02/01/2006 - Todos os olhos
estão voltados para a Amazônia, mas,
grande parte das informações que podem
ser retiradas dessa observação, com
a ajuda de imagens e mapas sensíveis gerados
por satélites e radares, ainda são
pouco exploradas no Brasil. A boa notícia,
porém, é que hoje se pode fazer quase
tudo com a ajuda do sensoriamento remoto: desde
a contagem de espécies de algas distribuídas
na região ao controle de focos da malária,
passando pelo acompanhamento, em tempo real, de
hábitos de peixes-boi.
O assunto foi o tema da mesa redonda
Observação da Amazônia por Satélite,
durante no 1º Congresso Internacional do Programa
Piatam (Potenciais Impactos e Riscos Ambientais
da Indústria do Petróleo e Gás
no Amazonas), ocorrido em Manaus (AM), de 11 a 15
deste mês. No debate, os especialistas Pedro
Walfir, da Universidade Federal do Pará (UFPA)
e coordenador do projeto Piatam mar (Potenciais
Impactos Ambientais no Transporte de Petróleo
e Derivados na Zona Costeira Amazônica), Edgar
da Silva Filho, do Sistema de Proteção
da Amazônia (Sipam), Venerando Amaro, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e Evlyn Morais,
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe),
instituição vinculada ao Ministério
da Ciência e Tecnologia (MCT).
Lacunas
"Temos hoje cerca de 7,8 milhões de
quilômetros quadrados de vazio cartográfico
sobre a Amazônia. O governo precisa de imagens
para monitoramento ambiental, vigilância territorial
e defesa. A criação de um sistema
único de compartilhamento economizaria muito
a compra de imagens", alerta Edgar Filho, do
Centro Gestor e Operacional do Sipam.
Em funcionamento desde 2003, como
resultado do projeto Sivam (Sistema de Vigilância
da Amazônia), o Sipam colabora com diversos
órgãos governamentais e instituições
de pesquisa, através da ação
de três aviões, uma central de processamento
de imagens em Manaus, dez radares meteorológicos
espalhados pela Amazônia Brasileira e duas
estações receptoras, em Brasília
(DF) e Manaus, que adquirem imagens de fontes de
satélites como o Spots e Radarsat.
Com a Universidade Federal de
Goiás (UFG) e Embrapa, o Sipam está
criando um Sistema Integrado de Alerta de Desmatamento.
Com o Inpe, Exército brasileiro, Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
e o Comando Regional de Polícia Militar (CPRM),
luta pelo projeto Radam II, que objetiva levantar
imagens de toda a Amazônia Legal, ou de, pelo
menos, quatro milhões de quilômetros
quadrados. Isso ampliaria a ação do
sistema, que vem atuando em monitoramento em áreas
de garimpo e desmatamento, pistas ilegais de pouso
e outras – o Sipam auxiliou recentemente os casos
dos ataques de morcegos na cidade de Portel, no
nordeste paraense, e a crise do assassinato da missionária
Dorothy Stang, em Anapu, na região da Terra
do Meio, também no Pará.
Satélite desvenda hábitos
do peixe-boi
"Aliando imagens de satélite a coletas
locais, podemos mapear a distribuição
de gêneros de plantas aquáticas. Hoje,
até um mapa de suscetibilidade à malária
já é possível", afirma
Evlyn Morais, da Divisão de Sensoriamento
Remoto do Inpe, lembrando que a tecnologia espacial
pode contribuir muito para o entendimento de processos
que precisem não apenas de imagens, mas também
de monitoramento constante ao longo de curtos espaços
de tempo e com grande variação geográfica.
Um bom exemplo vem de pesquisa
do Instituto Mamirauá/MCT, no Amazonas. Com
ajuda do Inpe, oito peixes-boi monitorados por telemetria
vêm revelando dados valiosos sobre hábitos
da espécie - como a migração
de até 150 quilômetros em busca de
alimentos, entre as áreas de terra firme
e planície, ao sabor das cheias e vazantes.
"Hoje pode-se medir a dimensão
do pulso de alagações em áreas
amazônicas, que podem chegar a um milhão
de quilômetros quadrados e são de difícil
acesso. Além disso, bóias capazes
de transmitir aferições locais ajudam
hoje a calibrar imagens de satélite, através
de dados simples como a turbidez das águas,
intensidade de ventos e a concentração
de clorofila", comemora a pesquisadora do Inpe.
Águas
Outro exemplo da ajuda de imagens de satélite
na pesquisa vem do litoral do Rio Grande do Norte,
onde imagens Landsat estão mostrando vestígios
de velhas linhas de praia, submersas 30 quilômetros
mar adentro ao longo de centenas de anos de ação
natural. Esse é um dos resultados da rede
de pesquisa coordenada por Venerando Amaro, da UFRN,
que entre outras coisas está traçando
mapas para monitoramento ambiental e do desgaste
da plataforma continental da área da Costa
Branca, uma das mais ricas e ao mesmo tempo mais
críticas do litoral potiguar, justamente
pela concentração de pontos de exploração
petrolífera.
"O entendimento do processo
erosivo entre a Ponta do Tubarão e a Barra
do Corta Cachorro é fundamental, pois a ação
de ondas, ventos e marés expõe tubulações
que há 15 anos estavam a um metro de profundidade",
lembra Amaro.