01/01/2006
– Mesmo com a aplicação do licenciamento
ambiental, o especialista em peixes, Flávio
Lima, do Museu de Zoologia da Universidade de São
Paulo, não descarta a possibilidade de impactos
ambientais na instalação de projetos
de infra-estrutura. Por isso, ele alerta para a
necessidade de estudos de impacto ambiental cada
vez mais rigorosos antes da construção
de um novo empreendimento. Em entrevista à
Agência Brasil, Lima se afirmou preocupado
com a construção de seis usinas hidrelétricas
no país, conforme anunciou esta semana a
ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Duas das usinas integram o complexo
do Rio Madeira e têm, juntas, capacidade de
produzir 6.450 megawatts (MW). Segundo a ministra,
outras quatro – Dardanelos (MT), Mauá (PR),
Cambuci (RJ) e Barra do Pomba (RJ) – devem participar
do próximo leilão. Elas ficaram de
fora da última licitação, em
dezembro do ano passado, porque não obtiveram
licença ambiental a tempo.
Apesar de serem parte das necessidades
de infra-estrutura do país, Lima observou
que as novas hidrelétricas vão causar
forte impacto ambiental, em especial no ecossistema
aquático. "Não podemos continuar
com essa mentalidade de que se a gente fizer a licitação
ambiental para construir um empreendimento está
resolvido o problema, que não haverá
impactos para o meio ambiente. Isso é uma
mentira", afirmou ele.
Quanto à construção
das hidrelétricas no Rio Madeira, o especialista
destacou ainda que a tendência é que
elas tenham vida útil encurtada, por causa
da grande quantidade de sedimentos existentes na
bacia. "Muitas vezes é vendida a idéia
de que as hidrelétricas podem nos fornecer
energia atemporal, o que não é verdade.
As hidrelétricas tem vida média: quanto
mais sedimento houver em um rio, menor a durabilidade
delas", observou Flávio Lima.
O Rio Madeira, principal afluente
do Rio Amazonas, tem 1.700 quilômetros de
extensão em território brasileiro
e vazão média de 23.000 metros cúbicos
por segundo. É formado pelos rios Guaporé,
Mamoré e Beni, originários dos planaltos
andinos, e apresenta dois trechos distintos em seu
curso, denominados Alto e Baixo Madeira.
O volume de energia do complexo
do Rio Madeira deve gerar 6.450 megawatts. Isso
representa pouco mais da metade da potência
da usina hidrelétrica de Itaipu, a maior
do mundo em operação, que é
de 12.600 megawatts.