02/01/2006
– As condições precárias no
acampamento dos índios guarani-kaiowá
em Mato Grosso do Sul colocam em risco a vida das
crianças da tribo, na opinião do coordenador
regional da Fundação Nacional do Índio
(Funai), Odenir Oliveira. Segundo ele, vários
casos de desidratação e diarréia
já foram registrados. Há 18 dias,
cerca de 400 Guarani-Kaiowá estão
acampados na estrada que liga os municípios
de Bela Vista e Antônio João, a cerca
de 350 quilômetros de Campo Grande. Em 15
de dezembro, por ordem judicial, eles foram despejados
da terra homologada em favor da tribo.
"Desde o despejo, duas crianças
já morreram. No acampamento, os índios
estão sujeitos a condições
desumanas de vida, o calor é intenso e água,
quente. A situação é preocupante",
alerta Oliveira. "Já foram entregues
cestas básicas e as equipes da Fundação
Nacional de Saúde Funasa baseadas nos municípios
próximos ao acampamento estão prestando
assistência diária. Ainda assim, o
risco de novas mortes existe."
O líder indígena
Isaías Sanches Martins conta que uma das
crianças morreu ao nascer, no dia em que
a tribo foi despejada da terra Nhande Ru Marangatu,
porque a mãe, assustada com a ação
de retirada, caiu e bateu com a barriga no chão.
A índia estava grávida de seis meses.
No dia 19 de dezembro, outra criança guarani-kaiowá
morreu, desta vez no acampamento.
"Era uma menina de 2 anos.
Ela ficou assustada com o despejo. Passou fome durante
a montagem do acampamento e tomou água quente.
Teve muita diarréia e morreu em conseqüência
da desidratação", conta Martins.
Segundo ele, na tentativa de melhorar as condições
do acampamento, nos últimos dias, os índios
passaram a se dedicar à construção
de barracas de madeira, forradas com folhas de árvores
de Bacuri. A intenção é proteger
as famílias da chuva e do vento.
Em abril de 2005, cerca de 20
crianças indígenas morreram na região
de Dourados (MS), em decorrência de desnutrição.
Em relatório lançado no ano passado,
os técnicos das Funasa ressaltaram que a
desnutrição é um reflexo da
falta de terras para os índios e dos problemas
sociais que decorrem desse "confinamento"
em áreas insuficientes para a sobrevivência
indígena.