03/01/2006
– A Polícia Civil de Rondônia ainda
não começou as investigações
sobre a morte do presidente da Associação
de Seringueiros do Vale do Anari (Asva), João
Batista, assassinado em 26 de dezembro. "Estamos
a 70 quilômetros de Vale do Anari e temos
só uma viatura, que está quebrada.
Ela irá para conserto em Porto Velho amanhã
e deve retornar na sexta-feira", justificou
o delegado Lobo, responsável pela delegacia
de Machadinho D’Oeste, que cobre também a
área de Vale do Anari, onde ocorreu o crime.
Para a Organização
dos Seringueiros de Rondônia (OSR), que reúne
dez associações extrativistas do estado,
o crime foi político. "O Batista era
uma grande liderança, que prestava serviço
à comunidade e estava trabalhando na liberação
do plano de manejo da reserva extrativista do Acariquara",
contou Geraldo Menezes, vice-presidente da OSR e
secretário-geral do Conselho Nacional de
Seringueiros (CNS). "A reserva é rica
em madeira de lei nobre, cedro e ipê. A terra
é muito fértil e há presença
de minérios, como o manganês. O Batista
vinha denunciando a invasão de grileiros,
o roubo de madeiras e as tentativas de mineração",
completou.
Segundo o presidente da Associação
de Moradores da Reserva Extrativista Rio Preto Jacundá
(Asmorex), Antônio Teixeira, fazia tempo que
Batista estava amedrontado. Ele disse ainda que
vizinhos de Batista ouviram disparo de tiros por
volta das 22 horas do dia 26 – e, no dia seguinte,
encontraram o seringueiro morto em sua casa, só
de cuecas. "Quem o matou devia ser conhecido
dele. Além dos garimpeiros, madeireiros e
grileiros, o Batista tinha conflitos com a própria
família", avaliou Teixeira. "Ainda
que o crime não tenha sido político,
ele nos deixa com medo, porque é mais um
para a lista dos casos impunes".
A Reserva Extrativista (Resex)
do Acariquara é uma unidade de conservação
estadual, criada em 1995. Nela vivem cerca de 47
famílias, em uma área de pouco mais
de 10 mil hectares, no município de Vale
do Anari (RO). Batista trabalhava na reserva, mas
morava em uma área de regularização
fundiária do Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (Incra), conhecida como
Linha de Escoamento 74.
De acordo com Menezes, há
cerca de três meses outro seringueiro da região
foi assassinado, dentro da reserva. "Os grileiros
tentaram comprar a terra do Carlos Góes,
que morava há mais de 25 anos na área.
Ele não vendeu. Pouco tempo depois foi morto
a facadas e incendiado junto com seu barraco",
lembrou. "Até agora as investigações
não avançaram", completou Menezes.
O delegado Lobo declarou à Radiobrás
que não lembrava detalhes desse crime e pediu
mais tempo para pesquisá-los.
"A culpa por todas essas
mortes é do governo estadual, que não
tem interesse nas reservas extrativistas e só
se preocupa com o agronegócio", acusou
Menezes. "Essa acusação é
um absurdo. O governo de Rondônia, como em
qualquer outro estado do país, tem dificuldades
com a segurança. Nossa área é
muito grande e a infra-estrutura é precária.
Fazemos o que podemos, dentro das nossas condições,
mas não somos omissos", defendeu o diretor
de comunicação do governo, Sérgio
Pires.
Uma mensagem da OSR enviada à
lista de discussão da Rede Grupo de Trabalho
Amazônico (Rede GTA) – que reúne mais
de 600 associações e sindicatos da
Amazônia – informava que em setembro Batista
esteve em Brasília, onde se reuniu com a
ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. "A
comitiva entregou documentos que denunciavam a violência
e a impunidade dos crimes em Rondônia. Também
pediu apoio do governo federal para as reservas
extrativistas estaduais, que estão abandonadas",
detalhou Teixeira, que também participou
do encontro.