este de que o deputado Aldo fala. Certamente
não é o Brasil que nós conhecemos.
Um Brasil carente de recursos para educação
e saúde, que poderia utilizar os bilhões
de reais gastos com o Programa Nuclear Brasileiro
em novas escolas e hospitais. Um Brasil com enormes
desafios ambientais, cujo governo, que tem demonstrado
total incompetência para gerir seu incrível
patrimônio natural, provavelmente não
será mais eficiente em relação
ao gerenciamento de seu lixo nuclear. Um país
com forte tradição diplomática
para as negociações internacionais
e, mais que tudo, com um povo extremamente compromissado
com a paz.
As idéias defendidas pelo
nosso presidente da Câmara dos Deputados estão
completamente defasadas e demonstram que ele ignora
que mais de 82% dos brasileiros são contra
a construção de novas usinas atômicas.
O Programa Nuclear, incondicionalmente
apoiado pelo deputado Aldo Rebelo, é extremamente
caro e já consumiu bilhões de dólares
em recursos públicos, sem mostrar para a
sociedade brasileira nenhum benefício. Só
as usinas nucleares de Angra 1 e Angra 2 custaram
cerca de US$ 20 bilhões e produzem menos
de 2% da energia nacional. Quando se fala em produção
energética, sempre é bom lembrar que
Angra 1 foi apelidada de “vaga-lume” por seus freqüentes
desligamentos. A propósito, Angra 2 parou
de gerar energia em 25 de novembro último
e ainda não voltou a operar.
O lixo radioativo é ignorado
pelo presidente da Câmara, mas é uma
conseqüência obrigatória dos reatores
nucleares assim como o risco de graves acidentes.
Chernobyl (Ucrânia, 1986) e Three-Mile Island
(Estados Unidos, 1979) provaram que essa é
uma possibilidade real. No Brasil, o episódio
do Césio-137 em Goiânia mostrou que
as autoridades brasileiras não estão
preparadas para lidar com uma situação
de emergência.
Países como a Alemanha,
Suécia, Espanha e Cuba repensam suas políticas
energéticas e abandonam a cara opção
atômica. O Brasil pode ou retornar ao passado
com o discurso militarista defendido pelo deputado
Aldo ou assumir a dianteira no cenário mundial
desenvolvendo e produzindo energias limpas e seguras
como a solar e a eólica.
Desperdiçar bilhões
em energia nuclear como defende o presidente da
Câmara com seus velhos argumentos da época
da ditadura é retroceder décadas.
Desenvolvimento é andar para a frente. O
Brasil triunfará quando o Congresso e o Poder
Executivo olharem para o futuro e trabalharem por
educação, saúde e energia positiva.
Guilherme Leonardi
Coordenador da Campanha Antinuclear do Greenpeace